Diário de Notícias

Em Stamford Bridge nem todos sentem saudades do “inimigo” Mou

No regresso de Mourinho à casa do Chelsea, adeptos blues estão gratos ao treinador português mas já viraram a página

- NUNO COELHO

Menos de um ano depois de ter sido despedido, pela segunda vez, do Chelsea, José Mourinho volta hoje a Stamford Bridge, desta vez como manager do rival Manchester United. Não será, porém, uma experiênci­a nova para o técnico setubalens­e, a de se sentar no banco reservado ao treinador visitante – já aconteceu quando dirigia o Inter de Milão, na caminhada rumo à conquista da sua segunda Liga dos Campeões –, mas vai fazê-lo pela primeira vez enquanto responsáve­l de outra equipa inglesa, a mesma que curiosamen­te apadrinhou a sua estreia oficial pelos blues na Premier League em 2004, que viria a conquistar.

Na primeira aparição como “inimigo”, em 2010, pelo Inter, a resposta dos adeptos londrinos foi, como não podia deixar de ser, agradável. Quando o seu nome foi anunciado na constituiç­ão das equipas, as bancadas mostraram faixas e cantaram o nome do homem que transformo­u o Chelsea num clube vencedor, colocando-o na rota dos títulos, mesmo que no final “José” tenha levado a melhor (o Inter venceu por 1-0) e não se tenha contido, como prometera, na altura em que Eto’o fez o único golo do encontro, já perto do fim.

Hoje, no entanto, ao entrar em Stamford Bridge como treinador de um dos rivais diretos dos blues, a história pode ser diferente. “Não o irei aplaudir” Essa, pelo menos, é a opinião de Dave Johnstone. Diretor do fanzine CFCUK e adepto desde sempre dos londrinos, começou a seguir o clube na década de 1970 e mais intensamen­te a partir de 2003. Desde essa data até hoje falhou apenas cinco jogos do Chelsea – e só depois do nascimento do filho George –, tendo presenciad­o todos os outros, fosse em casa, fora ou no estrangeir­o.

“Espero que ele não seja apupado, mas também não o irei aplaudir”, começou por confessar ao DN, não deixando ainda assim de reconhecer que “algumas pessoas no Chelsea ainda veneram o chão que ele pisa”. “Mas eu não!”, assinalou, antes de justificar: “Deixei de estar apaixonado por ele durante a sua segunda passagem pelo clube. Não foi por causa da última época, foi muito antes disso, antes mesmo de ele ter ganho a liga. Se na primeira passagem pelo Chelsea ele era o Special One, na segunda disse que era o Happy One mas não creio que se sentisse feliz. Esteve bem nas primeiras semanas, mas passado pouco tempo mudou. O José Mourinho da segunda vez não era o mesmo José Mourinho da primeira.” O melhor, mas... “Muitos dos adeptos, eu incluído, lamentámos que ele se fosse embora, mas o ambiente no clube nessa altura era muito tóxico. Muito do que se passou foi culpa dele, mas a reação dos jogadores deixou muito a desejar”, assinalou, por seu turno, David Chidgey, presidente do Chelsea Supporters’ Trust ao The Guardian, ressalvand­o estar a falar a título pessoal.

Essa opinião, a de que os jogadores foram os grandes culpados do que se passou no ano passado (num texto em que pede aos restantes adeptos para “deixarem os apupos em casa”), foi também partilhada por Clayton Beerman, blogger do site The Chelsea Fancast e autor do livro Palpable Discord: A Year of Drama and Dissent at Chelsea (sobre a última temporada dos blues e que o próprio considerou uma “carta de amor” a Mou), algo com que Dave Johnstone não concorda: “A sua saída era inevitável. Foi uma época muito má para ele. A forma como tratou as pessoas foi inacreditá­vel, arrogante para além de todos os limites. Os adeptos do Chelsea estarão sempre gratos por aquilo que ele fez pelo clube e pelos troféus que conquistou, foi um dos melhores treinadore­s da nossa história, mas estragou a sua reputação. Não devia ter sido despedido da primeira vez, mas uma das suas imagens de marca é a de nunca durar mais de duas épocas e meia num clube. As pessoas fartam-se dele.”

“Ele foi um dos melhores treinadore­s que tivemos, senão o melhor. É assim que o lembro. Adorei a mentalidad­e que trouxe para o Chelsea, tornou a equipa numa máquina vencedora. Se esta tivesse sido a primeira vez que ele tinha sido despedido e regressass­e para outro clube da Premier League teria ficado muito magoado e zangado. Mas ele saiu, voltou e saiu outra vez. Talvez tenha sido a conclusão natural do seu tempo connosco e é-me indiferent­e para onde ele foi a seguir”, referiu, por seu turno, David Chidgey: “Seria rude não lhe dar alguma hospitalid­ade antes do jogo. Mas assim que o apito soar, ele é o inimigo.”

Quanto ao próprio Mourinho, não se mostra muito incomodado com o assunto, dizendo saber o que significa para os adeptos blues. “Fiz apenas o meu trabalho. Eles deram-me o seu amor e apoio e isso é o mais importante. Se agora decidirem ter uma abordagem diferente em relação a mim continuare­i a respeitá-los”, afirmou o português, na véspera da partida da nona jornada da Premier League, em que o seu Manchester United entra em campo com dois pontos de desvantage­m em relação à equipa, agora, de Antonio Conte.

“Assim que soar o apito, ele é o inimigo”, diz líder dos adeptos blues

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Mourinho ganhou três campeonato­s pelo Chelsea, em duas passagens pelo clube londrino. Hoje regressa como treinador do Manchester United

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