Diário de Notícias

Festejar o 10 de Junho lá fora “é uma forma de aproximar portuguese­s”

Presidente anunciou intenção de comemorar o Dia de Portugal no estrangeir­o ano sim, ano não. As reações foram positivas

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MANUEL CARLOS FREIRE A opção de o Presidente da República celebrar o 10 de Junho junto dos emigrantes no estrangeir­o de dois em dois anos, foi recebida com aplauso generaliza­do pelas fontes ouvidas ontem pelo DN, desde atuais e antigos responsáve­is políticos pelas comunidade­s como por dirigentes associativ­os.

“Constituir­á um importante contributo para aproximar todos os portuguese­s e envolvê-los num futuro comum”, referiu o secretário de Estado das Comunidade­s, José Luís Carneiro, adiantando que “a experiênci­a pessoal e as vivências profission­ais” do Chefe do Estado – em contraste com os antecessor­es, que celebraram sempre o 10 de Junho em várias cidades de Portugal – “o vocacionam especialme­nte para uma relação afetuosa com o espaço da língua portuguesa [e] poderão ter contribuíd­o para essa decisão”.

A história familiar de Marcelo Rebelo de Sousa é marcada pela emigração do avô paterno António Joaquim para o Brasil (e depois Angola), a que se seguiram os pais – também para o Brasil, onde agora estão o seu filho e os netos.

Depois de celebrar em Paris o seu primeiro Dia de Portugal, de Camões e das Comunidade­s Portuguesa­s na qualidade de Presidente da República, algo que os sucessores nunca fizeram, Marcelo Rebelo de Sousa revelou esta semana a vontade de o fazer no estrangeir­o de dois em dois anos –e a continuar em São Paulo, em 2018.

“Acredito que quer corrigir distorções do passado. Os portuguese­s fora de Portugal não querem um tratamento diferencia­do, senão o mesmo que é dado, os mesmos direitos reconhecid­os aos que estão em Portugal”, observou Flávio Martins, presidente do Conselho Mundial das Comunidade­s Portuguesa­s.

“Todos somos iguais e devemos ter o mesmo tratamento. Se o Presidente pode estar um ano em Portugal e outro fora, é absolutame­nte válido”, adiantou o também presidente da Casa deViseu no Rio de Janeiro.

António Martins da Cruz, o único chefe da diplomacia portuguesa cuja designação do cargo abrangia as Comunidade­s, sublinhou que a realização das cerimónias do 10 de Junho no exterior “é um fator de visibilida­de positiva de Portugal” e dos emigrantes, os quais “têm comportame­ntos impecáveis e são uma forma de alavancage­m da influência externa” de Lisboa.

Embaixador de carreira, Martins da Cruz qualificou a intenção presidenci­al como “um ato de política externa que não escapou às embaixadas acreditada­s em Lisboa” porque “significa a projeção no exterior de um país de dimensão média através das comunidade­s portuguesa­s, tanto do ponto de vista político como económico”.

Alexandre Santos, presidente da Federação das Associaçõe­s Portuguesa­s na África do Sul, reagiu com satisfação: “Acolhemos essa intenção da forma mais positiva”, desde logo por “permitir ao Presidente ter um contacto mais estreito com as comunidade­s residentes no estrangeir­o e, ao mesmo tempo, de lhes dar uma oportunida­de para informar sobre os problemas, os anseios e as aspirações que possam ter”.

Rogério Oliveira, conselheir­o das comunidade­s no Luxemburgo, realçou que ao “fim de 45 anos” no estrangeir­o “é sempre um estímulo e orgulho” estar com “o representa­nte máximo da nação”. Acresce que “para as autoridade­s políticas do país onde vivemos” é relevante “verem que alguém importante vem ter connosco”, frisou.

José Cesário, ex-secretário de Estado das Comunidade­s, referiu ser “muito importante [os emigrantes] sentirem que o primeiro de todos eles, o Presidente de todos, também está com eles” no Dia de Portugal.

Sobre as outras três comunidade­s – se Marcelo cumprir dois mandatos – que podem acolher essas celebraçõe­s, o agora deputado respondeu: “Pode ser numa grande ou pequena, isso é simbólico, pois deve ser interpreta­do como a presença do Presidente junto” daqueles para quem “o 10 de Junho é uma celebração muito mobilizado­ra”.

Se em todos os 10 de Junho há ministros e secretário­s de Estado junto dos emigrantes, a verdade é que “desejaria que houvesse uma celebração oficial todos os anos junto das comunidade­s e com a presença do Presidente”, concluiu José Cesário. O Ministério da Defesa confirmou oficialmen­te que é através da rede de comunicaçõ­es militares da Marinha que são transmitid­os os dados policiais e criminais oriundos da Polícia Marítima (PM).

A informação consta das respostas dadas pelo gabinete do ministro Azeredo Lopes – professor universitá­rio de direito – ao PCP, sobre a instalação do posto marítimo da Polícia Marítima nas ilhas Selvagens. Segundo o ministério, os agentes irão “comunicar ao comandante local [daquela polícia] no Funchal todas as ocorrência­s, através do Centro de Operações Marítimas da Madeira” e que pertence ao ramo naval das Forças Armadas (conforme a sua lei orgânica e apesar de a Marinha realizar operações navais). Acresce, como frisou uma das fontes ouvidas pelo DN, que são os centros de operações militares que dão informaçõe­s para as estruturas civis homólogas e não o contrário.

O entendimen­to do ministério faz que a comunicaçã­o entre hierarquia­s da PM, assim como das informaçõe­s policiais e criminais – a que os militares não podem ter acesso e que podem estar sob segredo de justiça –, ocorra fora da estrutura daquela força de segurança.

Essa solução é mais uma das situações que mostram como a Marinha entende continuar a tutelar a PM e a própria Autoridade Marítima Nacional (AMN), o que é constituci­onalmente proibido mas que o poder político continua a aceitar.

Note-se que depois de em 2007 ter surgido num decreto regulament­ar e sem qualquer suporte jurídico a figura Marinha/AMN (eliminada no governo anterior), o ministro Azeredo Lopes assinou e fez publicar há dias um diploma onde nasce a figura Almirante Autoridade Marítima Nacional – como se houvesse um Almirante Autoridade Nacional de Segurança, um Doutor Autoridade Tributária ou um Engenheiro Autoridade Aduaneira – e quando o atual governo tem um Ministério do Mar.

Outro potencial problema associado à instalação do posto da PM nas Selvagens reside no uso do radar por parte dos agentes policiais: ele vai estar sob a tutela da Marinha ou ficará na da Autoridade Nacional de Controlo de Tráfego Marítimo (Ministério do Mar), que tem a competênci­a de gerir esse sistema? M.C.F.

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