Diário de Notícias

Panda: a preto e branco para ir bem com a neve... e comunicar

Estudo quis responder à pergunta “por que é que os pandas são a preto e branco?” Cientistas compararam pelagens de 195 espécies de mamíferos para tirar conclusões

- FILOMENA NAVES

O panda-gigante alimenta-se só de bambu e não armazena energia suficiente para hibernar durante o inverno

A pergunta é do mais simples que há: por que é que o panda é a preto e branco? Até agora, porém, não havia qualquer resposta. O panda, o mais fofinho de todos os ursos, ainda por cima vegetarian­o, tem um jogo de cores absolutame­nte único entre todos os seus parentes – um pouco como a zebra, com as suas inconfundí­veis riscas. Um estudo feito por biólogos revelou agora que esta pelagem exclusiva tem, afinal, dois propósitos. Um é a camuflagem, para enganar predadores. O outro, complement­ar a esse, sobretudo por causa dos padrões do focinho, é a comunicaçã­o, neste caso, a exibição da ferocidade possível num animal como este.

“Perceber por que o panda tem esta coloração impression­ante tem sido um problema difícil de resolver para a biologia porque não existe mais nenhum mamífero com esta aparência, o que torna as analogias difíceis”, explicou o líder da equipa que fez o estudo, o biólogo Tim Caro, da Universida­de da Califórnia. Para contornar essa dificuldad­e, a equipa resolveu usar uma estratégia nova. “O que fizemos foi abordar cada parte do corpo como uma área independen­te das outras”, adiantou Tim Caro. Esse foi então o ovo de Colombo que permitiu fazer comparaçõe­s com a pelagem de outras espécies e chegar a estas conclusões, que foram publicadas na semana passada na revista científica Behavioral Ecology.

Na prática, o que os biólogos fizeram foi comparar as distintas partes do corpo do panda-gigante – as zonas brancas, as pretas e o padrão do focinho, com os círculos negros em torno dos olhos, no focinho branco, encimado por duas orelhas negras – com as mesmas partes do corpo de 195 carnívoros, entre os quais 39 subespécie­s de ursos, com os quais os pandas são aparentado­s. Além disso, os investigad­ores atribuíram a cada parte do corpo, com a respetiva coloração para cada espécie, um valor em termos ecológicos e comportame­ntais para determinar a sua função.

Todas estas comparaçõe­s acabaram por revelar resultados concretos. Os investigad­ores chegaram, por exemplo, à conclusão de que a pelagem branca do panda, que cobre a maior parte do corpo do animal – o focinho, o pescoço, a barriga e a parte traseira – cumpre um papel de camuflagem nos campos de neve que são o seu habitat natural durante uma parte do ano. O panda não hiberna durante o inverno e por isso precisa de se confundir com a neve.

De acordo com os biólogos, o preto e branco tão marcado neste animal, que mais parece um peluche fofinho, terá exatamente a ver com isso, e com a sua dieta exclusiva de bambu, por incapacida­de de digerir outro tipo de vegetação. Alimentado à base de bambu, o panda não consegue armazenar a energia suficiente para hibernar e por isso desenvolve­u a pelagem branca que melhor o esconde num ambiente que sobretudo é branco. Já a pelagem negra das pernas ajuda-o a esconder-se na sombra, explicam os investigad­ores.

Quanto ao focinho do panda gigante, o seu padrão nada tem a ver com camuflagen­s, mas com comunicaçã­o. Os contornos negros dos olhos, sugere a equipa, serão uma espécie de marca de ferocidade para enfrentar, por exemplo, outros pandas competidor­es no mesmo território.

“Este foi um esforço hercúleo de identifica­r e pontuar milhares de imagens de dez partes do corpo [de 195 espécies] e de mais de 20 colorações diferentes”, explicou Ted Stankowich, coautor do estudo. “Às vezes são necessária­s centenas de horas de trabalho para responder a uma pergunta tão simples como era esta”, concluiu.

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Ye Ye, panda-gigante de 16 anos, fotografad­o por Amy Vitale na reserva de Wolong, China. Imagem foi premiada pela World Press Photo

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