Diário de Notícias

USS CARL VINSON A CAMINHO DA PENÍNSULA COREANA

Síria. Embaixador­a norte-americana junto da ONU diz que solução tem de passar pelo afastament­o de Bashar al-Assad. Um pedido que também foi feito pelo líder xiita Moqtada al-Sadr

- ANA MEIRELES

Um centro de comando formado pelas forças da Rússia e do Irão e pelas milícias apoiantes do regime de Bashar al-Assad afirmou ontem que o ataque norte-americano contra a base aérea síria ultrapasso­u “linhas vermelhas” e garantiu que irão responder a qualquer nova agressão, bem como aumentar o apoio ao seu aliado. Uma ameaça que surge depois de Moscovo e Teerão terem criticado o bombardeam­ento ordenado por Donald Trump.

“O que a América fez numa agressão à Síria foi um cruzar de linhas vermelhas. De agora em diante iremos responder com o uso da força a qualquer agressor ou qualquer violação de linhas vermelhas independen­temente de quem seja, e a América conhece a nossa capacidade de responder bem”, refere o comunicado divulgado pelo grupo através do media Ilam al Harbi.

O mesmo documento acrescenta que a presença de militares americanos no Norte da Síria – onde elementos das forças especiais dão apoio às Forças Democrátic­as da Síria – é ilegal, sublinhand­o que Washington tem um plano a longo prazo para ocupar a região. E aproveitar­am para anunciar que vão redobrar o apoio ao exército sírio na sequência do ataque de sexta-feira.

O presidente russo,Vladimir Putin, e o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, falaram ao telefone, tendo acordado que a atuação agressiva dos Estados Unidos contra a Síria não é admissível e viola o direito internacio­nal, anunciou ontem o Kremlin.

Já o líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, afirmou que o ataque norte-americano com 59 mísseis Tomahawk foi “um erro estratégic­o e uma repetição dos erros do passado”, noticiou a agência de notícias estatal iraniana IRNA. “A República Islâmica já mostrou que não recua e a sua população e os oficiais não recuam perante ameaças”, disse ainda Khamenei.

Para o secretário de Estado norte-americano, a inação da Rússia ajudou a desencadea­r o ataque químico da semana passada, pois Moscovo não cumpriu um acordo de 2013 para proteger e destruir armas químicas na Síria. “O falhanço relacionad­o com o recente ataque e com o terrível ataque com armas químicas é em grande medida um falhanço da parte da Rússia no seu compromiss­o com a comunidade internacio­nal”, declarou ontem Rex Tillerson em entrevista à ABC.

Com encontro marcado para quarta-feira em Moscovo com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, Tillerson não acusou a Rússia de estar diretament­e envolvida no planeament­o ou execução do ataque químico, dizendo não ter visto “nenhumas provas” que sugiram que o país foi cúmplice de Assad.

Mas deixou claro que os Estados Unidos esperam que a Rússia adote uma postura mais dura contra a Síria, repensando a sua aliança com Assad, porque “sempre que ocorrer um destes horríveis ataques, a Rússia fica mais próxima de algum nível de responsabi­lidade”.

Discurso diferente tem Nikki Haley, a embaixador­a dos EUA junto da ONU, que afirmou à NBC que a administra­ção Trump irá responsabi­lizar a Rússia pelos ataques do governo sírio contra civis. Numa outra entrevista, à CNN, Haley afirmou ainda que retirar Bashar al-Assad do poder é “inevitável” e uma das prioridade­s da administra­ção Trump.

“Afastar Assad não é a nossa única prioridade. O que estamos a tentar fazer é obviamente derrotar o Estado Islâmico. Segundo, não vemos uma Síria em paz com Assad. Terceiro, retirem a influência iraniana. E então avancem para uma solução política, porque no fim de contas esta é uma situação complicada, não existem respostas fáceis e tem de haver uma solução política.” Evitar banhos de sangue O influente líder xiita iraquiano Moqtada al-Sadr pediu ontem a Assad para “tomar a histórica e heroica decisão” de abandonar o poder, para poupar a Síria a mais derramamen­tos de sangue. Sadr é assim o primeiro líder xiita iraquiano a fazer este pedido ao presidente sírio. Um pedido que vem, porém, acompanhad­o de palavras de elogio a Assad e de condenação aos Estados Unidos pelo ataque do final da semana passada. Na opinião de Moqtada al-Sadr, os ataques norte-americanos vão “arrastar a região para a guerra” e poderão ajudar “à expansão do Estado Islâmico”.

Os governos xiitas do Iraque têm mantido, nestes seis anos de guerra civil, uma boa relação com o regime sírio. Sadr é o único líder xiita iraquiano a manter alguma distância do Irão, um dos grandes aliados de Assad, a par da Rússia. “Penso que seria justo que o presidente Bashar al-Assad oferecesse a sua demissão e se apaixonass­e pela Síria, para poupar-lhe os males da guerra e do terrorismo... e tomar uma decisão histórica e heroica antes que seja tarde demais”, disse Sadr.

Moscovo e Teerão anunciaram que vão redobrar o apoio ao exército fiel ao regime de Bashar al-Assad Líderes da diplomacia dos EUA e da Rússia têm encontro marcado para quarta-feira na capital russa

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 ??  ?? Manifestaç­ões contra o ataque ordenado pelos EUA e a favor do regime sírio continuam, e em vários países, como esta na Tunísia
Manifestaç­ões contra o ataque ordenado pelos EUA e a favor do regime sírio continuam, e em vários países, como esta na Tunísia

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