Federer está a envelhecer melhor do que Nadal
Aos 35 anos, suíço bateu o espanhol pela terceira vez consecutiva, feito inédito na longa história entre ambos
Aos 35 anos, a lenda viva do ténis não se limita a envelhecer bem. É em contínua renovação que Roger Federer prolonga a sua carreira no topo, num fenómeno de evolução da espécie que o confirma como um caso único na história da modalidade. O suíço está a confirmá-lo em IndianWells, em evidente contraste com aquele que outrora foi a sua némesis no circuito. No reencontro com Rafa Nadal, depois da final do Open da Austrália, Federer voltou a bater o espanhol com uma demonstração de superioridade incontestável, conseguindo encaixar uma série de três vitórias consecutivas sobre Nadal pela primeira vez na carreira.
Ao longo de uma década, entre 2004 e 2014, Federer sofreu para encontrar uma fórmula eficaz de contrariar o ténis de Nadal. Quando o espanhol lhe ganhou nas meias-finais do Open da Austrália de 2014, a relação de forças atingiu o ponto mais desequilibrado de sempre a favor do maiorquino: 23 vitórias contra apenas dez do suíço. Para o recordista histórico do grand slam, Nadal era a kryptonite que lhe anulava os habituais superpoderes em court.
De então para cá, ambos os jogadores foram confrontados com a realidade de um “envelhecimento” que trouxe marcas no corpo, obrigados a passar por lesões complicadas que lhes ameaçaram as carreiras. Mas, na luta contra o tempo, Federer tem demonstrado uma extraordinária capacidade de reinvenção do seu jogo que lhe permite, aos 35 anos, continuar entre a elite e a ganhar títulos do grand slam, como o fez no último Open da Austrália, perante Nadal.
Na vitória da madrugada de ontem sobre o espanhol, na quarta ronda de Indian Wells, Federer desmontou como nunca o jogo do adversário, também já entrado nos 30 (o n.º 6 ATP faz 31 neste ano), apresentando uma “esquerda” letal que destroçou os habituais topspins de Nadal e sustentou uma vitória rápida, em pouco mais de uma hora (1h08m), por 6-2 e 6-3. Foi a terceira partida mais rápida de sempre entre os 36 duelos que compõem uma das maiores rivalidades do ténis.
“Nunca o vimos bater esquerdas destas”, lançou-lhe Mary Carrillo, a comentadora do Tennis Channel, no final da partida. “Eu também não”, concordou, bem-disposto, o suíço, que atualmente fecha o top 10 do ranking ATP. Na verdade, já na final do major australiano, em janeiro, Federer mostrara uma esquerda capaz de responder bem aos golpes de Nadal, superando assim uma dificuldade histórica nos duelos com o espanhol, que sempre explorou a esquerda do suíço com as suas pancadas em topspin (efeito na parte superior da bola).
Uma novidade fruto da parceria com o seu treinador dos últimos 15 meses, Ivan Ljubicic? Federer concede, mas lembra que a primeira pessoa a aconselhá-lo a fazer isto foi mesmo o pai: “Ele já há muito me dizia para bater o raio da esquerda.” Certo é que, aos 35 anos, Roger Federer continua a mostrar uma inesgotável vontade de melhorar o seu ténis, readaptando-se como um verdadeiro camaleão às diferentes condições que o corpo e a concorrência lhe vão impondo.
Foi por isso que, ao longo dos últimos anos, já trintão, empreendeu alterações tão significativas quanto a utilização de uma nova e maior raquete, o recurso mais frequente ao serviço e vólei, ao chip and charge (subida rápida à rede na resposta) ou ainda ao inovador SABR, que o próprio Federer engendrou e que consiste em adiantar-se uns metros no court para a resposta aos segundos serviços dos adversários.
“Bater o Rafa três vezes consecutivas é um superfeeling, posso as- segurar-vos”, comentou o tenista suíço. “Estou a divertir-me muito em court, porque sinto que posso jogar de muitas formas diferentes. As coisas saem mais facilmente do que nunca”, acrescentou Federer, que agora vai ter pela frente, nos quartos-de-final, um duelo geracional ante o bad boy australiano Nick Kyrgios, de 21 anos, que bateu o sérvio ex-número um mundial Novak Djokovic, pela segunda vez consecutiva em 2017.
Aí, Federer vai ter de mostrar de novo a sua capacidade para se adaptar, desta vez ao serviço poderoso de Kyrgios. “Serviu de forma fabulosa”, reconheceu Djokovic, derrotado por 6-4 e 7-6 sem sequer ter tido um ponto de break para quebrar o serviço ao australiano.