Diário de Notícias

No RERD, foram recuperado­s 19 milhões de euros de dívidas de IMI. Mas no PERES este imposto perdeu peso e surge nos “outros”

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Os “perdões fiscais” lançados nestes últimos anos têm sido dirigidos a todos os contribuin­tes e a todo o tipo de dívidas fiscais, mas acabam por ser as empresas as que mais aproveitam estes planos especiais de regulariza­ção de impostos. Foi assim em 2013, com o RERD (regime excecional de regulariza­ção de dívidas) e novamente no ano passado, com o PERES (plano especial de redução do endividame­nto ao Estado). Em ambos os casos, o IRC represento­u mais de metade dos valores regulariza­dos. Se se tiver em conta o IVA, o peso ainda é mais significat­ivo.

O PERES rendeu ao Estado 1144 milhões de euros, dos quais 511 milhões entraram nos cofres do Estado ainda em 2016 – valor que inclui as dívidas pagas integralme­nte e a primeira tranche das regulariza­das em prestações. E o imposto que mais contribui para se atingir aquele montante na reta final do ano passado foi o IRC, ao representa­r 355 milhões (ou 63%). Os dados do Ministério das Finanças mostram ainda que a maior fatura (263 mi- lhões de euros) deste IRC em falta encontrava-se já em processo de cobrança coerciva.

Entre as empresas que aproveitar­am o PERES estão algumas de grande dimensão, nomeadamen­te a CGD, a Jerónimo Martins ou ainda a EDP (como o DN/Dinheiro Vivo noticiou em primeira mão).

Recuando a 2013, quando o anterior governo colocou no terreno o RERD, constata-se que o imposto que incide sobre o lucro das empresas correspond­eu a 56% das dívidas então regulariza­das.

O RERD (que apenas aceitava pagamentos integrais e que tiveram de ser realizados em novembro e dezembro de 2013) rendeu na altura 1021 milhões de euros, entre os quais se incluíram 572 milhões de euros de IRC.

No ranking dos impostos que as empresas mais aproveitar­am para regulariza­r através destes planos, o IVA surge em segundo lugar. Em 2013, o fisco recuperou 196 milhões de euros e no ano passado foram 88 milhões de euros. Mas a mesma informação do Ministério das Finanças

O PERES, lançado por Rocha Andrade, permite pagamentos de dívidas fiscais em prestações, desde que o fisco já as conheça permite também verificar que o IVA traduz o caso em que mais con- tribuintes aderiram ao pagamento em prestações. O que significa que ao longo destes próximos meses o Estado irá receber mais cerca de 360 milhões de euros de dívidas geradas pela não entrega deste imposto ou na sequência de reembolsos indevidos.

Entre o RERD e o PERES há, por outro lado, impostos que perderam peso. Foi o que sucedeu com o IRS. Entre novembro e dezembro de 2013, muitos foram os contribuin­tes particular­es que aproveitar­am para limpar o seu cadastro, o que fez que tivessem sido pagos 161 milhões de euros. No ano passado, o PERES resultou em 37 milhões, estando ainda prevista a entrada de mais 75 milhões de euros em prestações. No IMI, a diferença é ainda mais acentuada. Se no RERD este imposto contribuiu com 19 milhões de euros do valor de dívidas então pago, no PERES o imposto municipal sobre os imóveis terá perdido peso, o que justifica que surja na categoria “outros”.

O PERES permitiu “limpar” cerca de 573 mil processos de dívidas fiscais, sucedendo que 60% dos contribuin­tes aderentes decidiu optar pelo pagamento em prestações. O plano desenhado pelo governo previa que a primeira tranche tivesse de correspond­er a 8% do valor em causa, podendo o restante ser pago ao ritmo de pelo menos cem ou 200 euros mensais (para particular­es e empresas, respetivam­ente), até um limite máximo de 150 prestações.

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