Entre assalto da AfD, desafio da CSU e ameaça terrorista: Merkel à procura do quarto mandato
Popularidade da chanceler alemã caiu 12 pontos entre julho e agosto, situando-se nos 47%, segundo a última sondagem da ARD. As próximas eleições estão previstas para o outono de 2017 e Merkel quer igualar recorde de Kohl
HELENA TECEDEIRO
Cinco incidentes violentos em duas semanas, dois deles reivindicados pelo Estado Islâmico e outros dois realizados por jovens refugiados. Ao todo, 15 mortos e dezenas de feridos. Perante este cenário, não espanta que a popularidade de Angela Merkel tenha caído 12 pontos em relação a julho, situando-se nos 47%, segundo a última sondagem ARD. Em abril de 2015, antes da crise dos refugiados, era de 75%. Apesar das críticas, em final de julho a chanceler garantiu que vai prosseguir a sua política de portas abertas, reafirmando o “conseguimos fazê-lo” que dissera no ano passado, quando a Alemanha recebia dez mil refugiados por dia.
Com eleições previstas para o outono de 2017, a chanceler cristã-democrata continua firme, mas não escapa aos ataques. A começar pelos da CSU, a irmã bávara da sua CDU, que tem sido muito dura nas críticas à sua política de imigração. “O terrorismo islâmico chegou à Alemanha”, alertava há dias Horst Seehofer, o líder da CSU, exigindo “mais segurança”. Segundo ele, as pessoas estão “cheias de medo. Precisam de respostas dos políticos, não de debates intermináveis e justificações”. A Baviera foi palco de três dos cinco últimos ataques, além de ser o estado por onde entram mais refugiados na Alemanha. Dos autores dos últimos ataques, dois eram requerentes de asilo – um sírio e um afegão.
No pico da crise dos refugiados – em 2015 entraram na Alemanha 1,1 milhões –, a popularidade de Merkel atingiu mínimos históricos, com analistas a questionarem a inevitabilidade de um quarto mandato da mulher que chegou ao poder em 2005. Mas, depois da vitória do brexit no referendo de 23 de junho sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, Merkel voltara a subir nas sondagens. Agora esta onda de ataques pode pôr tudo em causa.
Também a Alternativa para a Alemanha (AfD, o partido criado como antieuro, mas que agora se assume como anti-imigração e anti-islão) não tem poupado Merkel. A formação de Frauke Petry, que em março entrou nos parlamentos de três estados e chegou a 15% de intenções de voto a nível nacional, garante que as políticas de imigração da chanceler põem em risco a ordem e a segurança do país. E garante que representam mesmo a maior ameaça à Alemanha e à Europa desde a Guerra Fria. Palavras duras, pouco mais de um ano depois de Merkel ter sido aplaudida como uma líder humanitária e de os alemães receberem os refugiados com presentes nas estações de comboio.
Líder forte da União Europeia, a mulher à frente da primeira economia do continente tem também desafios externos. Passada a crise grega, os europeus têm agora de gerir o brexit. Quanto aos refugiados, Merkel precisa do apoio da Turquia, com a qual Bruxelas assinou um acordo em março para travar a entrada de migrantes, sobretudo vindos da Síria, em troca do fim da necessidade de vistos para os turcos e do avanço nas negociações de adesão. Mas o pós-tentativa de golpe de dia 15 contra o presidente Recep Erdogan, com purgas e detenções, veio entravar o processo.
Em maio, dois terços dos alemães diziam não querer que Merkel se recandidatasse. Mas sem um adversário óbvio à vista, e com a CDU e os sociais-democratas do SPD (aliados no governo) a manterem nas sondagens os valores de 2012, o mais provável neste momento é que a Mädchen (a Rapariga), como Helmut Kohl lhe chamava, iguale o seu mentor ao chegar ao quarto mandato.