Água solidária
Lucinda Borges e Paulo Pereira foram os heróis mais falados do passado domingo. Compraram mais de mil litros de água para distribuir pelas pessoas bloqueadas na A1, cortada pelos incêndios florestais, numa rápida reação que foi filmada e divulgada nas redes sociais. Passados poucos dias, poderia dizer-se que o número de pessoas a merecerem a nossa gratidão aumentou exponencialmente – e não apenas graças aos milhares de bombeiros omnipresentes que não têm tido descanso. Gestos de solidariedade que aparecem mesmo ao lado de casa, na ajuda dos vizinhos, ou nas contas abertas para recolha de fundos, ou vindos das mais variadas instituições. Atitudes que mobilizam todo um país. Apoios que chegam de outros países, e até do outro lado do mundo – o governo timorense aprovou uma doação de dois milhões de euros. O mês de agosto até tinha começado com reconfortantes estatísticas: os números de incêndios e de áreas ardidas, nos primeiros sete meses do ano, eram muito mais baixos do que nos anos anteriores, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Os planos de combate a eventuais fogos estavam preparados. Mas bastaram uns poucos dias de agosto, com condições atmosféricas propícias ao fogo e a ação criminosa dos incendiários – intencionais ou por negligência – , para os números atingirem recordes assustadores. Arouca, Águeda, Gondomar, Funchal, Idanha-a-Nova, Castanheira de Pera, Arcos de Valdevez, são os lugares onde fixamos o olhar. De Lisboa e dos Açores partiram reforços para a Madeira, no continente as corporações de bombeiros cruzam as estradas e os ares para combater fogos em locais longínquos, dando eficácia à resposta e evitando maiores estragos. Os responsáveis políticos têm-se desdobrado em visitas aos locais mais afetados. Afinal, os mil litros de água distribuídos pelo casal de Avanca são a história de um país unido e único, em todo o território.