Diário de Notícias

EMPATE 1-1 COM GUIMARÃES ESFRIA GOLEADA ELEITORAL DE BRUNO DE CARVALHO

Bruno de Carvalho entra no segundo mandato com obra feita, com o mais desejado ainda por fazer, e talvez fosse útil baixar a tensão interna, que o levou a desafiar ex-presidente­s, treinadore­s e jogadores. Ganhou as eleições pelos seus méritos mas a oposiç

- MANUEL QUEIROZ

Ser campeão nacional de futebol

› Nos quatro anos do seu primeiro mandato não conseguiu ser campeão em nenhuma modalidade importante (a não ser futsal). Até aqui tinha a desculpa da herança, mas agora já não a pode invocar. Tem feito um grande investimen­to no andebol e hóquei em patins e ainda não teve essa sorte. No futebol fez o maior orçamento de sempre do clube – como era necessário e possível devido à melhoria financeira, às qualificaç­ões para a Champions e às vendas de passes de jogadores por preços inéditos na história do clube – mas uma Taça de Portugal e uma Supertaça é pouco. Depois de 1982, o Sporting só foi campeão duas vezes (2000 e 2002) e um dos objetivos é continuar a aumentar os gastos com o futebol para poder jogar com armas iguais, mas é ainda um clube sob assistênci­a e que não tem liberdade para decidir todas as suas políticas. É inegável que é preciso melhorar o scouting e estabelece­r a hierarquia clara de que quem manda são os dirigentes.

Manter (ou não) Jorge Jesus

› Aparenteme­nte, está tudo bem entre presidente e treinador, mas o padrão de Bruno de Carvalho tem sido outro, o que tem levado a turbulênci­a interna que os sócios nem sempre têm percebido. Jorge Jesus significa um gasto que está acima dos cânones da boa gestão. Passado (há ano e meio...) o triunfo de o roubar ao vizinho, convém aprender com os erros: quem faz as contrataçõ­es é a SAD, de acordo com o treinador e não ao contrário. Houve demasiados erros mesmo nestas duas épocas. Jesus aceitará isso depois de ter tido o poder todo? E de se ter vangloriad­o disso publicamen­te? É uma dúvida. Aos 62 anos o treinador pode aceitar uma experiênci­a no estrangeir­o depois de uma época frustrante em Alvalade. Jesus não podia ser tema para Bruno de Carvalho antes das eleições. A partir de agora é outro tempo...

Pagar 44 M de VMOC B até 2024 (ou antes)

› A promessa é ter na conta restrita, a 31 de julho, um terço dos 44 milhões necessário­s para comprar os valores mobiliário­s obrigatori­amente convertíve­is B (VMOC), que têm prazo até 2024 (as VMOC A, no valor de 55 milhões, devem ser pagas com uma emissão de VMOC C). Se for possível comprar antes, ótimo, e é provável que seja. É uma forma de consolidar o controlo por parte do clube (e dos seus sócios) sobre a SAD, embora por estas alturas não se saiba se isso será importante a meio da próxima década. Mas hoje é. Ou seja, assume-se que, pela primeira vez em muitos anos, se consegue pagar as despesas correntes e ainda poupar algum para dar conta dos atrasados que a banca, com alguma generosida­de, tem permitido que sejam reestrutur­ados com um juro de 4%, mas que só é pago em caso de lucros (deve haver esta época, o que deixa curiosidad­e em ver os números finais). No complexo plano do acordo com a banca, não totalmente conhecido, há ainda outras dificuldad­es, mas a maior é poder perder a maioria da SAD. Os bancos não têm nenhuma vontade de ser acionistas de empresas de futebol, mas podem arranjar um comprador, estrangeir­o por exemplo, com dinheiro e tempo para esperar até ter a maioria.

Equipa B ou satélite, Centro de Alto Rendimento do Atletismo, polo tecnológic­o do museu no Pavilhão João Rocha

› A equipa B existirá pelo menos mais uma época (acordo com a Liga acaba em 2018) e depois há caminhos em aberto: pode manter-se, pode haver uma equipa satélite, mas hoje o Benfica mostra que se torna decisiva a política de empréstimo de jogadores, que potencia equipas capazes de ganhar aos rivais. Bruno de Carvalho tem de responder nos mesmos termos. Das 111 medidas do programa, é interessan­te a criação do Centro de Alto Rendimento do Atletismo, para o qual já haverá parceiro definido. O polo tecnológic­o do museu, que vai existir no Pavilhão João Rocha – a obra física deste regime que será inaugurado no final do mês –, será uma forma de responder aos modernos museus do Benfica e do FC Porto.

Melhorar liderança interna

› Um dos problemas de Bruno de Carvalho tem sido a frente interna. Descrito por ex-funcionári­os como alguém capaz de não cumprir compromiss­os, de “ser desrespeit­oso”, de “ser errático”, o presidente do Sporting trocou várias vezes de diretor comercial, de homens do futebol (Inácio e não só...), tem voltado atrás com antigos funcionári­os que mandou embora (Manuel Fernandes, mas há mais...), são muitos os dirigentes que se incompatib­ilizaram ou se afastaram, como tem sido um problema para treinadore­s (há dias o clube despediu o do andebol, Zupo Equisoain, por ter perdido um jogo com o FC Porto e apesar do segundo lugar do campeonato). No futebol foi o que se sabe (quantos treinadore­s já houve na equipa B?), e mesmo nesta época houve notícias de afastament­o entre Bruno e Jesus. Bruno criou uma imagem, mas internamen­te as pessoas têm desconfian­ças em relação aos seus métodos. A liderança interna é essencial, nomeadamen­te para conseguir que todas as estruturas do clube e da SAD estejam unidas. Não aconteceu demasiadas vezes nestes quatro anos e vai ser preciso reduzir a conflitual­idade interna. A verdade é que a experiênci­a de Bruno de Carvalho era diminuta e, reconheça-se, eram muitos os problemas. Aos 45 anos, feitos no mês passado, tem de ser internamen­te um líder muito mais consistent­e. Nem todos os problemas são causados pelos adversário­s...

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