Ver ténis olímpico dentro do court? Sim, no Rio
Uma das vantagens de uma grande competição como os Jogos Olímpicos é a possibilidade de acompanhar, bem de perto, dezenas de modalidades e milhares de atletas. Mas desta vez essa realidade foi ainda mais longe. O DN e mais dois órgãos de comunicação social portugueses, JN e Maisfutebol, assistiram ao jogo de pares entre João Sousa e Gastão Elias e os eslovacos Andrej Martin e Igor Zelanay dentro do court número 7 do Complexo de Ténis da Barra. Literalmente dentro do court. Um episódio que seria impossível em Londres 2012 e ilustra bem algum amadorismo que rodeia estes Jogos do Rio. E que podia ter terminado mal.
Vamos aos pormenores: o jogo já decorria quando chegámos à porta do court, onde se encontrava um dos voluntários dos Jogos, facilmente reconhecíveis pelo seu uniforme amarelo. “É só um momento, até terminar o ponto. Depois entrem aqui e sentem-se no segundo banco de madeira”, informou. Aguardámos uns segundos e foi-nos aberta a porta. Surpreendidos, verificámos que estávamos a caminhar em pleno court, numa altura em que o jogo já tinha sido retomado. Em silêncio, ocupámos o lugar que nos tinha sido indicado, a uns 3/4 metros das linhas laterais do campo, nas costas do árbitro principal. Lá dentro apenas nós, os quatro jogadores, os árbitros, os apanha-bolas, um fotógrafo e um elemento da equipa de segurança Força Nacional. Foi dali que segui o jogo, num lugar de eleição. Ali tão perto, e em silêncio para não perturbar o andamento do jogo, percebi que João Sousa estava muito agitado em campo, sempre a exigir mais a sido próprio e que é, de facto, o motor desta dupla, não só por ser mais experiente e mais cotado, mas também pelo papel que tem de liderança e motivação, dando constantes elogios e indicações ao mais sossegado Gastão Elias; assisti à troca de palavras mais acesa entre o número 1 português e o árbitro por causa de um ponto – “tenho 200% de certeza de que a bola estava fora”, protestava Sousa em inglês – e até fui elogiado pelo juiz principal quando apanhei uma bola mal cortada que se dirigia violentamente contra a minha cara: “Good catch.”
Vi ténis olímpico dentro do court. Uma oportunidade tão boa e fácil que me deixou desconfiado. E tinha razões para isso. Quando jogo terminou, com vitória clara dos portugueses (6-4 e 6-2) e já depois de Sousa e Elias falarem à comunicação social, fomos abordados por um elemento da organização do Rio. “Se voltarem a repetir isto estão fora do Jogos”, disse-nos, em tom áspero, enquanto mostrava imagens que documentavam a nossa presença no interior do court e fotografava as credenciais que nos permitem acompanhar as competições. “Estive o tempo todo a receber mensagens de que estavam portugueses no dentro court. Nem queria acreditar”, continuou. Explicámos pormenorizadamente o que se passou. Ainda incrédulo, chamou um dos coordenadores dos voluntários com quem partilhou o episódio. Despediu-se com um sorriso, garantiu que, assim, não havia motivos para ficarmos preocupados e disse: “Têm aí uma grande história.”
O dia não terminaria sem outra peripécia. No court central, depois do jogo entre Djokovic e Del Potro, fomos encaminhados para uma zona interior reservada familiares e oficiais olímpicos. Quando perguntámos como se saía dali a um funcionário, veio uma resposta desarmante: “Nossa, também estou perdido...” Podem ser episódios isolados, mas bem reveladores da desorganização que ainda se vê no Rio.
Até fui elogiado pelo juiz principal quando apanhei uma bola: “Good catch”