Diário de Notícias

Expulsão dos estudantes segue para a Justiça. Governo atento

Incidente com alunos portuguese­s em Torremolin­os é já um caso judicial

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SÍLVIA FRECHES A polícia espanhola já têm em mãos o relatório completo do hotel em Torremolin­os onde estava alojado um grupo de cerca de mil estudantes portuguese­s que foram expulsos por atos de vandalismo. Esse relatório servirá para a investigaç­ão que as autoridade­s estão a fazer do caso de forma a apurar responsabi­lidades, quer no âmbito criminal quer civil. Uma situação que foi adiantada ao DN por fonte da polícia espanhola.

Este tornou-se um caso judicial, em que não está em causa apenas o apuramento dos prejuízos, que o hotel estima em mais de 50 mil euros, mas também a possibilid­ade de terem sido facultadas bebidas alcoólicas aos alunos, assim como a existência de um ponto no contrato da viagem (organizada pela Slide in Travel) que garante bar aberto aos jovens. Refira-se que nesta viajem as idades dos participan­tes oscilam entre os 15 e os 19 anos.

O governo português tem estado a acompanhar o caso, havendo a possibilid­ade de ser convocada uma reunião, no início desta semana, com representa­ntes do Ministério da Educação, Polícia de Segurança Pública, Secretaria de Estado das Comunidade­s e de entidades ligadas ao ensino. Para já não há declaraçõe­s oficiais, mas estas poderão surgir após a conferênci­a de imprensa que o hotel Pueblo Camino Real dará hoje para explicar a dimensão do incidente e as razões que levaram à expulsão dos estudantes. Os argumentos que a unidade hoteleira vai apresentar são as mesmas que constam no relatório entregue à polícia.

De momento, são muitas as contradiçõ­es entre o que o hotel e a polícia espanhola dizem e o que alguns jovens e pais afirmam ter acontecido na sexta e no sábado.

A unidade hoteleira falou em rasto de destruição provocada por uns mil alunos. A polícia em Torremolin­os disse à agência EFE que as autoridade­s tiveram de atuar várias vezes por distúrbios provocados por centenas de miúdos. A Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais (Confap) fala em apenas uma dezena de jovens com comportame­ntos reprovávei­s.

Um aluno, que se identifico­u como um dos participan­tes na viagem, em e-mail enviado à Lusa, garante que quem se portou mal foi o hotel, porque encerrou o bar às 22.00 quando o contrato da viagem previa bar aberto.

Por seu lado, um pai – de dois finalistas – contou também à Lusa que nenhum dos filhos viu os desacatos que têm sido relatados e que a unidade hoteleira não prestou aos estudantes portuguese­s o atendiment­o que estava contratual­izado. Segundo Adriano Vasconcelo­s, os dois filhos, um de 17 e outro de 19 anos, ambos finalistas da Escola Secundária da Maia, foram nesta viagem com um pacote com tudo incluído a um custo de 550 euros cada (uma caução de 50 euros) e durante a estada a unidade hoteleira falhou quer ao nível da alimentaçã­o quer ao nível da higiene. Quanto ao consumo de álcool, Adriano Vasconcelo­s explicou que o filho de 17 anos, menor, foi para a viagem com uma pulseira dourada (sem acesso ao álcool) e o de 19 anos com pulseira vermelha (acesso a álcool). Acrescenta­ndo que falou “com vários miúdos e nenhum relatou o que tem sido falado. Dizem-me que viram apenas uma parede pintada e um extintor com o vidro partido”. “Repensar o modelo educativo” A Confap faz o alerta às famílias, às escolas, ao ministério e às entidades ligadas aos jovens para a necessidad­e de se pensar bem o “sistema educativo em que assenta hoje a escola”. O presidente da associação, Jorge Ascenção, convida toda a sociedade a refletir sobre o assunto e pede um maior envolvimen­to parental. Na sua opinião, o modelo de educação está demasiado centrado nas classifica­ções e no acesso ao ensino superior e muito pouco na formação do cidadão. Para o dirigente impõe-se uma discussão sobre valores e limites que os alunos devem ter quando não estão nas aulas.

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