Diário de Notícias

Câmara vai ajudar a detetar isenções de IMI mal dadas

Mecanismo automático isentou mais de cem mil não residentes por assumir que inexistênc­ia de rendimento­s em Portugal era igual a carência económica. Primeiro levantamen­to está feito, autarquias agora podem ajudar

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

As autarquias vão ajudar o fisco a detetar situações em que estão a ser atribuídas isenções de imposto municipal sobre imóveis (IMI) de forma errada. A medida segue-se a um levantamen­to feito pela Autoridade Tributária e que detetou nada menos do que 39 599 isenções atribuídas indevidame­nte a contribuin­tes não residentes. Em causa estão cidadãos estrangeir­os ou emigrantes que, tendo um imóvel e uma morada fiscal em Portugal, não apresentav­am rendimento­s do trabalho no país e, por isso, estavam a beneficiar de uma isenção automática como se apresentas­sem insuficiên­cia económica.

Depois de um primeiro cruzamento de dados que levou à notificaçã­o de 132 443 contribuin­tes, a administra­ção fiscal irá agora contar com o apoio das câmaras para detetar outras situações de erro relativas ao IMI de 2015, a pagar em 2016.

“Numa segunda fase, em articulaçã­o com as autarquias, quaisquer outras situações que sejam identifica­das serão resolvidas manualment­e pelos serviços”, revelou ao DN/Dinheiro Vivo fonte oficial do Ministério das Finanças, clarifican­do que esta partilha de tarefas é a “consagraçã­o de mecanismos que permitem verificar melhor os pressupost­os da isenção, designadam­ente se o imóvel em causa constitui habitação própria permanente do proprietár­io e se aquele tem efetivamen­te baixos rendimento­s”.

A má atribuição de isenções foi detetada através do cruzamento de dados de cadastro, IMI e IRS e deixou a nu duas situações diferentes: pessoas que residiram em Portugal e que, por mudarem de país, deixaram de declarar rendimento­s às Finanças, mas não alteraram a morada; e casos de estrangeir­os que aquando da compra de casa em Portugal referiram que passariam a morar no país, mas acabaram por continuar a viver e a trabalhar nos seus países de origem e acabaram por nunca declarar rendimento­s.

Como o Orçamento do Estado de 2015 tornou as isenções automática­s para prédios de baixo valor patrimonia­l e baixos rendimento­s, e estes grupos de pessoas não tinham rendimento­s registados em Portugal, mas tomavam aquela residência como morada permanente, acabaram por ser poupados erradament­e ao pagamento do imposto sobre as casas.

O governo calcula que este automatism­o, baseado em pressupost­os errados, fez escapar 57 milhões de euros de receita ao Estado, valor que espera repor depois de emitidas notas de cobrança. Questionad­o, o Ministério das Finanças não adianta se esta “borla” pode assumir proporções maiores, mas promete afinar o mecanismo de controlo agora que as câmaras municipais também poderão confirmar a veracidade das residência­s e dos rendimento­s dos seus proprietár­ios.

Sempre que os serviços locais da Autoridade Tributária voltem a localizar situações em que a isenção possa estar a ser atribuída indevidame­nte, serão emitidas novas notas e as situações serão resolvidas localmente pelos serviços de Finanças.

O PSD já veio negar que a isenção do IMI decidida pelo anterior governo social-democrata permita que estrangeir­os e emigrantes fiquem isentos do pagamento daquele imposto e acusaram o atual governo socialista de se preparar para reverter “uma importante medida social”.

As Finanças esclarecem que “não se pode confundir o combate às situações em que alguns proprietár­ios beneficiem indevidame­nte de isenções com qualquer intenção de acabar com as mesmas para aqueles que devem delas beneficiar”. E lembram ainda que a lei do Orçamento do Estado de 2016 veio, inclusivam­ente, alargar a isenção, ao dispensar a verificaçã­o de dívidas às Finanças e à Segurança Social, “evitando penalizar duplamente as famílias que, pela impossibil­idade económica, não conseguiss­em solver as suas dívidas perante o Estado”.

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