Queda de Dilma é irreversível após nova derrota no Senado
Por 59 votos contra 21, presidente afastada foi confirmada ré. E já planeia viagem ao estrangeiro. Michel Temer deve passar de interino a definitivo dentro de duas semanas
Quase três quartos dos senadores aprovaram o relatório que pede a destituição de Dilma Rousseff (PT), numa sessão de mais de 15 horas, e tornaram a presidente afastada oficialmente ré no processo de impeachment. O resultado, considerado um espelho do que se vai passar no julgamento definitivo da petista dentro de dias, confirma o que há muito se esperava: Michel Temer, do PMDB, é o virtual presidente do Brasil. As dúvidas que subsistem são sobre quando será o julgamento – em princípio dia 29 de agosto –e o que fará Dilma até lá – se se defende em pessoa no Senado ou não – e depois de abandonar Brasília.
“A presidente pretende passar cerca de oito meses fora do Brasil depois que o processo de impeachment for votado”, adianta a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, referindo destinos próximos do país, como Argentina ou Chile, mas também longínquos, como zonas rurais de países europeus, entre as alternativas. Outras informações dão conta da vontade de Dilma ir de imediato para Porto Alegre, cidade onde tem residência particular e onde vivem a filha, o genro e os dois netos. Mas uma terceira versão revela que candidatos do PT a cargos municipais como as prefeituras de Recife ou Maceió, cidades do tradicional feudo petista no Nordeste brasileiro, já solicitaram a sua presença nas respetivas campanhas eleitorais com vista ao sufrágio marcado para outubro.
Enquanto isso, os próximos passos no Senado são a apresentação das testemunhas de acusação e de defesa. No segundo caso, continua em aberto a presença apenas de José Eduardo Cardozo, o aguerrido advogado de Dilma, ou a da própria presidente. Após essa etapa, dá-se o julgamento final onde 54 votos de 81 senadores serão suficientes para confirmar Michel Temer como presidente do Brasil.
Na votação de ontem, 59 senadores votaram pela continuação do processo, contra 21 que se manifestaram contra a queda da presidente. Ou seja, dos 20 que ainda se declaravam indecisos à entrada para o plenário, 16 votaram pelo impeachment e apenas três ao lado da presidente afastada. Renan Calheiros, presidente do Senado que passou o comando do julgamento ao homólogo do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, não votou. Os jornalistas que assistiram in loco à sessão relatam que a maioria dos senadores nem ouviu os discursos dos seus pares, mais preocupados em consultar telefones móveis e computadores para saber as últimas dos Jogos Olímpicos, tal era a certeza do resultado.
O relatório, escrito pelo senador Antonio Anastasia (PSDB), dizia, em traços gerais, que Dilma cometeu “um atentado à Constituição”. José Eduardo Cardozo comparou-o “à inquisição”.
Noutro campo, Temer obteve mais uma vitória ao garantir após negociações com a sua ampla base de apoio, que o julgamento de Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados, só será efetuado depois do de Dilma, para não causar ruído durante o impeachment.
Ontem e anteontem, entretanto, houve manifestações na Avenida Paulista, principal artéria de São Paulo, e em mais 11 estados do Brasil, contra o governo de Michel Temer e o resultado da votação dos senadores.
Lava-Jato e Lula Em paralelo, a Operação Lava-Jato, que investiga os desdobramentos do escândalo de corrupção na empresa estatal Petrobras, teve ontem nova fase, chamada Irmandade, em que foi detido o operacional da construtora Delta, Samir Assad.
Mas foi a decisão da Polícia Federal de ouvir Marisa Letícia, a mulher do ex-presidente Lula da Silva (PT), a propósito da suposta propriedade de um apartamento no Guarujá e de um sítio em Atibaia pagos por construtoras envolvidas na Lava-Jato, que mais se destacou nos noticiários. Em reação, Lula disse que “a intimação é uma prova cabal” de que a justiça não tem elementos contra ele.