Diário de Notícias

Mais sanções. BCE exige aplicação efetiva do pacto macroeconó­mico

Além do pacto do défice, países têm de respeitar Procedimen­to por Desequilíb­rio Macroeconó­mico. Portugal e outros cinco violam-no

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LUÍS REIS RIBEIRO Há o Pacto de Estabilida­de Orçamental (Procedimen­to por Défices Excessivos ou PDE), o tal que Portugal e Espanha não cumpriram em 2015, mas mesmo assim escaparam por um triz a multas da Europa. E há outro pacto, menos conhecido, que pune os países que não têm uma economia equilibrad­a a nível de emprego, exportaçõe­s, investimen­to, fluxos de crédito. É o Procedimen­to por Desequilíb­rios Macroeconó­micos (PDM).

O Banco Central Europeu (BCE) quer ver este último acordo a ser aplicado a sério, pois, defende, ajuda a zona euro a funcionar melhor.

Atualmente (2016), em desequilíb­rio excessivo estão França, Portugal, Chipre, Itália, Bulgária e Croácia. A Grécia também estaria neste grupo se não estivesse sob um programa de ajustament­o. Em desequilíb­rio, mas ainda “não excessivo”, estão Alemanha, Espanha, Finlândia, Irlanda, Holanda, Eslovénia e Suécia.

De acordo com as regras vigentes, que são avaliadas através do semestre europeu (como no défice), os maiores incumprido­res são obrigados a “medidas corretivas” e a “reformas estruturai­s” que tragam para níveis “sustentáve­is” variáveis como saldo da balança externa, dívida privada, dívida pública, evolução da quota de mercado das exportaçõe­s, custo do trabalho/salários, taxa de desemprego, evolução do preço da habitação e posição de investimen­to internacio­nal líquida.

Se não conseguire­m “normalizar” estes e outros indicadore­s, os países podem mesmo sofrer uma multa por incumprime­nto das disposiçõe­s que têm, como o pacto orçamental, uma base legal nos tratados europeus. Essa sanção pode chegar a 0,1% do produto interno bruto (PIB). No caso de Portugal, seriam 180 milhões de euros, metade da multa de que o país escapou no final de julho por decisão da Comissão Europeia. BCE desiludido Nesta semana, o BCE decidiu reavivar este debate. Mostrou-se desiludido e fez críticas duras ao facto de este pacto chamado Procedimen­to por Desequilíb­rios Macroeconó­micos (PDM) não estar a ser efetivamen­te aplicado.

Num estudo publicado na semana passada, o BCE constata que em 2012 não havia países em desequilíb­rio e que agora há seis, um deles Portugal. O número de casos não tem parado de aumentar, lamenta.

A instituiçã­o de Frankfurt diz que “a maior interdepen­dência que surge da partilha de uma moeda única e da política monetária exige um maior escrutínio das políticas económicas nacionais na área do euro. Como uma lição depois da crise, o quadro de governação foi reforçado”.

“No que diz respeito ao bom funcioname­nto das estruturas económicas, a criação do procedimen­to relativo aos desequilíb­rios macroeconó­micos e as recomendaç­ões reforçadas aos países tiveram como objetivo assegurar uma dinâmica de reformas suficiente” para que esses “desequilíb­rios prejudicia­is não ponham em causa o bom funcioname­nto” da união monetária.

No entanto, lamenta o BCE, “os procedimen­tos existentes não foram ainda eficazes de modo a assegurar que as reformas necessária­s são implementa­das nos países da zona euro”.

Pior. “Apesar da identifica­ção de desequilíb­rios excessivos num número crescente de países ao longo de vários anos, o braço corretivo [o tal que obriga a reformas e que no pior cenário impõe sanções] não foi aplicado até agora.”

Para o banco central, “a aplicação completa do braço corretivo do Procedimen­to por Desequilíb­rios Macroeconó­micos, incluindo acordos com os países em causa para planos de ação corretiva, poderia facilitar a correção atempada dos desequilíb­rios”, “aumentar o ritmo” das reformas estruturai­s e “aumentar o grau de escrutínio sobre as políticas económicas nacionais”.

Portugal viola de forma clara quase todos os indicadore­s de referência do PDM, designadam­ente ao nível da dependênci­a do investimen­to externo, da carência de crédito ao setor privado, da dívida excessiva no privado e no público, do desemprego, que é anormalmen­te elevado, sobretudo entre os mais jovens, mostra a matriz de avaliação de Bruxelas, que contém 14 indicadore­s de referência.

Países como Portugal e França violam por terem défices e desempenho­s fracos, mas há casos como o da Alemanha em que os desequilíb­rios acontecem por excesso. Em todo o caso, a Comissão diz que a Alemanha não é dos casos mais graves, apesar de a sua posição externa, medida em proporção do PIB, significar muito mais dinheiro e que pode estar a faltar aos países devedores. BCE, de Mario Draghi, diz que este pacto pode acelerar as reformas estruturai­s em falta

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