ASSUNÇÃO CRISTAS
“ESTE ORÇAMENTO É MAU, MAS ERA PIOR NÃO TERMOS NENHUM” “O PS NUNCA MOSTROU VONTADE PARA NEGOCIAR O QUE QUER QUE SEJA” “É POSSÍVEL CONCILIAR UMA OPOSIÇÃO À CÂMARA E AO GOVERNO ATÉ ÀS LEGISLATIVAS”
O CDS-PP está a beneficiar de um desgaste da liderança do PSD? É isso que explica este resultado obtido nos Açores em contraponto ao mau resultado do PSD? Penso que o CDS está a fazer o seu trabalho, com muita intensidade, com muita paixão também, com muito compromisso. No caso dos Açores, eu empenhei-me pessoalmente, porque também não sei ser de outra maneira, e fui lá várias vezes, o que eu acho que também ajudou a motivar os nossos candidatos, o CDS-Açores e o resultado, que para nós foi muito positivo. E, portanto, subimos em percentagem, em votos expressos e em mandatos. Antes de pensar como é a posição relativa dos outros, eu gosto de pensar que o nosso trabalho, de facto, provou ser bom e teve um bom resultado. Na política há vencedores e vencidos. Refere o posicionamento do CDS com um trabalho que tem feito a diferença, porque tem apresentado muitas propostas. Pergunto-lhe se não é esse desgaste de liderança – o líder do PSD, por exemplo, não foi aos Açores –, se o CDS está mais recentrado em face de uma radicalização do PSD? Nós estamos centrados e, se quiser, recentrados em ter um discurso que toque a todas as pessoas e em que todas as pessoas se possam rever. Portanto, olhando para aquilo que são as questões quotidianas dos portugueses, tentando não ter um discurso excessivamente abstrato e procurando sempre ter exemplos concretos sobre o que é que nós estamos a propor. Isso aconteceu nos Açores, como acontece a nível nacional. O meu objetivo é fazer que o CDS cresça, seja nos Açores, seja nas autárquicas, seja depois nas legislativas, quando elas vieram a acontecer, no limite, no final desta legislatura. Precisamente, as próximas eleições são autárquicas, dentro de aproximadamente um ano. Está preparada para várias coligações com o PSD, nomeadamente para tentar conquistar autarquias à esquerda? Nós temos um histórico de coligações bem-sucedidas com o PSD. Neste momento, 22 coligações onde o CDS é poder com o PSD ou, nalguns casos, em que o apoio do CDS foi decisivo para conquistar câmaras à esquerda, embora não o suficiente para nós termos, por exemplo, um vereador. Temos duas onde apoiámos independentes: o Porto e Aguiar da Beira. E temos cinco onde somos poder autárquico sozinhos, uma delas, precisamente, em Velas, nos Açores, ilha de São Jorge, onde, aliás, o CDS passou a ser a segunda força naquela ilha. Portanto, em muitos casos é natural que as coligações se mantenham. É possível que se venham a negociar mais algumas e, noutros casos, é natural que nós abracemos um projeto autónomo, para reforçar o que temos ou para conquistar outras câmaras. No caso concreto, é candidata a presidente da Câmara de Lisboa. Admite ficar como vereadora? Cumpre o mandato que lhe derem os eleitores da capital? Eu vou trabalhar, mais uma vez, intensamente e dando tudo o que posso e o que sei para ter o melhor resultado possível para o CDS em Lisboa. Nós sabemos que a base de que partimos é uma base relativamente pequena: tivemos Paulo Portas com 7%, tivemos Maria José Nogueira Pinto com 5,9%. Mais atrás, temos o exemplo do Nuno Abecassis, que, esse sim, teve um excelente resultado que lhe permitiu depois governar a câmara, liderando uma coligação durante dois mandatos. Trabalharei, obviamente, para um objetivo máximo, sabendo que do que estamos a falar, do ponto de partida, é exatamente isto: 6%, 7% de votação autónoma do CDS. Portanto, é natural que seja eleita vereadora, e isso parece-me mais ou menos facilmente alcançável. O que eu lhe posso dizer é que esta decisão foi tomada pensando num ciclo de legislativas de quatro anos e, portanto, eu admito que seja perfeitamente possível conjugar uma oposição à câmara e uma oposição ao governo do país durante o tempo que, naturalmente, continuarmos a ter esta situação. Obviamente que eu vou trabalhar para ser presidente e posso dizer-lhes que, antes de ter anunciado a candidatura, já tínhamos no CDS um grupo a trabalhar para estudar um programa para cidade. Nesta semana, por exemplo, reuni-me com o Metropolitano e com a Carris; na semana passada reuni-me com a associação que congrega todas as associações de moradores de Lisboa; tenho falado com muitas pessoas que conhecem bem a cidade. Tenho estado a fazer o trabalho de casa com tranquilidade para ter, obviamente, um projeto muito mobilizador para cidade e para poder ambicionar o máximo. Só para ficar claro: assumirá a vereação até, pelo menos, ao momento em que for candidata a primeiro-ministro, como líder do CDS. Certamente, certamente. O PSD continua sem ter um candidato forte, admite que ainda possa ser apoiada pelo PSD ou já descartou essa hipótese? Isso são questões que o PSD tem de resolver, como é natural. Quando eu tomei esta decisão não deixei de falar, primeiro, com o presidente do PSD, e o PSD tem as suas circunstâncias, tem também os seus objetivos e o seu caminho. Portanto, a nossa decisão, no CDS, não estava dependente de um apoio do PSD. É óbvio que os objetivos, os esforços, os meios são completamente diferentes numa circunstância ou noutra. E, portanto, se o PSD encontrar um candidato, pois excelente; se a dada altura refletir e achar que o melhor para eles e o melhor para a cidade é apoiarem-me, pois excelente também. Agora, eu não estou à espera disso, com toda a franqueza. Gostava de ter Santana Lopes como adversário nesta corrida? Todos os adversários são, obviamente, muito interessantes e muito bem-vindos. E naturalmente… ... mas este é aquele por quem toda a gente espera, por isso é que lhe pergunto. Eu não faço as escolhas dos outros partidos. Os outros partidos saberão quem melhor têm para assu- Assunção Cristas está já no terreno a preparar um programa para se apresentar como candidata à Câmara de Lisboa. A questão da mobilidade é a que mais a incomoda
[Assumirá a vereação até, pelo menos, ao momento em que for candidata à
chefia do governo?] Certamente, certamente Se a dada altura [o PSD]
decidir que o melhor para eles e para a cidade é apoiar-me, pois excelente
mir estes desafios. O meu trabalho é, depois, mostrar que o CDS tem o projeto mais interessante, mais mobilizador, mais dinâmico e mais vivo para a cidade. De qualquer forma, o ex-presidente da câmara Carmona Rodrigues já anunciou que a vai apoiar. O que lhe pergunto é se a sua lista vai ser só com militantes do CDS ou se admite, de facto, contar com independentes como, por exemplo, Carmona Rodrigues. Claro que sim. A ideia da lista é alargá-la o mais possível. É, de facto, uma candidatura para alargar, mostrando às pessoas que nós temos uma ideia mas que estamos completamente abertos a juntar outras boas ideias para a cidade. O professor Carmona Rodrigues teve, enfim, a generosidade de partilhar comigo as suas visões sobre a cidade e também de me manifestar o seu apoio. Obviamente é de registar – eu fiquei muito satisfeita com isso e conto com ele para toda esta reflexão e para toda esta construção de um programa eleitoral. E se ele quiser voltar – embora eu ache que, na cabeça dele e na vida dele, esse capítulo está encerrado –, certamente que nós temos sempre uma lista aberta para o acolher a ele e a tantos outros. Tirando as obras, que são um problema transitório, que problemas estruturais identifica na cidade de Lisboa? Olhe, eu acho que nós temos um problema grande de mobilidade, fora as obras que, como diz, são transitórias, mas que mostram pouco respeito pelos lisboetas. Porque fazer tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo não é um sinal de grande respeito para com os habitantes da cidade, que têm de fazer a sua vida nela todos os dias. Mas também concordo que isso, depois, passa e as coisas ficam feitas. Agora, a mobilidade eu acho que é uma questão… E a cidade melhora? A cidade certamente que melhorará alguma coisa. Eu não sou do estilo de dizer mal de tudo. Eu vou gostar muito de estar nas praças que estão a ser feitas e que vão estar bonitas. Acho é que é poucochinho e é pouco centrar toda a atividade de uma câmara muito aí e em festas e foguetes. Acho que há mais para lá disso. E preocupamme questões que têm que ver com a parte social, nomeadamente com a situação dos idosos – Lisboa é uma das cidades europeias mais envelhecidas. Isso tem de fazer tocar muitas campainhas. O tema da demografia, como sabem, é um tema muito caro ao CDS, quer do ponto de vista da falta de natalidade quer do ponto de vista da proteção aos idosos e do envelhecimento ativo. E eu vejo aqui duas grandes áreas para olhar para a cidade e para puxar por esta agenda também na cidade de Lisboa. Eu dizia no outro dia que certamente que a praça ficará bonita, mas se nós não tivermos ninguém que vá à casa dos idosos, tirá-los de um quinto andar sem elevador… … para os levar lá. … para os levar a poder usufruir dessa praça é muito poucochinho. Ficará bonito e vazio? Não, ficará para os turistas. Mas é pouco para quem quer um projeto para os habitantes de Lisboa. Questões como a mobilidade, que me parecem muito relevantes e, hoje, nós vemos um problema crescente no metro, na Carris, porque não sei de onde virá o investimento público necessário para podermos fazer… Ou seja, se chegar à presidência do município, os transportes já serão públicos novamente, já estarão sob sua tutela. .. Não. Não é sob minha tutela. Tanto quanto eu julgo saber – mas este, lá está, é um outro tema que cruza a agenda nacional com a agenda autárquica… É o que o governo promete, não é? Entregar a… Pelo que eu percebi, da conversa aprofundada que tive com a administração do Metropolitano de Lisboa e da Carris, vão separar as empresas. Aparentemente, há uma negociação em curso para a Carris entre a Câmara Municipal de Lisboa e o governo. O metro não, o metro ficará na alçada do governo, o que já de si sugere que pode não ser o melhor formato, porque sem dúvida que, independentemente de estarem juntas ou separadas, tem de haver uma extraordinária articulação entre estas várias empresas... Mas não é bom, para o projeto de mobilidade em Lisboa, ter a Câmara Municipal de Lisboa a gerir a Carris? Eu diria que pode ser bom se a Câmara Municipal de Lisboa tiver os recursos necessários para fazer os investimentos. Mas, nesse caso, até faria sentido ter a Carris e o Metro. O que eu acho é que o modelo que estava pensado pelo anterior governo, fruto (não só, mas também) de fortíssimas restrições financeiras, levava a que pudéssemos ter uma gestão integrada destes transportes, com uma subconcessão por oito anos, o que permitiria ser avaliada e, depois, daí se retirarem conclusões, mas com o investimento garantido. Neste momento, o que nós temos é o material circulante velho, no caso do Metropolitano, os autocarros velhos, no caso da Carris, sendo necessários investimentos que são muito grandes que vão ser feitos com mais dívida. Mais dívida pública, e isso preocupa-me. Acredita que as autárquicas podem funcionar como um cartão amarelo ao governo e à coligação de esquerda? E pergunto-lhe se as autárquicas, para si, também são… se também está dependente do resultado que conseguir. Ou seja, se este for fraco deixará a liderança do CDS? Olhe, tipicamente, em política diz-se que as autárquicas não têm uma leitura nacional, têm uma leitura local e cada autarquia é uma autarquia. Já caiu um governo por causa das autárquicas, o do engenheiro Guterres. Porém, na prática, na noite eleitoral todos os comentadores estão a fazer análises nacionais e a retirar imensas conclusões. Eu acho que entre uma coisa e outra estará a verdade. De facto, as eleições autárquicas são muito focadas na pessoa do candidato – e nós vemos isso um pouco por todo o país. E, por isso também, foi preciso ter a limitação de mandatos, porque senão as pessoas depois eternizam-se naqueles cargos. Por isso, acho que é preciso ter cautela com as leituras que se fazem. Dito isto, evidentemente que, para mim, é importante ter o melhor resultado possível. E como eu acho que com empenho e equipas motivadas vamos ter um bom resultado, eu espero que essa noite também seja uma noite boa e feliz para o CDS-PP. Mas admite que a liderança do partido estará dependente do seu resultado em Lisboa? Olhe, nem sequer isso me passa pela cabeça, porque o que me passa pela cabeça é trabalhar para ter um excelente resultado em Lisboa.
Na cabeça dele [Carmona Rodrigues] e na vida dele,
esse capítulo está encerrado, mas a lista está
aberta para o acolher A cidade melhorará alguma coisa. Eu vou gostar muito de estar nas
praças que estão a ser feitas e que vão ser bonitas As obras em todo o lado, ao mesmo tempo, não são um sinal de respeito para com os habitantes da cidade