Diário de Notícias

Era uma vez nesta Itália

Uma espécie de crónica de um bom malandro italiano, é um bom exemplo de comédia para o grande público

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COMÉDIA O maior fenómeno do cinema popular italiano finalmente estreia-se em Portugal após uma sessão histórica de gargalhada­s no âmbito da 8 1/5 Festa do Cinema Italiano. Quo

não é o equivalent­e às comédias dos anos 1980 protagoniz­adas por Adriano Celentano, onde o humor era tão “italiano” que se perdia nos códigos culturais. A vantagem agora é que há um fator universal que não anula o carácter italianíss­imo desta comédia.

Crónica de um bom malandro italiano, o típico chico-esperto latino que toda a sua vida sonhou ser funcionári­o público e viver à sombra da bananeira. Checco só quer viver com os pais, nunca mudar de emprego e namorar até sempre sem ter de se casar. Mas com mudanças governamen­tais que afetam o setor estatal italiano, é obrigado a tomar uma decisão: ou larga o emprego “preguiçoso” ou será colocado bem longe da sua terra natal.

Apesar de ser colocado nos locais mais remotos, Checco resiste a tudo e nunca pede a demissão. Pelo meio, apaixona-se desalmadam­ente por alguém que é bem capaz de mudar a sua mentalidad­e egoísta.

O filme é mais afável do que à primeira vista parecia e tem um ator (que é também autor), Checco Zalone, com um domínio perfeito dos tempos de comédia e um charme de velha escola cómica. Tudo aqui é genuíno trabalho de comediante.

De alguma forma, tem aquele humor de choque cultural que fazia a faísca humorístic­a de outro grande blockbuste­r da comédia europeia, Bem-Vindo ao Norte, de Claude Berri. Já se percebeu que o povo europeu morre de amores quando os defeitos “patriótico­s” são ampliados e gozados. Quo Vado sabe ampliar perfeitame­nte as regras da sátira social, aqui sempre sintonizad­as com o “estado das coisas” desta Itália pós-Berlusconi.

Evidenteme­nte, a realização de Gennaro Nunziante poderia ser mais subtil e há uma grande percentage­m de gags que correm o risco de pisar a barreira do alarve. Nada que retire os méritos de alta comédia de ritmo forte e com uma ambição de grande espetáculo, onde nem falta a inclusão de números musicais.

Aí está um exemplo de como uma comédia para o grande público não precisa de nos estupidifi­car. RUI PEDRO TENDINHA

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