O herdeiro da Fiat que quer romper com a tradição
John Elkann. Tinha pouco mais de 30 anos quando herdou uma das maiores fortunas de Itália. Hoje tenta multiplicá-la e corre riscos
Herdar um império de 13 mil milhões de euros não estava nos planos de John Elkann. Os ramos da árvore genealógica da família Agnelli ditavam que era o seu primo, Giovanni, o próximo rei sem coroa da indústria italiana. Mas um cancro raro interrompeu a dinastia. Em 1997, então com 21 anos, John Elkann entrou para a administração da Fiat. Sete anos depois tornou-se vice-presidente da construtora automóvel e em 2011, com 34 anos, foi designado CEO da Exor, o maior grupo industrial de Itália. Hoje, aos 41, é mais conhecido por ser o dono da Juventus, mas a indústria automóvel corre-lhe no sangue e a alta velocidade. A Exor controla a Fiat Chrysler, proprietária de marcas como Fiat, Alfa Romeo, Lancia ou Maserati. E detém ainda 22,9% da Ferrari. À frente do grupo está Sergio Marchionne, que vai deixar o cargo em 2019, com Elkann a garantir nesta semana que “a sucessão será interna”.
No entanto, Elkann está longe de seguir as pisadas do avô, Gianni Agnelli, que nos anos 70 e 80 transformou a Exor no motor da indústria italiana. Naquele tempo o grupo controlava um quarto do capital da bolsa transalpina e as fábricas da Fiat em Turim tinham mais de cem mil funcionários. Hoje estão reduzidos a pouco mais de 30 mil e o plano de negócios de Elkann para a Exor passa pouco por Itália e menos pela indústria.
No verão do ano passado o CEO tomou a decisão histórica de mudar a sede do grupo para a Holanda, algo impensável no tempo de Gianni Agnelli. Mas o que desperta mais dúvidas entre analistas e investidores são as aquisições de Elkann, centradas em setores nos quais o grupo não tem qualquer experiência. Em 2016, a Exor investiu quase seis mil milhões de euros na seguradora norte-americana PartnerRe. Um negócio que aumentou a dívida do grupo para quatro mil milhões de euros.“O John teve uma abordagem muito moderna ao portfólio da empresa. As pessoas afeiçoam-se a certos ativos mas o John acabou com a lealdade ao legado da família”, sublinha David Hierro, chefe de investimentos da Harris Associates, que detém 7,3% da Exor, em declarações ao Financial Times. As agências de rating não partilham a opinião. A Standard and Poor’s desconfia do potencial do negócio, porque a PartnerRe não é uma empresa cotada, fator que “dificulta a venda e a valorização” das empresas.
Pouco convencional foi também a fusão do jornal La Stampa, propriedade da família Agnelli há quase um século, com o rival La Repubblica, que sucedeu à compra, um ano antes, de 43% do grupo de media britânico Economist. Riscos sob crítica As críticas sobre os riscos que correm nos negócios contrastam com os louvores sobre o espírito de união que levou à família Agnelli, onde são raras as disputas. “Acho que ter a família por perto é bom porque não são acionistas fáceis. A maior parte da sua fortuna e da reputação está ligada aos negócios familiares e isso aumenta o grau de responsabilidade e de compromisso. Os investidores institucionais são um maior desafio no curto prazo”, declarou ao Financial Times. Nesta semana anunciou que pretende investir em pequenas e médias empresas italianas, incluindo startups, em regime de parcerias. A mira está nas exportadoras, sublinhou o herdeiro na Exon, apontando como bons negócios a cadeia de restaurantes Eataly, a marca de roupa Moncler e a fabricantes de equipamentos de ginásio Technogym, todas com presença em Portugal.
Em 2016 os lucros da Exor caíram 20%, para 589 milhões de euros. A empresa vai pagar um dividendo de 0,35 euros por ação, o que no mealheiro dos mais de cem membros da família Agnelli significa um prémio de 42 milhões de euros.