Diário de Notícias

Que se lixem as eleições e... o partido

- PAULO TAVARES

Ao fim de meses de convites e recusas – não foram poucos os nomes sondados, tendo tudo começado com a aposta em Santana Lopes, sensato o suficiente para rejeitar a aventura –, Teresa Leal Coelho deverá ser apresentad­a neste domingo como candidata do PSD à Câmara Municipal de Lisboa. Obviamente, nos próximos dias vamos ouvir os dirigentes social-democratas mais chegados ao líder dizer que foi cumprido o tempo e o modo definidos por Passos Coelho, que não houve atrasos e que esta é uma escolha de primeira linha, que é uma candidatur­a ganhadora, que muito orgulha o partido, que Teresa Leal Coelho é a pessoa certa para mudar a cidade e aplicar o projeto do PSD para a capital, etc.

Todas as evidências acumuladas nos últimos meses contam uma história bem diferente. Esta escolha pessoal de Passos Coelho diz muito sobre o estado da sua liderança. Passou meses em busca de um candidato, os seus emissários foram colecionan­do rejeições e acabou reduzido ao mais íntimo círculo de lealdade partidária. No fundo, toda esta história termina com Passos fechado numa sala com aqueles que nunca lhe dizem “não”, que não podem dizer “não”. A busca pelo candidato perdido acabou, em cima do prazo definido por Passos Coelho, numa vice-presidente do partido, uma passista sem hesitações ou remorsos e sem histórico de grande interesse pela cidade – é vereadora sem pelouro, mas não há memória de ser uma voz incómoda na oposição a Fernando Medina e acumula faltas nas poucas reuniões onde deveria marcar presença.

O DN conta-lhe hoje o desagrado que a escolha provocou nas estruturas locais do PSD. À boca pequena há ainda alguns incrédulos social-democratas que vão questionan­do se Teresa Leal Coelho é mesmo a candidata do partido à principal autarquia do país. Outros começam já a antecipar o pior dos cenários – uma noite eleitoral que confirme Assunção Cristas e o CDS como segunda força política em Lisboa. Honra seja feita a Passos Coelho, é inabalável mesmo nos erros mais óbvios e, aparenteme­nte, está mesmo a lixar-se para as eleições. Veremos se, depois das autárquica­s, o partido não estará já a lixar-se para ele.

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