Habte, o etíope que escolheu a natação para ser diferente
Tal como em Sydney 2000, os 100 metros livres voltaram a ter um nadador atípico
Robel Kiros Habte não conquistou nenhuma medalha, bem longe disso, mas viveu um dia que jamais irá esquecer. Foi ovacionado pelo público que assistia, na piscina olímpica, às eliminatórias dos 100 metros livres. Isto apesar de ter sido, provavelmente, o pior nadador a entrar em prova nos Jogos do Rio de Janeiro. E de resgatar a memória do célebre Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, nos Jogos de Sydney 2000. Mas já lá vamos...
Habte, de 24 anos, foi o representante da Etiópia na natação, um país mais conhecido pelas suas estrelas nas provas de fundo de atletismo, mas, como o próprio afirmou, optou pelas piscinas porque “queria ser diferente”. É o único nadador profissional do seu país, mas as diferenças físicas para os adversários eram bem visíveis logo à partida... desde logo por uma barriga saliente, em vez do corpo musculado da concorrência. Cumpriu a distância em 1.04,95 minutos. Ou seja, mais 17,05 segundos do que o mais rápido, Kyle Chalmers, da Austrália. Ainda assim, um tempo mais aceitável do que o da outra “estrela” olímpica que em 2000 deixou o mundo espantado: Eric Moussambani, que percorreu a mesma distância em 1.52,72 minutos. Na altura, este guineense também foi aplaudido de pé durante a prova e, incrivelmente, não ficou em último porque dois outros nadadores foram desclassificados por falsa partida.
Moussambani apareceu em cena com um pequeno calção de banho azul e uma técnica desajeitada. Começara a nadar a sério poucos meses antes dos Jogos de Sydney, assim que a Guiné recebeu o convite do Comité Olímpico Internacional. Passou então a treinar na piscina de 12,5 metros de um hotel, largando de vez os lagos. Hoje, “a enguia”, como foi batizado pelos ingleses, é o selecionador de natação da Guiné Equatorial e, graças à sua epopeia nos Jogos, o país tem agora duas piscinas de 50 metros, como a que ele viu pela primeira vez em Sydney.
Robel Kiros Habte parece bem melhor do que Moussambani, mas entra desde já na história do Rio 2016. “Não foi o meu melhor tempo hoje. Faço 59 segundos, mas nadei 1,04. Não sei dizer porquê. Mas são os Jogos Olímpicos e estou muito feliz por ter aqui estado”, finalizou o radiante etíope.