Diário de Notícias

ASSUNÇÃO CRISTAS

“ESTE ORÇAMENTO É MAU, MAS ERA PIOR NÃO TERMOS NENHUM” “O PS NUNCA MOSTROU VONTADE PARA NEGOCIAR O QUE QUER QUE SEJA” “É POSSÍVEL CONCILIAR UMA OPOSIÇÃO À CÂMARA E AO GOVERNO ATÉ ÀS LEGISLATIV­AS”

- PAULO BALDAIA e ARSÉNIO REIS ASSUNÇÃO CRISTAS Presidente do CDS-PP

O CDS-PP está a beneficiar de um desgaste da liderança do PSD? É isso que explica este resultado obtido nos Açores em contrapont­o ao mau resultado do PSD? Penso que o CDS está a fazer o seu trabalho, com muita intensidad­e, com muita paixão também, com muito compromiss­o. No caso dos Açores, eu empenhei-me pessoalmen­te, porque também não sei ser de outra maneira, e fui lá várias vezes, o que eu acho que também ajudou a motivar os nossos candidatos, o CDS-Açores e o resultado, que para nós foi muito positivo. E, portanto, subimos em percentage­m, em votos expressos e em mandatos. Antes de pensar como é a posição relativa dos outros, eu gosto de pensar que o nosso trabalho, de facto, provou ser bom e teve um bom resultado. Na política há vencedores e vencidos. Refere o posicionam­ento do CDS com um trabalho que tem feito a diferença, porque tem apresentad­o muitas propostas. Pergunto-lhe se não é esse desgaste de liderança – o líder do PSD, por exemplo, não foi aos Açores –, se o CDS está mais recentrado em face de uma radicaliza­ção do PSD? Nós estamos centrados e, se quiser, recentrado­s em ter um discurso que toque a todas as pessoas e em que todas as pessoas se possam rever. Portanto, olhando para aquilo que são as questões quotidiana­s dos portuguese­s, tentando não ter um discurso excessivam­ente abstrato e procurando sempre ter exemplos concretos sobre o que é que nós estamos a propor. Isso aconteceu nos Açores, como acontece a nível nacional. O meu objetivo é fazer que o CDS cresça, seja nos Açores, seja nas autárquica­s, seja depois nas legislativ­as, quando elas vieram a acontecer, no limite, no final desta legislatur­a. Precisamen­te, as próximas eleições são autárquica­s, dentro de aproximada­mente um ano. Está preparada para várias coligações com o PSD, nomeadamen­te para tentar conquistar autarquias à esquerda? Nós temos um histórico de coligações bem-sucedidas com o PSD. Neste momento, 22 coligações onde o CDS é poder com o PSD ou, nalguns casos, em que o apoio do CDS foi decisivo para conquistar câmaras à esquerda, embora não o suficiente para nós termos, por exemplo, um vereador. Temos duas onde apoiámos independen­tes: o Porto e Aguiar da Beira. E temos cinco onde somos poder autárquico sozinhos, uma delas, precisamen­te, em Velas, nos Açores, ilha de São Jorge, onde, aliás, o CDS passou a ser a segunda força naquela ilha. Portanto, em muitos casos é natural que as coligações se mantenham. É possível que se venham a negociar mais algumas e, noutros casos, é natural que nós abracemos um projeto autónomo, para reforçar o que temos ou para conquistar outras câmaras. No caso concreto, é candidata a presidente da Câmara de Lisboa. Admite ficar como vereadora? Cumpre o mandato que lhe derem os eleitores da capital? Eu vou trabalhar, mais uma vez, intensamen­te e dando tudo o que posso e o que sei para ter o melhor resultado possível para o CDS em Lisboa. Nós sabemos que a base de que partimos é uma base relativame­nte pequena: tivemos Paulo Portas com 7%, tivemos Maria José Nogueira Pinto com 5,9%. Mais atrás, temos o exemplo do Nuno Abecassis, que, esse sim, teve um excelente resultado que lhe permitiu depois governar a câmara, liderando uma coligação durante dois mandatos. Trabalhare­i, obviamente, para um objetivo máximo, sabendo que do que estamos a falar, do ponto de partida, é exatamente isto: 6%, 7% de votação autónoma do CDS. Portanto, é natural que seja eleita vereadora, e isso parece-me mais ou menos facilmente alcançável. O que eu lhe posso dizer é que esta decisão foi tomada pensando num ciclo de legislativ­as de quatro anos e, portanto, eu admito que seja perfeitame­nte possível conjugar uma oposição à câmara e uma oposição ao governo do país durante o tempo que, naturalmen­te, continuarm­os a ter esta situação. Obviamente que eu vou trabalhar para ser presidente e posso dizer-lhes que, antes de ter anunciado a candidatur­a, já tínhamos no CDS um grupo a trabalhar para estudar um programa para cidade. Nesta semana, por exemplo, reuni-me com o Metropolit­ano e com a Carris; na semana passada reuni-me com a associação que congrega todas as associaçõe­s de moradores de Lisboa; tenho falado com muitas pessoas que conhecem bem a cidade. Tenho estado a fazer o trabalho de casa com tranquilid­ade para ter, obviamente, um projeto muito mobilizado­r para cidade e para poder ambicionar o máximo. Só para ficar claro: assumirá a vereação até, pelo menos, ao momento em que for candidata a primeiro-ministro, como líder do CDS. Certamente, certamente. O PSD continua sem ter um candidato forte, admite que ainda possa ser apoiada pelo PSD ou já descartou essa hipótese? Isso são questões que o PSD tem de resolver, como é natural. Quando eu tomei esta decisão não deixei de falar, primeiro, com o presidente do PSD, e o PSD tem as suas circunstân­cias, tem também os seus objetivos e o seu caminho. Portanto, a nossa decisão, no CDS, não estava dependente de um apoio do PSD. É óbvio que os objetivos, os esforços, os meios são completame­nte diferentes numa circunstân­cia ou noutra. E, portanto, se o PSD encontrar um candidato, pois excelente; se a dada altura refletir e achar que o melhor para eles e o melhor para a cidade é apoiarem-me, pois excelente também. Agora, eu não estou à espera disso, com toda a franqueza. Gostava de ter Santana Lopes como adversário nesta corrida? Todos os adversário­s são, obviamente, muito interessan­tes e muito bem-vindos. E naturalmen­te… ... mas este é aquele por quem toda a gente espera, por isso é que lhe pergunto. Eu não faço as escolhas dos outros partidos. Os outros partidos saberão quem melhor têm para assu- Assunção Cristas está já no terreno a preparar um programa para se apresentar como candidata à Câmara de Lisboa. A questão da mobilidade é a que mais a incomoda

[Assumirá a vereação até, pelo menos, ao momento em que for candidata à

chefia do governo?] Certamente, certamente Se a dada altura [o PSD]

decidir que o melhor para eles e para a cidade é apoiar-me, pois excelente

mir estes desafios. O meu trabalho é, depois, mostrar que o CDS tem o projeto mais interessan­te, mais mobilizado­r, mais dinâmico e mais vivo para a cidade. De qualquer forma, o ex-presidente da câmara Carmona Rodrigues já anunciou que a vai apoiar. O que lhe pergunto é se a sua lista vai ser só com militantes do CDS ou se admite, de facto, contar com independen­tes como, por exemplo, Carmona Rodrigues. Claro que sim. A ideia da lista é alargá-la o mais possível. É, de facto, uma candidatur­a para alargar, mostrando às pessoas que nós temos uma ideia mas que estamos completame­nte abertos a juntar outras boas ideias para a cidade. O professor Carmona Rodrigues teve, enfim, a generosida­de de partilhar comigo as suas visões sobre a cidade e também de me manifestar o seu apoio. Obviamente é de registar – eu fiquei muito satisfeita com isso e conto com ele para toda esta reflexão e para toda esta construção de um programa eleitoral. E se ele quiser voltar – embora eu ache que, na cabeça dele e na vida dele, esse capítulo está encerrado –, certamente que nós temos sempre uma lista aberta para o acolher a ele e a tantos outros. Tirando as obras, que são um problema transitóri­o, que problemas estruturai­s identifica na cidade de Lisboa? Olhe, eu acho que nós temos um problema grande de mobilidade, fora as obras que, como diz, são transitóri­as, mas que mostram pouco respeito pelos lisboetas. Porque fazer tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo não é um sinal de grande respeito para com os habitantes da cidade, que têm de fazer a sua vida nela todos os dias. Mas também concordo que isso, depois, passa e as coisas ficam feitas. Agora, a mobilidade eu acho que é uma questão… E a cidade melhora? A cidade certamente que melhorará alguma coisa. Eu não sou do estilo de dizer mal de tudo. Eu vou gostar muito de estar nas praças que estão a ser feitas e que vão estar bonitas. Acho é que é poucochinh­o e é pouco centrar toda a atividade de uma câmara muito aí e em festas e foguetes. Acho que há mais para lá disso. E preocupamm­e questões que têm que ver com a parte social, nomeadamen­te com a situação dos idosos – Lisboa é uma das cidades europeias mais envelhecid­as. Isso tem de fazer tocar muitas campainhas. O tema da demografia, como sabem, é um tema muito caro ao CDS, quer do ponto de vista da falta de natalidade quer do ponto de vista da proteção aos idosos e do envelhecim­ento ativo. E eu vejo aqui duas grandes áreas para olhar para a cidade e para puxar por esta agenda também na cidade de Lisboa. Eu dizia no outro dia que certamente que a praça ficará bonita, mas se nós não tivermos ninguém que vá à casa dos idosos, tirá-los de um quinto andar sem elevador… … para os levar lá. … para os levar a poder usufruir dessa praça é muito poucochinh­o. Ficará bonito e vazio? Não, ficará para os turistas. Mas é pouco para quem quer um projeto para os habitantes de Lisboa. Questões como a mobilidade, que me parecem muito relevantes e, hoje, nós vemos um problema crescente no metro, na Carris, porque não sei de onde virá o investimen­to público necessário para podermos fazer… Ou seja, se chegar à presidênci­a do município, os transporte­s já serão públicos novamente, já estarão sob sua tutela. .. Não. Não é sob minha tutela. Tanto quanto eu julgo saber – mas este, lá está, é um outro tema que cruza a agenda nacional com a agenda autárquica… É o que o governo promete, não é? Entregar a… Pelo que eu percebi, da conversa aprofundad­a que tive com a administra­ção do Metropolit­ano de Lisboa e da Carris, vão separar as empresas. Aparenteme­nte, há uma negociação em curso para a Carris entre a Câmara Municipal de Lisboa e o governo. O metro não, o metro ficará na alçada do governo, o que já de si sugere que pode não ser o melhor formato, porque sem dúvida que, independen­temente de estarem juntas ou separadas, tem de haver uma extraordin­ária articulaçã­o entre estas várias empresas... Mas não é bom, para o projeto de mobilidade em Lisboa, ter a Câmara Municipal de Lisboa a gerir a Carris? Eu diria que pode ser bom se a Câmara Municipal de Lisboa tiver os recursos necessário­s para fazer os investimen­tos. Mas, nesse caso, até faria sentido ter a Carris e o Metro. O que eu acho é que o modelo que estava pensado pelo anterior governo, fruto (não só, mas também) de fortíssima­s restrições financeira­s, levava a que pudéssemos ter uma gestão integrada destes transporte­s, com uma subconcess­ão por oito anos, o que permitiria ser avaliada e, depois, daí se retirarem conclusões, mas com o investimen­to garantido. Neste momento, o que nós temos é o material circulante velho, no caso do Metropolit­ano, os autocarros velhos, no caso da Carris, sendo necessário­s investimen­tos que são muito grandes que vão ser feitos com mais dívida. Mais dívida pública, e isso preocupa-me. Acredita que as autárquica­s podem funcionar como um cartão amarelo ao governo e à coligação de esquerda? E pergunto-lhe se as autárquica­s, para si, também são… se também está dependente do resultado que conseguir. Ou seja, se este for fraco deixará a liderança do CDS? Olhe, tipicament­e, em política diz-se que as autárquica­s não têm uma leitura nacional, têm uma leitura local e cada autarquia é uma autarquia. Já caiu um governo por causa das autárquica­s, o do engenheiro Guterres. Porém, na prática, na noite eleitoral todos os comentador­es estão a fazer análises nacionais e a retirar imensas conclusões. Eu acho que entre uma coisa e outra estará a verdade. De facto, as eleições autárquica­s são muito focadas na pessoa do candidato – e nós vemos isso um pouco por todo o país. E, por isso também, foi preciso ter a limitação de mandatos, porque senão as pessoas depois eternizam-se naqueles cargos. Por isso, acho que é preciso ter cautela com as leituras que se fazem. Dito isto, evidenteme­nte que, para mim, é importante ter o melhor resultado possível. E como eu acho que com empenho e equipas motivadas vamos ter um bom resultado, eu espero que essa noite também seja uma noite boa e feliz para o CDS-PP. Mas admite que a liderança do partido estará dependente do seu resultado em Lisboa? Olhe, nem sequer isso me passa pela cabeça, porque o que me passa pela cabeça é trabalhar para ter um excelente resultado em Lisboa.

Na cabeça dele [Carmona Rodrigues] e na vida dele,

esse capítulo está encerrado, mas a lista está

aberta para o acolher A cidade melhorará alguma coisa. Eu vou gostar muito de estar nas

praças que estão a ser feitas e que vão ser bonitas As obras em todo o lado, ao mesmo tempo, não são um sinal de respeito para com os habitantes da cidade

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