Diário de Notícias

Uma droga para lutar contra doença do sono e leishmanio­se

SAÚDE Entre três mil compostos, cientistas descobrira­m um que é eficaz a tratar doenças que afetam 20 milhões de pessoas por ano

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Em Portugal, há doentes internados com leishmanio­se visceral que já estão a fazer o sexto tratamento para a doença. Todos os anteriores falharam. Isto porque os medicament­os que existem deixam muito a desejar em termos de eficácia. Mas há agora uma nova esperança. Chama-se GNF6702 e é um composto químico que se mostrou eficaz a tratar três infeções – a doença de Chagas, leishmanio­se e a doença do sono – em ratos.

A doença do sono é causado pelo parasita Trypanosom­a brucei, a de Chagas pelo Trypansoso­ma cruzi e a leishmanio­se, que afeta cerca de 1500 portuguese­s por ano, por parasitas do género Leishmania. De acordo com a investigaç­ão publicada pela revista Nature, citada pela BBC, os três são semelhante­s, o que leva os cientistas a acreditar numa única terapia para curar o trio, que anualmente infeta 20 milhões de pessoas e mata 50 mil.

Atualmente, os medicament­os que existem são tóxicos, tendo frequentem­ente administra­ção intravenos­a, o que os torna pouco práticos em países pobres. “Existem medicament­os para as três doenças, mas para nenhuma delas são suficiente­s ou eficazes. Deixam bastante a desejar”, disse ao DN Jaime Nina, especialis­ta em doenças tropicais.

Nos testes feitos em ratos, o GNF6702 revelou-se mais eficaz e menos tóxico do que os fármacos que existem. “Se for para a frente, a doença de Chagas será a mais beneficiad­a, porque é a que tem o tratamento mais fraco. Só existem dois fármacos no mercado”, adiantou o especialis­ta, acrescenta­ndo que ambos são tóxicos, injetáveis, para tratamento­s de dois meses e com uma lista de efeitos secundário­s muito significat­iva.

Se a investigaç­ão prosseguir de forma favorável, seguem-se ensaios clínicos em humanos e o composto poderá chegar ao mercado em 2024. O que torna esta droga especial, disse Elmarie Myburgh, uma das investigad­oras da Universida­de deYork, é o facto de ter como alvo os três parasitas. “É a primeira vez que isto é feito, por isso é tão especial”, afirmou. Segundo a mesma, têm existido poucos incentivos para que sejam investidas verbas avultadas na investigaç­ão destas doenças, que afetam uma população muito pobre, mas em número significat­ivo. J.C.

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