Diário de Notícias

PS e BE relativiza­m aviso sobre gastos no desemprego

Presidente deixou alerta sobre “indesejáve­l acréscimo de despesas” com fim de apresentaç­ões periódicas. Esquerda afasta riscos

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Soeiro diz que se podem poupar três milhões dos protocolos com as juntas

MIGUEL MARUJO O Bloco de Esquerda desdramati­za o aviso (quase críptico) deixado pelo Presidente da República na promulgaçã­o do diploma que acaba com as apresentaç­ões quinzenais dos desemprega­dos, com Marcelo Rebelo de Sousa a temer “um indesejáve­l acréscimo de despesas”.

Segundo Belém, o diploma que foi aprovado por toda a esquerda (com a abstenção do CDS e o voto contra do PSD, uma “ampla votação não contrária”) constitui “um modelo teoricamen­te cheio de virtualida­des”, mas “a sua exequibili­dade é complexa, sobretudo se não envolver um indesejáve­l acréscimo de despesas na execução do Orçamento de 2016, ademais por iniciativa parlamenta­r”.

O aviso de Belém desta vez não é acompanhad­o de ameaça com Tribunal Constituci­onal, como no diploma das 35 horas, em que Marcelo deixou um aviso sério ao governo, admitindo recorrer aos juízes do Palácio Ratton, caso se verifique um aumento real da despesa.

José Soeiro, que foi o rosto bloquista do projeto que o BE levou a plenário, notou ao DN que “o modelo anterior” – que obrigava a que todos os desemprega­dos se apresentas­sem a cada 15 dias num centro de emprego ou junta de freguesia – “representa­va uma despesa que pode agora ser usada de outro modo”, referindo-se aos “protocolos com as juntas no valor de três milhões [de euros] por ano”.

Insistindo que o novo modelo não implica “acréscimo na despesa”, José Soeiro sublinhou que, neste momento, decorre um debate com o governo sobre “a missão do IEFP”, o Instituto de Emprego e Formação Profission­al, para “perceber quais são as prioridade­s deste e para onde devem ser reorientad­as os recursos”.

Neste ponto, Soeiro apontou o dedo ao anterior executivo de Passos Coelho, acusando que “já foram gastos 60% das verbas, que deviam ir até 2020, dos fundos europeus do Portugal 2020”, que cabiam ao IEFP, “sobretudo para pagar programas de estágios” e que serviram “para mascarar contas do desemprego”.

O bloquista José Soeiro defendeu que “nunca a aprovação desta medida esteve condiciona­da por um qualquer debate orçamental”.

Do lado do PS, que acertou com o BE as linhas do diploma promulgado por Marcelo, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro disse ao DN que os socialista­s “tomam nota” do alerta de Belém, mas recusa que a medida “venha a ter algum risco na sua execução”, nomeadamen­te com aumento de despesas. “No limite será mais barato”, antecipou.

Interpreta­ndo o aviso de Marcelo “na perspetiva de um eventual acréscimo de fraude”, “logo mais despesa”, Barbosa Ribeiro defendeu que “o que gera poupança efetiva é a diminuição do desemprego”, acrescenta­ndo que, “hoje, os mecanismos de controlo são incomparáv­eis” aos que existiam quando há dez anos foi aprovada a medida que obrigava às apresentaç­ões periódicas (por um governo socialista).

Com a promulgaçã­o desta oitava alteração ao Decreto-Lei n.º 220/ /2006, de 3 de novembro, “que estabelece o regime jurídico de proteção social da eventualid­ade de desemprego dos trabalhado­res por conta de outrem”, abre-se a porta à regulament­ação do diploma. Luz verde para 23 diplomas O diploma que elimina as apresentaç­ões periódicas foi um dos 23 que Marcelo Rebelo de Sousa promulgou entre terça e quarta-feira, segundo duas notas publicadas no site da Presidênci­a da República.

Num estilo já próprio, Marcelo promulgou por exemplo “o diploma que combate as formas modernas de trabalho forçado”, “apesar das fortes dúvidas acerca da efetiva capacidade de o presente diploma enfrentar os verdadeiro­s problemas do trabalho forçado”. Para o Presidente, exigia-se “uma estratégia integrada, devidament­e informada, com ratificaçã­o de [outros] instrument­os”, mas perante o “objetivo invocado de disciplina­r os abusos do trabalho temporário”, Marcelo deu luz verde ao texto. A atualidade dos incêndios impôs-se na agenda parlamenta­r de verão e hoje à tarde o Parlamento reúne-se extraordin­ariamente com os fogos como ponto único do debate que se inicia pelas 14.30. Depois os deputados deslocam-se à Proteção Civil (ver págs. 2-5).

“Foi decidido que amanhã [hoje] mesmo haverá aqui no Parlamento uma reunião de uma comissão ad hoc formada por esta conferênci­a de líderes, com um representa­nte de cada grupo parlamenta­r, dirigida pelo senhor vice-presidente José Manuel Pureza e com o membro do governo responsáve­l pela proteção civil”, disse Ferro Rodrigues, em declaraçõe­s aos jornalista­s no final da reunião.

O CDS tinha antecipado, ainda ontem nas páginas do DN, que iria insistir – na reunião da Conferênci­a de Líderes parlamenta­res que teve lugar ao fim da tarde de ontem – em chamar o governo a explicarse na Assembleia da República sobre as viagens pagas pela Galp a três secretário­s de Estado, incluindo o titular dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade. E apresentou um requerimen­to nesse sentido que

MIGUEL MARUJO

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