“Fez a fatura baixar muito para os doentes e para o SNS”
RUI NOGUEIRA Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
Em 2003 a quota de genéricos era de 3,4%. Agora é de 47,4%. Que balanço faz do uso de genéricos em Portugal? Foi uma evolução muito significativa: fez a fatura dos medicamentos baixar muito para os doentes e para o SNS. É um balanço muito positivo económico e de disponibilidade para os doentes, que hoje gastam muito menos. Mas trouxe desafios novos. Confrontamo-nos com uma maior necessidade de controlar o que os doentes estão a tomar. Por vezes, tomam dois medicamentos iguais. Os nomes [das substâncias ativas] são mais difíceis de fixar, as caixas são diferentes de acordo com o fabricante e, tendo em conta a iliteracia, as pessoas baralham-se. Quando prescrevemos usamos a denominação comum internacional [DCI] e na farmácia podem dar uma embalagem de um fabricante ou de outro, o que leva à confusão. É um problema que vamos resolvendo com maior acuidade do cumprimento da medicação e com a ajuda dos farmacêuticos. Inicialmente havia muita desconfiança dos utentes e dos médicos? Sem dúvida que sim. Atenuou-se, mas não deixou de existir. Ainda há doentes que pedem para não prescrevermos genéricos porque desconfiam dos preços tão baixos. Podemos fazer a leitura ao contrário: como é que os outros os vendem tão caros. É claro que tem que ver com a recuperação do investimento que fizeram na investigação. As pessoas estão mais informadas e sentem mais segurança. Quando um utente tem dúvidas, o que explica? Os medicamentos são todos controlados. Os laboratórios mais conhecidos tornam-se mais credíveis. Acabamos por dizer para comprar sempre do mesmo laboratório e dos que são mais conhecidos. Há genéricos que não trazem vantagem em termos de preço: a vantagem tem que ver com a duração do tratamento. Há genéricos que são mais caros do que os de marca. Tem que ver com decisões comerciais. A.M.