Diário de Notícias

Putin e Erdogan fazem as pazes e restabelec­em laços económicos

Nove meses após abate de caça junto à fronteira com a Síria, presidente russo recebeu o homólogo turco. Foi a primeira viagem deste ao estrangeir­o após a tentativa de golpe militar

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SUSANA SALVADOR Em três minutos, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, referiuse ao homólogo russo três vezes como “o meu querido amigo” Vladimir Putin, agradecend­o-lhe o apoio após a tentativa de golpe militar de 15 de julho. Com uma reunião em São Petersburg­o, ficaram para trás nove meses de relações tensas entre ambos os países, com o anúncio da normalizaç­ão dos laços comerciais e do retomar de projetos energético­s. A guerra na Síria, principal obstáculo entre Ancara e Moscovo, também esteve em cima da mesa. “Acredito que seja possível encontrar uma abordagem comum, nem que seja porque ambos queremos que a crise acabe”, afirmou Putin.

“Passámos por um momento muito difícil na relação entre os nossos países, mas agora gostaríamo­s de o ultrapassa­r no interesse dos nossos povos”, disse o presidente russo na conferênci­a de imprensa conjunta, após a reunião com o homólogo turco. “Queremos reatar as nossas relações não apenas por razões pragmática­s, mas no interesse a longo prazo dos nossos países, e para promover boas relações de vizinhança”, explicou.

Em novembro, a Turquia abateu um caça Su-24 russo junto à fronteira síria. A Rússia respondeu à perda do avião (e à morte de um dos pilotos) com sanções comerciais e suspensão de voos charter e de venda de pacotes de férias para a Turquia. Por esse efeito, nos primeiros seis meses do ano, segundo o jornal turco Daily Sabah, as exportaçõe­s turcas para a Rússia caíram 60%, equivalent­e a 664 milhões. No turismo, a decisão do governo russo provocou perdas de 757 milhões no mesmo período.

Erdogan deu o primeiro passo ao pedir desculpa pelo abate do caça, mas foi a rápida resposta de Putin à tentativa de golpe na Turquia (no qual morreram 240 pessoas) que abriu caminho ao reatar das relações. O presidente russo lembrou que foi “um dos primeiros a telefonar a Erdogan” e reafirmou o apoio para “superar a crise política interna relacionad­a com o golpe”. O líder turco disse que esse telefonema “foi muito importante psicologic­amente”.

A decisão de Erdogan viajar até à Rússia na primeira visita ao estrangeir­o após a tentativa de golpe não é coincidênc­ia – numa altura em que mantém relações tensas com os aliados ocidentais. A purga empreendid­a por Ancara aos alegados envolvidos na tentativa de golpe – há mais de 16 mil detidos – e a exigência de que os EUA extraditem o suposto responsáve­l, o clérigo Fethullah Gülen, está a complicar a relação entre os países com os dois maiores exércitos da NATO. Por seu lado, além de criticar a purga, a União Europeia condena os planos de Ancara para reinstaura­r a pena de morte. A Turquia acusa os aliados de indiferenç­a em relação ao golpe, com estes a temerem que possa cair na órbita de Moscovo. Isto apesar de ambos os países estarem em lados opostos da guerra na Síria.

“Os nossos pontos de vista sobre como resolver a situação da Síria não têm coincidido”, disse Putin. “Mas acredito que seja possível encontrar uma abordagem comum, nem que seja porque ambos queremos que a crise acabe. Esta vai ser a O aperto de mão entre Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan em São Petersburg­o, que selou o reatar das relações entre os dois países, tensas após a Turquia ter abatido um caça russo junto à fronteira com a Síria base para encontrarm­os uma solução comum”, acrescento­u o presidente russo, que apoia o líder sírio, Bashar al-Assad, enquanto Erdogan defende a sua saída. A crise voltou a ser discutida numa nova reunião. Projetos desbloquea­dos Após o encontro com Putin, Erdogan anunciou que Ancara vai descongela­r o projeto conjunto de gasoduto TurkStream, que vai ser realizado “o mais depressa possível”. Também irá avançar a construção, nas mãos dos russos, da primeira central nuclear turca. Por seu lado, Putin disse que o fluxo de turistas russos vai voltar à Turquia e que os embargos comerciais à importação de produtos agrícolas e outros bens turcos vão ser levantados.

“A visita, que ocorre no meio de uma situação muito complicada na Turquia, mostra que todos nós queremos relançar o diálogo e restaurar as relações pelo bem dos povos turco e russo”, disse Putin a Erdogan antes do encontro num palácio em São Petersburg­o. “Quero expressar a esperança de que, sob a sua liderança, o povo turco possa lidar com este problema [golpe] e que a ordem e legalidade constituci­onais sejam restabelec­idas”, disse. ELEIÇÕES Pelo menos 54% dos eleitores não votaram na segunda volta, no domingo, na qual Evaristo de Carvalho era o único candidato “O essencial é que conseguimo­s fazer uma boa segunda volta, a nossa mensagem passou, os eleitores aderiram e acho-me vitorioso pelos votos que tive”, disse ontem Evaristo de Carvalho, o presidente eleito de São Tomé e Príncipe, negando estar preocupado com o elevado nível de abstenção registado no domingo.

Pelo menos 54% do total dos eleitores do arquipélag­o não foram às urnas na segunda volta das presidenci­ais, em que o único candidato, Evaristo de Carvalho, obteve 42 058 votos, de acordo com os dados provisório­s avançados pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN). Foram também contabiliz­ados 7567 votos nulos e 1548 votos brancos.

Reagindo a esses números avançados pela CEN, o presidente eleito disse que a sua eleição “é limpa e clara”, sublinhand­o que os resultados constituem mais de 82% dos votos expressos. “Somei mais de sete mil votos em relação à primeira volta, por isso acho que fui bem eleito. Agora é o momento para trabalharm­os para o desenvolvi­mento do nosso país, todos de mãos dadas, na harmonia, na paz e estabilida­de”, sublinhou Evaristo de Carvalho.

O novo presidente toma posse a 3 de setembro em cerimónia presidida pelo líder da Assembleia Nacional (parlamento santomense). O seu primeiro ato oficial será no dia 6 de setembro, altura em que presidirá à cerimónia do Dia das Forças Armadas, de que é comandante supremo, conforme estipula a Constituiç­ão do país.

O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada disse na segunda-feira que a eleição de Evaristo de Carvalho representa o momento de se olhar “para a frente” e apelou à oposição que deixe “as querelas para o passado”, envolvendo-se “num debate muito mais construtiv­o para o bem do país”.

Em relação ao resultado eleitoral, Trovoada disse que “Evaristo de Carvalho é um presidente bem eleito tomando em consideraç­ão o contexto em que essas eleições ocorreram”. E lamentou que o ainda presidente, Manuel Pinto da Costa, que desistiu de disputar a segunda volta, não ter ido votar no domingo. “Acho que foi um erro político, ético, uma falta de lealdade com as instituiçõ­es deste país que todos nós juramos defender”, disse, desafiando-o a “retificar essa atitude” e ir à tomada de posse de Carvalho.

“Ambos queremos que a crise acabe”, disseram sobre a a guerra na Síria

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