Calor não abrandou Rui Vinhas, nem tirou gente à festa da Volta
Muitos esperavam que Gustavo Veloso recuperasse o tempo que lhe permitiria vencer. Mas tal não aconteceu. Pinto da Costa marcou presença e acabou a tirar selfies
Foi sob um calor abrasador que se realizou a última etapa da 78.ª Volta a Portugal em bicicleta. Contudo, não só os atletas deram tudo o que tinham – sobretudo Rui Vinhas, que fez o “contrarrelógio da vida”, de acordo com Gustavo Veloso – como também os lisboetas não se negaram à festa.
Em plena Baixa da capital, na Praça do Comércio, muitos eram os que esperavam os atletas no fim da etapa e já perto da meta. Curiosamente, o maior número de pessoas, e mais uma vez ignorando a temperatura extremamente quente, estava mais interessado nas dezenas de barracas de patrocinadores e equipas, principalmente à procura de brindes. As filas eram gigantescas.
Com os ciclistas a irem chegando numa cadência quase certa, era bem visível que a “clubite” voltou ao ciclismo: várias camisolas de FC Porto e Sporting, principalmente dos dragões.
Ignorando as filas dos brindes, José António, de 52 anos, e Fernando Ramos, de 49, vestidos à FC Porto, iam aproveitando para passear pela Praça do Comércio. Ainda antes de chegarem Rui Vinhas e Gustavo Veloso.
“Estou indeciso sobre quem quero que ganhe. Por um lado, o Gustavo Veloso pode fazer o tri, mas por outro o Rui Vinhas é português, portanto gostava que ele ganhasse”, afirmou José.
Já o amigo Fernando tinha uma opinião mais vincada: “Quero que ganhe o [Rui] Vinhas.” Ambos estavam, no entanto, de acordo no que toca à prestação da equipaW52-FC Porto. “Já estava à espera, era uma equipa já formada, fizeram uma Volta ótima”, afirmou José António. “Podíamos ter ganho mais umas etapas, mas foi muito bom”, acrescentou Fernando.
Chegando cada vez mais ciclistas, foi possível ver um homem com vários bidões nos braços. A explicação? O seu filho Manuel, de 11 anos, que começou a colecioná-los numa prova bastante especial.
“Desde o ano passado, quando fui ao Tour com os meus pais que coleciono. Os primeiros que recebi foram do Nélson Oliveira, da Lampre, e do Thomas Voeckler. Já tenho da Movistar, da Sky, e outros que são edições especiais”, explicou.
Vestido com uma camisola do Sporting-Tavira, Manuel analisou a Volta a Portugal dos leões, que considerou positiva, principalmente tendo em conta a idade do chefe de fila, Rinaldo Nocentini, que terminou em 21.º. “Fizemos uma boa volta. O Nocentini teve uma queda e isso prejudica sempre. Além disso, está em fim de carreira, mas fez uma grande volta”, concluiu.
Veloso diz ser “mais forte” Entretanto chegou a altura das decisões, com os primeiros classificados a irem chegando à meta, colocada de frente para o Rio Tejo.
Gustavo Veloso é especialista no contrarrelógio mas, afinal, não conseguiu, como muita gente esperava, roubar o tempo suficiente a Rui Vinhas para fazer o tri na Volta, e esperou pelo colega.
Chegado o vencedor da edição de 2016 da Volta a Portugal, abraçaram-se. Rui Vinhas, que depois admitiu ter vindo “sempre no limite”, apareceu na meta completamente estoirado.
Depois da festa, porém, Gustavo Veloso mostrou uma cara mais cerrada acompanhada de palavras sinceras. “O Rui fez o contrarrelógio da vida dele. Eu fiz como sempre tenho feito na Volta e ganhei. Tenho uma mistura de sentimentos, mas estou feliz pelo Rui. Fui o mais forte, mas nem sempre ganha o mais forte”, afirmou, com o colega de equipa sentado a poucos centímetros de distância. Pareceu que custou ao espanhol digerir o facto de não ter repetido o triunfo na prova ciclística mais importante do calendário nacional.
O feliz Rui Vinhas disse apenas que se preparou para “sofrer muito e estar sempre no limite”. Agradeceu inclusivamente a Gustavo Veloso, dizendo que o espanhol o ajudou bastante. “Cheguei sem forças. Quero agradecer ao povo português, que esteve do meu lado. Queria bas- tante dar-lhes esta vitória”, frisou o corredor lusitano, que foi uma espécie de outsider nesta competição.
Presença de Pinto da Costa Depois de se ouvir o hino do FC Porto a ser tocado na caravana da W52-FC Porto e da entrega de todos os prémios, da camisola amarela ao prémio por equipas, que sorriu também aos dragões, apareceu Jorge Nuno Pinto da Costa, para delírio das dezenas de adeptos portistas que ainda se encontravam encostados às grades a gritar pelo seu clube.
Após a festa do pódio, Pinto da Costa foi o homem mais solicitado e não se acanhou. Acedeu a autógrafos e a selfies com os fãs.
Para o eterno presidente do FC Porto, a vitória pertenceu à força do coletivo.
“Era indiferente que a vitória fosse para qualquer um dos oito e para mim não foi o Rui Vinhas que venceu, foram os oito, porque desde o melhor até ao menos bem classificado todos foram verdadeiros campeões e heróis. Deram o máximo, com um espírito de equipa fantástico, que merece realmente o nosso agradecimento e aplauso”, afirmou em declarações ao Porto Canal.
E para os adeptos do FC Porto é especial vencer a Volta em Lisboa? Depende a quem se pergunta. Para Fernando Santos, de 34 anos, “é igual”, mas Sérgio, de 35, discorda. “Claro que é especial. Muito especial. Em Lisboa é complicado o FC Porto ver o seu mérito e real valor reconhecidos, que é o que esta equipa merece”, disse.