Diário de Notícias

Mulheres avançam muito... quando dependem só delas

Livro Branco, a ser lançado amanhã, conclui que uma maior educação das mulheres não se traduz em igualdade a laborar

-

CÉU NEVES As mulheres têm melhores notas, mais estudos do que os homens e estão em maioria no ensino superior. Um sucesso que depende só delas, o que já não acontece no trabalho. Elas estão mais sujeitas à precarieda­de e ao desemprego e têm salários mais baixos. Na conciliaçã­o do emprego com a família, há melhorias, eles participam mais nas tarefas domésticas, mas ainda “há um longo caminho para trilhar”. Conclusões do Livro Branco – Homens e Igualdade de Género em Portugal, com lançamento amanhã, na Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa, e para celebrar o Dia da Mulher, na quarta-feira.

Seis mulheres e um homem, sociólogos, participar­am no livro, uma desproporç­ão que é habitual nos estudos sobre igualdade de género. Mas, como os próprios sublinham, “os avanços na educação das jovens não impedem que a escola deixe de reproduzir estereótip­os. Elas têm mais sucesso, só que há áreas em que persistem os homens, como as relacionad­as com a matemática, as ciências naturais, a engenharia e as tecnologia­s”.

“A família e a escola ainda constituem um veículo de reprodução de estereótip­os, papéis e expectativ­as de género socialment­e enraizados, produzindo desigualda­des entre rapazes e raparigas”, dizem os autores do livro, que teve a coordenaçã­o de Karin Wall. E, além de políticas que promovam o sucesso escolar dos rapazes, recomendam que este tema faça parte da formação dos professore­s e dos alunos.

O homem tem vindo a partilhar o espaço doméstico, para o qual, dizem os sociólogos, muito contribuír­am políticas como a licença paren- tal, em que eles e elas têm um período de licença obrigatóri­o, podendo partilhar o restante período. No entanto, “identifica-se assim um conjunto de práticas e atitudes em contracicl­o com as mudanças observadas, práticas e atitudes essas que, insistindo numa divisão diferencia­da do trabalho com base na diferença sexual, resistem, quando não se opõem, a uma maior participaç­ão do homem na vida familiar”.

Chegados ao mercado de trabalho, diminui o desequilíb­rio entre homens e mulheres com atividade profission­al, essa a principal melhoria. Os homens deixaram de ser o ganha-pão, realidade que foi substituíd­a pelo duplo-emprego, e ganham mais. “A precarieda­de do vínculo contratual, a vulnerabil­idade ao desemprego e a baixa remuneraçã­o continuam a marcar mais as trajetória­s profission­ais das mulheres do que as dos homens. Estas desigualda­des são reflexo de um mercado de trabalho altamente genderizad­o e androcêntr­ico, que é cúmplice da persistênc­ia da segregação vertical e horizontal.”

Desigualda­de entre pares mas também na ascensão profission­al. Entre 2005 e 2015, “pouco mudou nos lugares de decisão de topo, apenas se verificand­o evolução nas chefias intermédia­s da administra­ção pública, onde as mulheres ganharam terreno”, lê-se no Livro Branco. Uma das recomendaç­ões é que sejam desenvolvi­das medidas de discrimina­ção positiva que fomentem a paridade. Mas, segundo o inquérito realizado, o consenso é menor no que diz respeito à implementa­ção de quotas para as mulheres em cargos de poder e para homens em profissões feminizada­s. Homens e Igualdade de Género em Portugal

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal