“Os menos esclarecidos chamam-lhes adoradores do diabo”
Qual a origem do povo yazidi? Não se sabe ao certo a origem deste povo, desta identidade. Possivelmente são uma reformulação, com algum sincretismo com o islão e o cristianismo, das antigas religiões persas, especialmente o zoroastrismo e o culto a Mitra. A origem geográfica deve encontrar-se maioritariamente na atual Síria e no Iraque. Quais as suas crenças religiosas? Trata-se de uma religião monoteísta, em que se encontra patente, na figura de sete anjos, algumas funções como que delegadas por Deus. Desse grupo de sete anjos, que atuam no mundo como imagem de Deus, salientase o Anjo Pavão, uma figura que vem na tradição das divindades que reinam sobre o mundo (o anjo chama-se Melek Taus e a palavra melek quer dizer rei). Este anjo acabou por ser sincretizado com o Anjo Caído da tradição judaico-cristã-islâmica. Assim, o seu nome é também Iblis, o nome do Diabo no Alcorão. Por isso são tidos por muitos muçulmanos menos esclarecidos como “adoradores do diabo”. Porque foram tão perseguidos pelos terroristas do autoproclamado Estado Islâmico? Além de não serem muçulmanos, pelo facto de serem “adoradores do diabo”; isto é, por adorarem o Anjo Pavão, Melek Taus, assimilado ao Iblis corânico, o diabo. Como será a sua integração em Portugal? A integração de membros deste grupo em nada diferirá das restantes. Não vejo aspeto algum que seja mais desafiante, inibidor ou de risco do que com as restantes comunidades da região, sejam islâmicas, cristãs ou yazidis, que têm sido acolhidas. Podem existir choques culturais? Como em todos os casos de acolhimento de comunidades estrangeiras. Nada de muito diferente do que acontece com outros grupos. Os refugiados que têm sido acolhidos em Portugal têm sido dispersos por todo o país, para evitar a guetização? Os yazidis são uma comunidade que não se separa. Devem manter-se juntos? Essa é sempre uma dúvida nestes processos: espalhar os membros do grupo pode ajudar à integração na população de acolhimento. Mas a manutenção em grupo reforça as formas de entreajuda... Nenhuma solução é perfeita. O mais importante é fazer nos locais de acolhimento uma boa pedagogia junto das populações, para que a relação com a envolvente seja sem preconceitos.