Diário de Notícias

Trocar pins. Um novo desporto olímpico

Os colecionad­ores estão por todo o lado no Parque Olímpico. Há quem já tenha no seu espólio mais de 26 mil diferentes

- PEDRO SEQUEIRA

Bud Kling é o colecionad­or de pins por excelência, sempre atento a uma oportunida­de. Abordado no Parque Olímpico por uma jornalista da Bielorrúss­ia para uma entrevista, foi rápido a sugerir uma troca, apontando para o casaco da interlocut­ora. Contudo, o negócio não avança.“Afinal, era só um botão”, ri-se Bud, antes de começar a falar para a câmara de televisão. Desta vez, o norte-americano de 69 anos não conseguiu somar mais um pin à sua vasta coleção pessoal, que já vai em mais de 26 mil pins, fora os que tem para trocar. Mas não vão faltar oportunida­des.

A troca de pins é uma das principais atividades de lazer junto ao Parque Olímpico da Barra e nem os atletas escapam – um exemplo é Fernando Fonseca, jovem futebolist­a olímpico que já trocou os 25 nacionais que lhe foram entregues. O próprio Comité Olímpico Internacio­nal (COI) tem há muito este passatempo no seu radar, tendo criado uma comissão de colecionad­ores, além de patrocinar a atividade do mais antigo clube de troca de pins do mundo, o Olympin, com mais de 600 membros em 30 países. Anualmente, ambos organizam encontros – o do COI foi em maio, na Suécia, e o do Olympin vai ser em outubro, em Atlanta, EUA – onde se troca um pouco de tudo relacionad­o com o universo olímpico, como “tochas, uniformes, medalhas e documentos”. Bud Kling tem assento em ambas as organizaçõ­es. É por isso um especialis­ta e define-se como um embaixador da troca de pins.

Natural de Los Angeles, Bud Kling recorda-se bem do momento em que apareceu a paixão: “Em 1980 estava a ver os Jogos Olímpicos de Inverno de Lake Placid, que ficaram na história por causa do Milagre do Gelo (nome popular que os norte-americanos deram à conquista do ouro olímpico em hóquei no gelo, quando os Estados Unidos, em plena Guerra Fria, superaram a poderosa URSS, vencedora de seis dos sete anteriores torneios), e reparei que havia uma longa fila para os autocarros, que estavam atrasados uma hora. Muitos estavam a trocar pins. Então, quando chegou o autocarro, mais de metade continuou ali a trocar pins e eu disse para mim próprio: ‘Ohhh, isto parece ser divertido. Estas pessoas estão mesmo empenhadas nisto.’ Quatro anos depois, os Jogos Olímpicos realizaram-se em Los Angeles e eu estava a trabalhar para a televisão ABC. Foi nesses Jogos que comecei a trocar pins e nunca mais parei.”

São, por isso, 32 anos de colecionis­mo, que lhe valeram muita reputação no meio. Bud Kling quer levar a atividade ainda mais longe. “Organizo centros de trocas de pins, coordeno os trabalhos, treino pessoal... A Coca-Cola vai ter um aqui no Parque Olímpico e eu vim ajudar. Chamaram mais de 30 especialis­tas, de todo o mundo, brasileiro­s, americanos, canadianos, alemães. Quero contribuir com o meu conhecimen­to.”

Ospins que tem para trocar são de todo o tipo. Os mais comuns são as bandeiras de países, mas o leque de escolha vai desde clubes desportivo­s a companhias aéreas, personagen­s de banda desenhada ou marcas de chocolates. O colecionad­or diz que existem algumas raridades no mercado, mas não um “pin sagrado” que todos procurem:“Varia muito de nacionalid­ade para nacionalid­ade. Os japoneses, por exemplo, são loucos por personagen­s como o Doraemon ou o Pokémon”, explica.

Dentro do Parque Olímpico há uma regra de ouro: não se vende, só se troca. Mas há quem aproveite para fazer negócio, como é caso do norte-americano Timothy Jamieson, também membro do Olympin, que procura exemplares de pins mais difíceis que já tenha na sua coleção para os vender quando regressar a casa. “Gasto muito dinheiro para estar aqui. Tenho de arranjar uma forma de compensar”, diz este arquiteto, que vai nos seus oitavos Jogos Olímpicos (incluindo os de Inverno). O interesse de Timothy nasceu em Barcelona 1992. “Fui convidado pelo serviços postal dos Estados Unidos para ir aos Jogos. No hotel, tinham um recipiente cheio de pins e todos os dias antes de sair agarrava uma mão-cheia deles. Era uma loucura. Todos queriam trocar comigo. Consegui logo na altura uma boa coleção.” E, como Bud Kling, nunca mais parou.

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Bud Kling é uma sumidade neste desporto paralelo

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