Majlinda tornou dourada a estreia olímpica do Kosovo
Ouro no torneio feminino de -52 kg é a primeira medalha do país, debutante nos Jogos
Emocionada, Majlinda não conteve as lágrimas após receber a medalha de ouro
RUI MARQUES SIMÕES A história de Majlinda Kelmindi confunde-se com a do Kosovo. Enquanto a nação balcânica foi lutando pelo reconhecimento internacional da sua independência, declarada em 2008 (ainda rejeitada por 84 dos 193 membros da ONU), a judoca nunca deixou de pugnar pelo direito a representar o país natal no plano desportivo. Tal ambição só se tornou realidade, ao mais alto nível, no Rio 2016. E Majlinda não se contentou com o estatuto de porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos: ontem levou a bandeira até ao mastro mais alto e juntou à festa o hino nacional kosovar, ao sagrar-se campeã olímpica na categoria de -52 kg.
Sim, fez-se história e de forma dourada. Ao bater a italiana Odette Giuffrida, na final do torneio (por yuko), Majlinda Kelmindi conquistou a primeira medalha da história
Total do Kosovo em Jogos Olímpicos, logo dois dias depois da estreia do país (que só foi aceite pelo Comité Olímpico Internacional em 2014). Foi uma enorme façanha para uma nação que está dar os primeiros passos e apenas levou oito atletas ao Brasil. E foi, ao mesmo tempo, a confirmação do favoritismo da mulher, de 25 anos, que dominou a categoria -52 kg nos últimos tempos... mas a quem faltava a consagração nos Jogos Olímpicos e sob a bandeira do país natal.
Obrigada a representar a Albânia (país com uma vasta comunidade kosovar) em Londres 2012, devido à falta de reconhecimento internacional do Kosovo, Majlinda Kelmindi não foi além da 2.ª ronda. Contudo, nos anos seguintes, tudo mudou: as federações internacionais começaram a aceitar o país e a atleta foi-se tornando uma judoca de topo. Logo em 2013, conquistou o primeiro título mundial da história do Kosovo. Em 2014, repetiu o triunfo mas teve de celebrar com as cores da Federação Internacional de Judo (porque os Mundiais decorreram na Rússia, país que não reconhece o Kosovo).
Então, a judoca sentia-se “mais ignorada do que qualquer outra atleta no mundo”. Contudo, no Rio 2016, os kosovares sentiram-se finalmente como iguais e parte de um todo. “Sonhei com isto durante muito tempo”, dizia Majlinda, ainda antes de entrar nos tatamis. Horas mais tarde, a festa da estreia tornou-se ainda mais saborosa.