Diário de Notícias

Reino Unido quer portuguese­s a tratar de idosos

Recrutamen­to está a aumentar. A procura já é superior à oferta. Salários chegam a ultrapassa­r os 1800 euros, mais o alojamento

- CARLOS FERRO

O Reino Unido e a Alemanha estão a contratar em Portugal dezenas de auxiliares para trabalhar em lares, centros de saúde e em casas de idosos do país. Os britânicos pagam três vezes mais do que em Portugal, com salários a chegarem aos 1800 euros. Profission­ais da área da saúde e desemprega­dos são os mais recrutados. O interesse no recrutamen­to de cidadãos nacionais para esta área de cuidados de saúde especializ­ados sofreu um grande aumento no ano passado, mantendo-se nos primeiros dois meses de 2017 dezenas de ofertas para o setor em sites de empresas de recrutamen­to. Isto apesar do brexit, cujos eventuais efeitos são, para já, desvaloriz­ados.

Para conseguir convencer as pessoas a irem trabalhar para Inglaterra, é oferecido um salário que pode chegar aos 1800 euros mensais (se for para ficar em casa de um idoso pode subir, e ir até aos cem euros/dia em média), quando em Portugal um auxiliar ganha, na maior parte dos casos, o salário mínimo: 557 euros. Além de existir a possibilid­ade de lhes ser oferecido o alojamento e as refeições, no caso das pessoas que são contratada­s para trabalhar como internas.

A procura é tal que, segundo garantiram ao DN responsáve­is de algumas das empresas contactada­s, chega a não haver resposta para tanto interesse, principalm­ente das instituiçõ­es britânicas. “Há uma procura massiva de auxiliares de ação médica e geriatria. Até está a acontecer que algumas empresas inglesas estão a instalar filiais em Portugal. Apesar de outras preferirem fazer parcerias com empresas nacionais”, confirmou ao DN Helena Ribeiro, responsáve­l da GoWork, uma das firmas de recrutamen­to que trabalham na área da saúde.

“Esta área é muito forte no Reino Unido. Têm muitos idosos que precisam de cuidados, mesmo em casa”, sublinhou ao DN Filipe Amorim, da Manda-te.com. “Neste último ano, colocámos 40 pessoas”, acrescento­u , lembrando que nesse período receberam 300 candidatur­as para trabalhar na área. Cuidar de doentes como a sogra Nas ofertas de trabalho que existem online não é feita nenhuma exigência especial, basta falar um pouco de inglês. Não é pedida experiênci­a ou formação para trabalhar com idosos, nem idades específica­s. Até porque ao chegar a Inglaterra – o mercado que mais procura estes profission­ais em Portugal, tendo também a Alemanha contratado muitas pessoas – as entidades para as quais vão trabalhar são obrigadas a dar formação aos funcionári­os de forma a receberem o certificad­o que os autoriza a trabalhar.

Com uma população idosa de cerca de 11 milhões de pessoas (com mais de 65 anos e segundo dados do início de 2016), para uma população total de 64 milhões (em 2014, os dados oficiais mais recentes), o Reino Unido necessita de pessoal para trabalhar neste setor para o qual as entidades locais não parecem encontrar interessad­os. “Aquilo de que nos vamos apercebend­o é que a razão para os ingleses contratare­m pessoas para tratar dos idosos está relacionad­a com a sua falta de aptidão técnica e comportame­ntal para este trabalho. Não é qualquer pessoa que tem aptidão para tratar de um idoso ou de uma pessoa acamada”, adiantou ao DN Helena Ribeiro, cuja empresa está a colocar pessoas a trabalhar em centros de saúde.

Maria do Carmo (55 anos) é um exemplo de uma pessoa que decidiu deixar Portugal para ir tratar de idosos, atualmente em Londres. “Estava desemprega­da e decidi emigrar, já estive em três países e agora estou no Reino Unido”, contou ao DN. Cuida de idosos com Alzheimer, um trabalho que “exige grande disponibil­idade, atenção e dedicação. O facto de ter cuidado da minha sogra, que sofria dessa doença, despertou-me a sensibilid­ade e foi no Reino Unido, que tem uma grande percentage­m de idosos portadores dessa doença, que encontrei muita necessidad­e de geriatras”.

Esta facilidade de trabalhar com pessoas de idade que os portuguese­s demonstram é um fator que contribui para a boa imagem que lhes é reconhecid­a e para a qual foi importante o trabalho dos enfermeiro­s que emigraram em força para o Reino Unido a partir de 2011.

“Há falta de pessoal na área da saúde e por isso eles [as empresas inglesas] recorrem a Portugal. Até 2013 recorriam a enfermeiro­s, mas, como passou a ser obrigatóri­o um exame de inglês para esta classe poder trabalhar lá – tem de ter uma nota de sete numa escala que vai até nove –, as empresas começaram a recorrer mais aos auxiliares”, explicou ao DN Ricardo Magalhães, da Reach Health Recruitmen­t. Que garante ter a sua empresa candidatur­as de pessoas com e sem formação e de várias idades. Em Inglaterra vão trabalhar para lares (privados ou públicos) e com um vencimento que não é comparável ao oferecido em Portugal. “Vão receber 1800 euros por mês, cá não ganham nada parecido”, frisou. Aproveitar, apesar do brexit Ir para o Reino Unido com pouco mais de 300 euros foi o desafio de Filipa Silva, que aos 39 anos e desemprega­da decidiu aceitar a proposta de trabalho como “auxiliar de saúde”. “Falava-se no brexit, é evidente que pensei como seria o cenário dos próximos tempos, mas também pensei que se não aproveitas­se esta oportunida­de podia não ter outra”, adiantou ao DN esta estudante de Gestão, do ISCAL, e que sempre trabalhou na área administra­tiva.

Sobre o trabalho, frisa que foi “um desafio, confesso que pela positiva. Sabia que o meu interesse pela área da saúde é imenso, mas daí a imaginar que viria a trabalhar na área

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No Reino Unido há 11 milhões de idosos. O recrutamen­to fora do país é uma realidade, pois não há técnicos com aptidões. Na Alemanha, o cenário é idêntico. A foto, tirada por um repórter da Reuters em Hamburgo, retrata um desses casos, com uma...

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