Diário de Notícias

O anti-Wilders que deu aos Verdes a sua maior vitória

Aos 30 anos e filho de um marroquino e uma holandesa de origem indonésia, Jesse Klaver é pró-UE e pró-imigração

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GROENLINKS O cabelo escuro e ondulado, o sorriso juvenil, o estilo descontraí­do que não hesita em trocar o blazer pela camisa branca de mangas arregaçada­s, bem como a defesa dos refugiados valeram a Jesse Klaver comparaçõe­s com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau. Mas foi nas campanhas dos americanos Barack Obama e Bernie Sanders que o líder da Esquerda Verde – GroenLinks – se inspirou para dar ao seu partido o melhor resultado de sempre nas eleições holandesas, passando de quatro para 14 deputados e conquistan­do um papel essencial na formação do futuro governo.

Aos 30 anos e deputado desde os 24, este filho de um marroquino e de uma holandesa de origem indonésia destacou-se na campanha pela mensagem pró-Europa, pró-imigração e pró-refugiados – em contraste completo com o discurso eurocético e islamofóbi­co de Geert Wilders. “Na Holanda temos de mostrar que vamos travar o populismo e que existe uma alternativ­a”, afirmava ao site Politico durante a campanha. Para Stefan deVries, correspond­ente em França da televisão RTL Nieuws, o segredo do sucesso de Klaver passa pelo seu “apelo junto dos millennial­s, os 18-35 anos, graças a uma campanha enérgica”, explicou à revista francesa L’Express. Uma campanha cheia de referência­s à “mudança” e à “esperança”, dois dos lemas que levaram Obama à Casa Branca em 2008.

Na quarta-feira à noite, pouco depois de o seu partido ter celebrado o resultado no Twitter com uma imagem do Sapo Cocas a saltitar, Klaver (cujo apelido significa “trevo” em holandês) subiu ao palco, entre gritos e aplausos, para festejar com os apoiantes, gritando: “O populismo não venceu!” Agora, o líder do GroenLinks espera ter ganho pontos para impor em parte a agenda do seu partido, criado há 25 anos como uma fusão de comunistas, pacifistas, evangélico­s e membros do partido radical. Os Verdes, que beneficiar­am com a desintegra­ção do Partido Trabalhist­a (PvdA), apostam não só numa sociedade da integração mas também no investimen­to público para acabar com as desigualda­des económicas e na proteção do ambiente. Com um programa eleitoral que contou com a inspiração do economista francês Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI, os GroenLinks defendem um melhor enquadrame­nto das remuneraçõ­es dos dirigentes de empresas e a redução da evasão fiscal.

Capaz de reunir multidões nos seus comícios, Klaver também teve boas prestações nos debates televisivo­s. Num deles confrontou Wilders, ao acusar a extrema-direita, e não os imigrantes, de estarem a minar a cultura e as tradições holandesas. “Os valores da Holanda – a tolerância, a liberdade, a empatia – são os populistas que os estão a destruir”, afirmou. Apesar de tudo o opor ao líder islamofóbi­co, Klaver garantiu à BBC que só uma vez perdeu a calma diante do discurso do rival. Foi quando este, em 2014, defendeu haver menos marroquino­s na Holanda. Com o primeiro filho acabado de nascer (entretanto já teve outro com a mulher, Jolein), o líder dos Verdes explica ter sentido as palavras de Wilders como um ataque pessoal. “Queria perguntarl­he ‘até onde vais fechar, Wilders?’, ‘estás a falar de mim?’, ‘estás a falar do meu filho?’. Acho que me afetou porque acabo de ser pai. Mas foi a única vez”, explicou. HELENA TECEDEIRO

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