Marine Le Pen vota em Fillon teimoso
Ainda há dias, Charles Consigny, conhecido cronista da direita francesa, defendeu o programa de François Fillon, o candidato presidencial da direita, com este acrescento: “Claro, seria preferível que ele (Fillon) passasse o programa a outro...” Isto é, o processo judicial a Fillon – por empregos fictícios dados à mulher e dois filhos – parecia ter fragilizado definitivamente a candidatura: ele caiu nas sondagens (já não iria à segunda volta) e foi abandonado por dezenas de notáveis dirigentes da direita. Ora, ontem, esse infeliz candidato conseguiu um enorme apoio em Paris. Grande manifestação contra os juízes, acusados de intenções políticas, e contra o “cobarde abandono” da direita ao seu candidato... Pode parecer um cenário de um homem contra todos, como já vimos em caso recente, onde a pertinácia de um solitário acaba por colher a simpatia das multidões. Mas também se pode ser cínico: as primárias da direita, em novembro, foram abertas a todos os votantes e Alain Juppé, o candidato mais bem colocado para bater Marine Le Pen, foi afastado. Aquelas primárias podem ter sido o primeiro passo da recomposição de parte da direita, aproximando-se da extrema-direita. E entre as dezenas de milhares de apoiantes de ontem certamente que essa nova identidade estaria bem representada. Compreendese, pois as últimas sondagens, com Fillon substituído por Juppé, dizem que este seria o candidato que mais facilmente bateria Marine Le Pen.