Diário de Notícias

Contratar tarefeiros sem justificaç­ão vai levar a demissões

Hospitais. Despacho impõe que contrataçõ­es de médicos através de empresas tenham a autorizaçã­o prévia do Ministério da Saúde

- ANA MAIA

Os administra­dores hospitalar­es arriscam ser demitidos se contratare­m médicos tarefeiros através de empresas de prestação de serviços sem autorizaçã­o do Ministério da Saúde e se o recurso a esta solução não for necessário. A renovação ou celebração de contratos de prestações de serviço só pode ser usada de forma pontual e quando a contrataçã­o é inviável, refere um despacho do Ministério da Saúde de 27 de julho.

Nos casos em que é necessário recorrer a prestações de serviço, a preferênci­a deve ser dada a prestadore­s singulares ou em sociedade unipessoal. Nestes casos, e desde que os valores não excedam o previsto na lei, não é preciso autorizaçã­o prévia do Ministério da Saúde. O mesmo já não se aplica quando a contrataçã­o é através de empresas. Aí é preciso parecer prévio do ministério e os contratos devem ter cláusulas que definam indemnizaç­ões.

“O incumprime­nto do disposto no presente Despacho constitui violação das orientaçõe­s de gestão”, salienta o documento. Regras que dizem respeito à demissão de gestores públicos: “O contrato de gestão deve prever expressame­nte a demissão quando a avaliação de desempenho seja negativa, designadam­ente, por incumprime­nto devido a motivos individual­mente imputáveis dos objetivos referidos nas orientaçõe­s fixadas”, seja em Conselho de Ministros ou nos ministério­s das Finanças e, neste caso, da Saúde.

A intenção do despacho, refere fonte do ministério, “é diminuir o peso das empresas e em caso de necessidad­e recorrer preferenci­almente a médicos em prestação individual”. A Administra­ção Central do Sistema de Saúde diz que “entre 28 de julho e 4 deste mês contabiliz­ou um total de 26 processos com pedidos de contrataçã­o de serviços médicos por prestação de serviços”, ao abrigo deste despacho, que ainda estão em análise. Nos primeiros cinco meses do ano os hospitais gastaram 39 milhões e 744 mil euros em prestações de serviço (não apenas médicos), mais cinco milhões do que no período homólogo. Criação de requisitos mínimos Alexandre Lourenço, presidente da Associação de Administra­dores Hospitalar­es, diz ao DN que “a estratégia do ministério deve ser criar equipas dedicadas nas urgências e trabalhar com a Ordem dos Médicos e apoiar as administra­ções no processo. Há hospitais universitá­rios com tarefeiros nas urgências. O despacho é redundante. As administra­ções têm de pedir autorizaçã­o para as despesas acima dos 25 mil euros, tal como para a contrataçã­o. Não passa pela cabeça não cumprir a autorizaçã­o e colocar o mandato em risco”.

Mas o presidente da Associação de Administra­dores Hospitalar­es deixa críticas à forma como muitas administra­ções foram escolhidas. “Desde o final dos anos 1980 as administra­ções puderam ser nomeados pela tutela, sem preparação específica. Entraram sem concursos públicos, sem avaliação de currículo, sem avaliação continua ou progressão na carreira. A lei prevê um conjunto de gestores preparados [com curso de gestão hospitalar que alguns administra­dores têm] e a aposta foi não seguir o modelo, partidariz­ando a administra­ção pública. Isto traz custos de aprendizag­em muito grandes, penalizado­res dos profission­ais e dos utentes. Temos pessoas incompeten­tes nos lugares e depois acaba tudo centraliza­do e Lisboa.”

Alexandre Lourenço defende a criação de requisitos para o desempenho das funções e depois avaliar. “Estamos a trabalhar para a criação de um conjunto de requisitos para ocupar o lugar de gestor intermédio, como prestar provas de avaliação, critérios de seleção de entrada, avaliação e progressão. Depois devem ser criadas para as administra­ções. No mínimo devem ter entre cinco e dez anos de experiênci­a de gestão hospitalar.”

Associação estuda requisitos para escolha de gestores

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