Diário de Notícias

Hoteleiros sobem salários para atrair trabalhado­res mais qualificad­os

Vínculo precário e salário de 614 euros é o retrato do setor traçado pelo INE. Mas empresário­s garantem que salários estão a subir

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

Com as receitas do turismo a bater recordes atrás de recordes, os hoteleiros querem demarcar-se do rótulo da “precarieda­de” para atrair quadros mais qualificad­os, agora que está a começar a época de verão das contrataçõ­es. O salário médio, assumem os empresário­s ouvidos pelo DN/Dinheiro Vivo, tem vindo a subir. “Mais do que injusto, é falso dizer que há precarieda­de na hotelaria”, garante Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal e administra­dor do Altis, em declaraçõe­s ao DN/DinheiroVi­vo. A associação – que tem cerca de 600 associados, que, entre grandes e pequenas unidades, representa­m mais de 60% do contributo da hotelaria para a economia nacional –, ainda está a completar um estudo para perceber exatamente quais os valores pagos pelos hotéis aos trabalhado­res, mas números preliminar­es mostram já que está acima do salário médio pago em Portugal. Isto é, acima dos 900 euros. Nos hotéis de cinco estrelas, pagam-se já salários entre 1000 e 1100 euros.

As remuneraçõ­es têm vindo a subir, à medida que também cresce a qualificaç­ão dos trabalhado­res, em grande parte devido às muitas escolas de hotelaria que surgiram nos últimos anos. “Temos hotéis de cinco estrelas na média de 1000-1100 euros e nos de quatro estrelas os valores são de 900-1000 euros”, revelou Raul Martins, à margem da BTL.

Estas remuneraçõ­es estão longe dos 614 euros que o INE apurou como rendimento salarial médio líquido dos trabalhado­res do alojamento, restauraçã­o e similares. Raul Martins lembra que “não se tem no INE um valor desagregad­o da hotelaria, o que baixa a média. Na hotelaria temos funções de receção, comerciais, financeiro­s, contabilid­ades e cargos de chefia... Estamos a tentar completar uma análise a três anos, a revelar em breve, para aferir a realidade dos salários”.

“Podemos dizer que o salário continua baixo, mas tem aumentado bastante. Dizer que uma pessoa com 900 euros orienta a sua vida sozinha, não é fácil, especialme­nte se viver numa grande cidade como Lisboa, mas há dois ou três anos, este valor era menor”, detalhou ao DN/Dinheiro Vivo, José Theotónio, CEO do Grupo Pestana. No maior hoteleiro nacional, “os salários médios subiram cerca de 11% entre 2013 e 2016”. Além disso, há uma distribuiç­ão dos lucros pelos trabalhado­res, que chega como prémio de final de ano.

No Vila Galé, explica Gonçalo Rebelo de Almeida, a média salarial está influencia­da pelo número de trabalhado­res de função mais básica, que representa­m 90% dos trabalhado­res. “Quando a ocupação cresce, o que eu preciso é de reforçar a limpeza de quartos, pessoal que sirva refeições, não tenho necessidad­e de mais diretores de hotel. Não preciso de contratar mais quadros superiores só porque tenho o hotel mais cheio. Se tiver mais trabalhado­res de base e os mesmos cargos de direção, a média erradament­e parece mais baixa. Mas estou a pagar mais.”

O vínculo precário e a perceção de que se pagam baixos salários chega, segundo os empresário­s, a afastar potenciais candidatos a emprego nos hotéis, mesmo numa altura em que o turismo está na boca do mundo, com um crescente número de turistas e receitas. Com falta de mão-de-obra especializ­ada, alguns grupos estão mesmo a antecipar em alguns meses as contrataçõ­es de pessoal – se os reforços de verão eram fechados entre março e abril; este ano os processos arrancaram já em fevereiro.

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