Pazes feitas: a afirmação dos Korn em noite de celebração
Na quarta-feira não houve sistema de som que impedisse a banda de dar um espetáculo com os seus grandes êxitos em Lisboa
Jonathan Davis não passou ao lado do fiasco que foi o concerto no Rock in Rio e pediu desculpa aos fãs
PEDRO VILELA MARQUES Vamos fazer como nas sequelas do cinema e começar pela última cena do capítulo anterior, neste caso da peça com que o DN lançou o concerto dos Korn no Campo Pequeno, em Lisboa, que se realizou na quarta-feira à noite. “A questão que muitos colocarão é se este regresso às origens, a reclamar saltos das plateias, ainda faz sentido em 2017 e tem o mesmo efeito que teve na adolescência de há vinte anos, quando ainda eram novidade. Resta esperar pelo concerto para perceber se ainda geram a mesma reação ‘molas nos pés’ no público. Assim o sistema de som o deixe.” E a resposta é “sim”, “sim” e “talvez”.
Sim, o sistema de som deixou desta vez. Aliás, bastou ouvir o bem pesado concerto dos Heaven Shall Burn – que, com os Hellyeah, tiveram a missão de aquecer a plateia, que às 21.00 já estava repleta – para perceber que nada seria como no Rock in Rio 2016 e que desta vez o PA da banda não ia desiludir. Isto apesar de um ou outro aceno de descontentamento de Brian Head Welch em relação ao som da sua guitarra durante o espetáculo dos Korn.
Como seria de esperar, a banda não passou ao lado do fiasco de há cerca de 10 meses, quando, ao fim de três tentativas, teve de abandonar mais cedo o palco do Parque da Bela Vista, e pediu desculpa aos fãs portugueses. “Não foi culpa de ninguém. Demos concertos por todo o mundo e aquilo foi logo acontecer aqui. Em meu nome e de toda a banda, pedimos muitas desculpas”, disse Jonathan Davis, o vocalista da banda, logo na primeira vez que se dirigiu ao público que enchia o Campo Pequeno. Mas, nessa altura, já estavam perdoados há muito, o que nos leva ao segundo ponto afirmativo.
Sim, os Korn ainda geram o efeito “molas nos pés”. Desde os primeiros acordes de Right Now, a música que marcou o início da atuação dos californianos, que se percebeu que não havia qualquer ressentimento em relação à banda e que a noite ia ser de suor e muito trabalho para os seguranças, que durante hora e meia de concerto retiraram dezenas de espectadores que “surfavam” nas filas da frente. Saltos, muitos saltos, mosh e até uma wall of death durante a música Good God – em que a plateia foi dividida em dois até colidir ao som de why don’t you get the fuck out of my face gritado por Davis –, não faltaram demonstrações de dedicação.
Reações, diga-se, inteligentemente geridas pela banda, que criou uma verdadeira setlist de celebração, recheada de greatest hits, com apenas duas músicas do novo álbum num total de 15 tocadas, já contando com o encore que terminou ao som do hino Freak on a Leash. Mas serão essas demonstrações a prova de que os Korn ainda tocam da mesma forma as novas gerações como o faziam há duas décadas, eles que caminham para os 25 anos de carreira?
É aqui que entra o nosso “talvez”. Isto porque entre as muitas caras jovens na plateia se via o mesmo número de fãs já para lá dos trinta. E se olhássemos apenas para as bancadas, também elas quase completamente cheias, a balança desequilibrava-se a favor da “velha guarda”, fãs que ainda se lembram da primeira atuação dos Korn em Portugal, na passagem do milénio, no então Pavilhão Atlântico. E estes sabiam ao que iam: celebrar uma relação de décadas com a banda, que também terá ajudado a criar – juntamente com a expectativa da redenção da banda em relação ao Rock in Rio – um ambiente de especial excitação no Campo Pequeno. E diga-se que a dedicação foi recompensada. A banda, adulta e numa boa fase criativa depois de desavenças internas, deu-lhes o que eles queriam ouvir e fê-lo de forma quase sempre impecável, naquele que terá sido o seu melhor concerto no nosso país. Pazes feitas.