Senado iniciou penúltima votação do impeachment
Senadores discutem reta final do processo de Dilma. Apoiantes da presidente afastada querem incluir delação de Odebrecht
Manifestação pró-impeachment de Dilma Rousseff em São Paulo no dia 31 de julho
JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo Os apoiantes de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), lutam para juntar as recentes delações de executivos da construtora Odebrecht, entre os quais o presidente da empresa Marcelo Odebrecht, à discussão sobre a perda de mandato definitiva da presidente afastada. Nessas delações no contexto da Operação Lava-Jato reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo e pela revista Veja, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), e o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Serra (PSDB), são acusados de terem recebido 10 e 24 milhões de reais, respetivamente, para irrigar campanhas eleitorais.
Odebrecht afirma que o próprio Temer lhe pediu o dinheiro em reunião que o presidente interino não nega mas que considera regular. Em causa, a campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo do estado de São Paulo, em 2014. Nesse encontro esteve também Eliseu Padilha (PMDB), ministro chefe da Casa Civil e braço direito de Temer, segundo o construtor. Sobre Serra, o empresário relata que doou, em caixa 2, ou seja, por baixo da mesa, dinheiro para a campanha do então candidato às presidenciais de 2010. O barão do PSDB diz que as contas eram geridas pelo seu partido e não por ele.
O tema foi a principal atração das primeiras horas da sessão que discute a continuação do processo de impeachment no Senado Federal – uma sessão que deve acabar apenas durante a tarde de hoje, ou seja, após 24 horas de debates – e é o penúltimo passo antes da votação final sobre a perda de mandato de Dilma, marcada para o final do mês. Nesta votação, iniciada ontem a meio da manhã, o relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB), começou por reler o seu parecer, no sentido de julgar a presidente afastada, mas acabou interrompido por diversas questões de ordem levantadas pelos parlamentares contrários ao impeachment.
A estratégia deles – considerada pelos defensores da queda da presidente “uma mera lengalenga para atrasar o processo e o país” – é incluir no debate, ou pelo menos na agenda da opinião pública, aquelas delações explosivas contra Temer e Serra, dois pilares do governo interino. E, ainda, esperar que o presidente da Câmara afastado Eduardo Cunha seja julgado antes de Dilma. Uma vez fora do cargo, Cunha poderia tornar-se uma bomba-relógio para Temer, seu aliado durante o processo de impeachment, acreditam os petistas e os membros dos outros partidos que sustentam Dilma.
Assim, esta fase do processo, já liderada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, foi-se atrasando, com interrupções, pedidos de palavra, discursos, réplicas e contrarréplicas. O tom, no entanto, segundo os últimos dados da imprensa, é que os apoiantes de Temer e do governo interino consigam com facilidade mais de 41 votos (metade dos senadores), número necessário para se chegar ao julgamento final, onde para Dilma cair são precisos 54 (dois terços da casa).
Cristovam Buarque (PPS), senador que em recente entrevista ao DN revelava que não tinha ainda se decidido pela destituição ou não da presidente afastada, afirmou nos últimos dias que vai votar favoravelmente ao impeachment. A posição de Buarque, considerado o mais dividido dos 81 senadores, pode ter levado a um efeito dominó a favor de Temer. Tanto que nos últimos dias, o placard do impeachment publicado diariamente no jornal O Estado de S. Paulo aponta 43 votos pela destituição, contra 39 de há uma semana.
Dilma, reeleita em 2014, é acusada de ter cometido manobras orçamentais para maquiar os resultados anuais do seu governo. A sua defesa nega parte das acusações e afirma que todos os presidentes do Brasil e governadores de estado usaram dos mesmos expedientes.