Diário de Notícias

QUER FICAR NA UE E VAI ESCOLHER ENTRE PORTUGAL E ÁUSTRIA

Sem um novo país na União Europeia para se registar, a operação da easyJet fica ameaçada. A companhia britânica escolhe o país para onde irá em maio. Em causa está o registo de entre cem e duzentos aviões

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

Portugal está na fila para receber a nova subsidiári­a da easyJet na União Europeia. A companhia aérea decide em que país vai pedir um novo Certificad­o de Operação Aérea (COA) até final de maio, e fontes ligadas ao processo admitem que a escolha irá recair ou em Portugal ou na Áustria. O novo registo na UE chegará como forma de contornar os entraves à circulação de pessoas que o brexit ameaça trazer.

Ao que o DN/DinheiroVi­vo apurou, tem havido conversas com o governo português desde a segunda metade do ano passado, centradas na criação de uma marca nacional que permita à companhia low-cost manter a sua operação na União Europeia.

A easyJet é britânica, mas tem na sua génese 40% de capital cipriota, o que permite cumprir com alguma facilidade as regras europeias que regem a aviação.

Como britânica, a companhia tem um COA no Reino Unido – a sede é em Luton –, e tem um segundo na Suíça, porque não poderia operar no país de outra forma. Com o brexit, a empresa precisa de uma terceira licença. “A easyJet mantém o seu compromiss­o com o Reino Unido e tomou passos para garantir o futuro no negócio depois do resultado do referendo”, afirmou John Barton, chairman do grupo, no último relatório e contas. A empresa tinha já tinha dito formalment­e, no final do verão de 2016, que “como parte de um plano de contingênc­ia pré-referendo tivemos discussões informais com vários reguladore­s de aviação europeus sobre o registo de operação aérea num país europeu. Agora começámos um processo formal para adquirir um COA”.

Na prática, o que se discute é a criação de uma nova empresa easyJet num país da União Europeia. Se Portugal for o escolhido, como algumas fontes apontam, a companhia passa a ter uma marca portuguesa, com registo de frota e a sua base em Portugal. Isto não significa que os aviões da companhia passem fisicament­e para Portugal, mas ficam registados em Lisboa. Este registo será, depois, visível no nariz do avião, que ostentará a bandeira nacional, e nas taxas que a empresa passa a pagar em Portugal. Estima-se que possam passar para o registo da União Europeia entre cem e duzentos aviões.

Com a operação em território da União Europeia, a marca deixa de ficar à mercê do pacote de saída do Reino Unido da UE, que ainda não está decidido, mas pode vir a bloquear a livre circulação de pessoas e bens de empresas de transporte britânicas em território da União Europeia. Ligações domésticas na UE, como Lisboa-Madrid, estariam comprometi­das.

Questionad­a, a easyJet remeteu comentário­s para as declaraçõe­s da CEO, Carolyn McCall, no ano passado. A presidente da easyJet disse já que a empresa “não se pode dar ao luxo de esperar para ver o que acontece com o brexit”, mas rejeitou uma mudança de sede de Luton para outro país, bem como a realização de despedimen­tos no Reino Unido.

Ao DN/DinheiroVi­vo, fonte ligada ao processo confirma o interesse em Portugal, mas garante que “ainda é cedo para confirmar se a escolha recairá em Portugal”, uma vez que “o processo de saída da União Europeia continua muito tremido”.

Portugal é, segundo o ATW, meio especializ­ado em aviação, e que confirma também um interesse da companhia na Áustria, “um dos países da UE em que é mais fácil obter-se um certificad­o de operação aérea”. Em todo o caso, o processo está longe de ser imediato: é que a obtenção de uma licença do regulador implica, na prática, a criação de uma nova companhia, e exige a fiscalizaç­ão de vários documentos e a inspeção de todos os aviões que passem para a empresa. Os especialis­tas dizem, por isso, que um processo deste género nunca demora menos de um ano.

A companhia de aviação britânica estima custos à volta de dez milhões de euros para pedir um novo registo de operação e alterar as matrículas da sua frota.

Recentemen­te a Eurowings, subsidiári­a da Lufthansa, recebeu um certificad­o de operação da Áustria, tal como aconteceu com a Etihad. Em Portugal, existe o exemplo da NetJets, que tem uma génese norte-americana, mas opera na Europa através de um registo português. A sede desta empresa de aviação privada é em Oeiras.

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Companhia de baixo custo tem sede em Luton, no Reino Unido, e pretende manter esta posição. Pode, no entanto, acrescenta­r certificad­os ao seu registo

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