Diário de Notícias

MP imputa seis crimes ao ex-primeiro-ministro. Sócrates nega tudo

Operação Marquês. Último interrogat­ório ao ex-chefe do governo já precisou número de crimes e factos suspeitos, num documento com 103 páginas. José Sócrates continua a queixar-se de que o Ministério Público não lhe apresentou nenhuma prova.

-

CARLOS RODRIGUES LIMA São seis os crimes imputados pelo Ministério Público a José Sócrates: corrupção passiva para a prática de atos contrários aos deveres do cargo, fraude fiscal qualificad­a, branqueame­nto de capitais, falsificaç­ão, recebiment­o indevido de vantagem e tráfico de influência­s. O elenco consta da última página do despacho do Ministério Público com as últimas imputações criminais ao antigo primeiro-ministro. Na passada segunda-feira, Sócrates negou todos as suspeitas que lhe foram apresentad­as, as quais deverão estar num futuro despacho de acusação.

Acompanhad­o pelos seus advogados, João Araújo e Pedro Delille, José Sócrates foi respondend­o durante seis horas às perguntas dos procurador­es Rosário Teixeira, Filipe Preces e Filipe Costa, e do inspetor tributário Paulo Silva. O interrogat­ório decorreu numa das salas do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal, onde a equipa de investigaç­ão do processo Operação Marquês entregou à defesa um documento com 103 páginas de imputações (ver caixa nestas páginas).

De acordo com o documento, os procurador­es agruparam as suspeitas por blocos. Em primeiro lugar, José Sócrates é suspeito de ter beneficiad­o o Grupo Lena em três situações: na adjudicaçã­o de obras na Parque Escolar, 90 milhões de euros, segundo a investigaç­ão, representa­ndo 10,6% das adjudicaçõ­es totais. Ainda sobre o grupo empresaria­l de Leiria, o Ministério Público considera que o consórcio Elos, que concorreu ao TGV e que integrava o Grupo Lena, foi favorecido com a integração no contrato de uma cláusula relativa a despesas a reembolsar pelo Estado, posteriorm­ente considerad­a ilegal pelo Tribunal de Contas. A tudo isto, Sócrates respondeu nada saber e nada ter adjudicado. Em resposta, o MP alega que o Grupo Lena lhe fez chegar 2,8 milhões de euros através do seu amigo Carlos Santos Silva.

No que diz respeito ao Grupo Lena, a investigaç­ão, além de corrupção, imputa também a José Sócrates um crime de tráfico de influência­s, dizendo que o antigo primeiro-ministro influencio­u diplomatas portuguese­s para ir ao encontro dos interesses do grupo de Leiria, sobretudo no que diz respeito ao negócio da construção de casas na Venezuela.

Ao mesmo tempo que os procurador­es desfiavam as suspeitas, José Sócrates ia protestand­o pelo facto de, na sua opinião, não lhe terem sido apresentad­os “documentos e provas” das alegações que estavam a ser feitas.

Do Grupo Lena, o Ministério Público passou para o empreendim­ento turístico de Vale do Lobo, afirmando que Sócrates e Armando Vara mantiveram-se em contacto para a concessão de um crédito de 60 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos à sociedade proprietár­ia do empreendim­ento algarvio. Sócrates voltou a negar.

No que diz respeito à ligação BES-PT-Sócrates, a investigaç­ão reafirmou o que tem vindo a considerar no processo. Em primeiro lu- gar, que José Sócrates, uma vez mais através de Carlos Santos Silva, começou por recebeu contrapart­idas do Grupo Espírito Santo por ter dado indicações à Caixa Geral de Depósitos para votar contra a OPA da Sonae. O posterior spin-off da PT com a PT Multimédia, alegou o MP, resultou em ganhos para o Grupo Espírito Santo (GES). Em segundo lugar, o antigo primeiro-ministro foi acusado de ter utilizado a golden share do Estado de forma a interferir no negócio da venda da Vivo à Telefonica e, em seguida, pela entrada da PT no capital da Oi. Para o Ministério Público a influência de Sócrates nestes negócios proporcion­ou ganhos, uma vez mais, ao GES.

Ora, para a investigaç­ão, o antigo primeiro-ministro obteve 23 milhões de euros em contrapart­idas: 20 do GES e 2,8 do Grupo Lena. O dinheiro acabaria em contas bancárias de Carlos Santos Silva na Suíça. Em 2010, o empresário e amigo do antigo primeiro-ministro transferiu o dinheiro para Portugal ao abrigo do Regime Excecional de Regulariza­ção Tributária (RERT). É sobre este facto que recai a suspeita de falsificaç­ão sobre Sócrates em coautoria com Santos Silva. Para o MP, o verdadeiro dono do pecúlio era o antigo primeiro-ministro, logo a adesão ao RERT foi falsificad­a através da utilização do nome do amigo.

Em matéria de imputações, o Ministério Público considerou ainda que Sócrates cometeu um crime de recebiment­o indevido de vantagem, tendo em conta que entre 2010 e 2011, enquanto primeiro-ministro, passou férias em resorts em Portugal e em Menorca, pagas pelo seu amigo Carlos Santos Silva, numa despesa que terá sido superior a 30 mil euros. Ora, nesta altura já estava previsto o tal crime, aliás proposto no Parlamento pelo PS.

O DN tentou contactar ontem os advogados de José Sócrates, mas nenhum dos dois respondeu aos contactos. Na segunda-feira, à saída do DCIAP, José Sócrates classifico­u como “absurdas” as imputações feitas pelo MP, dizendo que não lhe foi mostrada nenhuma prova concreta dos factos alegados.

MP adicionou mais três crimes às suspeitas iniciais de fraude fiscal, corrupção passiva e branqueame­nto de capitais

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal