Do sétimo país na União Europeia com mais mães adolescentes para o 12.º lugar
Portugal já esteve entre os países com maior taxa de gravidez entre adolescentes, mas tem descido posições no
MATERNIDADE A posição de Portugal em relação ao resto dos países da União Europeia tem vindo a melhorar no que diz respeito aos nascimentos entre raparigas com idade inferior a 20 anos. A percentagem destes nascimentos situava-se em 2014 (últimos dados disponíveis) nos 3,02%, o que coloca Portugal no 12.º lugar na UE. Mas não foi sempre assim. Na década de 80, a percentagem era de 11,35% e Portugal encontrava-se em sétimo lugar.
“Quando comparamos o número de adolescentes que são mães, continuamos logo a seguir a Inglaterra. Se compararmos o número de adolescentes com interrupções de gravidez, estamos muito atrás de muitos países europeus”, desta- ca Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa da Contraceção. A especialista em ginecologia e obstetrícia, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, lembra que “temos educação sexual, temos consultas para adolescentes e métodos de contraceção gratuitos”.
Poucos países da Europa têm uma política de saúde semelhante à de Portugal. “Apenas os países do Norte da Europa têm este tipo de
interrupções da gravidez Em 2015, foram realizadas 1708 interrupções voluntárias da gravidez no grupo etário dos 15 aos 19 anos, e 68 antes dos 15 anos. intervenção em adolescentes, mas cursam com taxas de interrupção de gravidez muito mais elevadas.”
Analisando os dados da Organização Mundial da Saúde, a Hungria (14,48%), a Bulgária (13,4%), a Roménia (12,76%) e a Grécia (12,59%) eram em 1980 os países com maior taxa de nascimentos em mulheres com idade inferior a 20 anos.
Em 2014, o top era liderado pela Bulgária (9,45%), Roménia (9,51%), Hungria (6,66%) e Eslováquia (6,31%). Já Portugal, passou do 7.º lugar nos anos 80 para o 12.º em 2014, um pouco acima da média da União Europeia, que nesse ano se situou nos 2,71%. “Já não estamos tão mal se nos compararmos com os outros países europeus, mas também não estamos tão bem como o Norte da Europa, nomeadamente como a Holanda e a Suécia”, frisa Elsa Mota, psicóloga da Divisão de Saúde Sexual Reprodutiva, Infantil e Juvenil da Direção-Geral da Saúde (DGS). Diz que é preciso assumir que a gravidez na adolescência é um indicador de pobreza. Para minimizar ainda mais o problema, é necessário melhorar as condições de vida das famílias. Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa da Contraceção, considera que a nova geração tem mais informação e mais expectativas, ou, pelo menos, expectativas que não passam por ter filhos em idade precoce. Como vê a descida do número de mães adolescentes em Portugal nos últimos anos? Este é um indicador favorável da evolução do país. A gravidez na adolescência, e mais especificamente o número de adolescentes que são mães, é um dos indicadores de pobreza de um país. Basta olhar para o resto do mundo. O diminuir deste número é o resultado de várias condições: a natalidade baixou globalmente, a literacia aumentou, o número de anos da escolaridade obrigatória também, há acesso a uma educação e informação diferentes. Houve um aumento da riqueza das famílias, o que, de alguma maneira, permite que os filhos tenham expectativas diferentes dos pais. Obviamente, houve também maior divulgação e acessibilidade à contraceção. Um dado positivo é que esta quebra não foi acompanhada de um aumento da interrupção voluntária da gravidez nestas faixas etárias... O início da atividade sexual acontece em idades mais jovens, o número de gravidezes e partos em adolescentes baixa sem que tenha aumentado o número de interrupções neste grupo etário. Também sabemos que passaram a usar mais contraceção. Digamos que, globalmente, a nova geração está mais bem informada e parece tender a ter mais expectativas ou expectativas individuais diferentes que não passam por serem pais em idades em que ainda devem ser filhos. Apesar desta quebra, continuamos a ter uma média de seis adolescentes mães por dia. O que está a falhar? Continuamos a ter um problema social grave. Continua a haver gravidez na adolescência em grupos sociais carenciados, maioritariamente onde a gravidez na adolescência não é um novo acontecimento, mas sim um acontecimento de repetição. O que falha: melhorar as condições de vida da população. Há menos gravidez na adolescência, mas continuam a verificar-se situações sociais muito graves e estas, infelizmente, não diminuíram. É nas famílias mais carenciadas que este acontecimento se continua a verificar. O número de adolescentes institucionalizadas com filhos proporcionalmente não diminui, o número de famílias a receber rendimento de inserção social também não, o número de jovens com situações sob orientação da proteção de menores também não diminui proporcionalmente. O que é que é preciso fazer para evitar a gravidez na adolescência? Melhorar a vida da população. É preciso investir na melhoria da exclusão social e assumir definitivamente que este é um indicador de pobreza. Se uma jovem de 15 ou 16 anos, sabendo que existe contraceção, sabendo que se engravidar pode interromper a gravidez e decide (consciente ou inconscientemente) engravidar e continuar a gravidez, assumindo este como o único projeto de vida que tem, alguma coisa está a correr mal... No rendimento da família, que não consegue ter padrões de identificação que permitam aos seus filhos “sonhar diferente” para si. Como é que isso se altera? É preciso continuar a trabalhar educação sexual e tornar a contraceção acessível para todos. Temos de melhorar o nível de educação e sobretudo o rendimento das famílias. Não vou dizer que são só os com mais dificuldade e menos literacia que são pais na adolescência, mas sobretudo estes e ainda são muitos... JOANA CAPUCHO