Perdas com dívida pública levam Caixa de lucros a prejuízo de 200 milhões
Outros efeitos extraordinários a pesar nos resultados do banco foram as imparidades e custos de capital. Estas devem ser as últimas contas de José de Matos
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) fechou os primeiros seis meses do ano com prejuízos de 205,2 milhões de euros, com as contas a serem penalizadas por efeitos extraordinários como a desvalorização da carteira de dívida pública, as imparidades e os custos de capital. Há um ano, no mesmo período, o banco estatal apresentou lucros de 47 milhões de euros.
O banco público justifica os prejuízos com provisões para imparidades de 6,7 milhões de euros, o impacto da desvalorização da carteira de dívida pública por causa da “volatilidade dos mercados devido ao brexit”, com um peso de 47,7 milhões de euros (em vez dos ganhos de um ano antes), e ainda os custos de capital, nomeadamente com os 900 milhões de capital contingente (CoCos), o dinheiro emprestado pelo Estado, além dos custos de reestruturação com o Plano Horizonte, que prevê a saída de mil funcionários e um impacto de 20 milhões de euros.
Estes deverão ser os últimos resultados da responsabilidade da equipa de gestão de José de Matos, que aguarda que a nova equipa liderada por António Domingues tenha a aprovação do BCE para sair do banco e numa altura em que este está a ser alvo de uma comissão parlamentar de inquérito, que recomeçará em setembro. A CGD vive com fortes necessidades de capital e o plano de recapitalização tem vindo a ser negociado entre o governo e Bruxelas e pode chegar aos cinco mil milhões de euros e implicar a redução de 2500 trabalhadores e encerramento de 300 balcões.
Apesar dos efeitos extraordinários, o resultado de exploração core, que resulta da soma da margem financeira estrita e das comissões, registou uma melhoria de 19,1%, somando 159,6 milhões de euros, “influenciado pelo bom comportamento da margem financeira estrita e dos custos operativos”.
A margem financeira estrita de 568,7 milhões de euros representou um crescimento de 5,5%, fruto da redução dos custos de funding e nos juros de operações ativas. Os efeitos extraordinários também levaram o produto bancário a cair 34,6%, alcançando 754,7 milhões de euros.
A CGD apresenta um rácio LRC de 193,5% e um CET1 phased in de 10% – que compara com 10,8% no mesmo período do ano anterior.
A nível operacional, o crédito a clientes bruto era em junho de 70 674 milhões de euros, uma queda de 2%. Já o rácio de crédito vencido há mais de 90 dias foi de 7,4%, o mesmo que um ano antes. O rácio de crédito em incumprimento aumentou um ponto percentual, para 9,8%; assim, o rácio de crédito vencido registou uma subida de dois pontos percentuais, para 8,1%. O crédito em risco fixou-se em 12,2% da carteira de crédito. Já os depósitos registaram um aumento de 3,2%. Em Portugal, o aumento foi de 2,5%, sobretudo devido aos depósitos de particulares, que cresceram 4,7%. Nas empresas também se registou um aumento de 1,8%.
A atividade da banca comercial nacional teve um impacto negativo no resultado bruto de exploração do banco, registando uma redução de 326 milhões de euros para um valor negativo de 83,6 milhões.
A Caixa Geral de Depósitos chegou ao final do semestre com uma redução de 31 agências em Portugal, totalizando agora 729 balcões.