Marcelo solidário e Costa executivo
Presidente fez visita-relâmpago para confortar as vítimas dos incêndios e diz que missão de Costa “não é só de solidariedade, é executiva”
Fotografias queimadas no chão, paredes negras, centenas de destroços e um intenso cheiro a fumo. Foi o que Marcelo Rebelo de Sousa viu numa das dezenas casas que foram consumidas pelas chamas.
O Presidente da República esteve na região para se inteirar da situação caótica que a Madeira tem vivido nos últimos dias. À chegada disse que veio trazer “um abraço de Portugal” e visitou o que resta da habitação e oficina de António Pimenta, um morador da Alegria que perdeu “numa hora aquilo que demorou 50 anos a construir”.
“Não havia vento que aguentasse. Foram 50 anos de vida que acabaram numa hora. Nada resistiu ao fogo”, contava sob o olhar atento de Marcelo. “Custa ver o que o meu pai construiu desaparecer, mas tivemos de optar pela vida”, disse o filho de António Pimenta.
O Presidente respondeu com um desejo: “Vai trazer-me para ver a sua nova casa.” Ao que o senhor Pimenta respondeu: “Convido e vamos comer um cabrito!”
No percurso do Presidente estavam incluídas duas paragens: nas Babosas e em São Roque, antes de terminar no RG3. Mas, ao seu estilo, não ficou pelo que estava delineado. Ao longo do percurso ia pedindo para parar e cumprimentar a população. Fotos, abraços, beijinhos e energias positivas foi o que a primeira figura do Estado deixava, para satisfação dos populares. “Graças a Deus, já passou” ou “Obrigada por ter vindo, Presidente”, diziam as pessoas a Marcelo Rebelo de Sousa.
A caminho dos locais mais atingidos, várias pessoas viam a comitiva presidencial passar, rodeada de polícia. Um homem chegou mesmo a gritar: “Ontem [na terça-feira] que era preciso não veio ninguém!”
O Presidente esteve acompanhado de Miguel Albuquerque, presidente do governo regional, Paulo Cafôfo, presidente da Câmara Municipal do Funchal, Tranquada Gomes, presidente da Assembleia Regional, e Ireneu Cabral Barreto, o representante da República para a Região. Ao longo do percurso pelas zonas afetadas iam fazendo um relato minucioso de onde o fogo começou, como avançou e como a situação de repente se agravou.
“Aquilo que se via nas televisões corresponde à realidade e é possível ver como foi, como houve a mudança de vento, como houve focos diferentes e como aquilo que parecia controlado descontrolou-se em tão pouco tempo”, disse Marcelo.
Por várias vezes enalteceu a “coragem das populações, a eficácia, a solidariedade que houve entre todos os que aguentaram estes dias e noites em circunstâncias muito difíceis”.
“Há focos que permanecem e a preocupação continua a ser as pessoas. As populações tiveram um comportamento excepcional. Outra lição é que já começaram a reconstrução. E esse espírito é muito importante. O espírito de que é preciso olhar para amanhã sem deixar de estar atento para a situação atual, mas começar a reconstruir”, reforçou, lembrando que hoje chega António Costa. O primeiro-ministro vem com o ministro do Planeamento para discutir as ajudas financeiras que o Estado vai canalizar para a região. Marcelo diz que a missão do primeiro-ministro não é só de simpatia, é de trabalho.
“Amanhã [hoje] está cá o senhor primeiro-ministro. Precisamente a sua missão não é só de solidariedade, é executiva”, considerou, antecipando que António Costa se vai sentar “à mesa com o senhor presidente do governo regional e vão ver de onde vêm os fundos, se é da Europa, se é do Orçamento, para que situação de emergência”.
Segundo o Presidente da República, “feito o levantamento, feitas as contas, feito o somatório das necessidades, é preciso começar a reconstruir”.