Diário de Notícias

CRISTÃOS ALVO DE TERROR A 20 DIAS DA VISITA DO PAPA

Coptas. Atentados contra duas igrejas, com três horas de diferença entre si, deixaram quase meia centena de mortos no Domingo de Ramos e foram reivindica­dos pelos terrorista­s do Estado Islâmico durante a tarde de ontem

- PATRÍCIA VIEGAS

“Vi pedaços de corpos e de assentos estraçalha­dos. Havia tanto sangue por todo o lado e algumas pessoas sem metade do corpo. As três primeiras linhas da igreja ficaram totalmente destruídas.” O relato é de Nabil Nader, testemunha do atentado suicida que ontem fez 29 mortos na igreja copta de São Jorge em Tanta, a 94 quilómetro­s do Cairo, citado pelo site da BBC. Entre as vítimas mortais estão quatro polícias que tentaram impedir o bombista de entrar na igreja. Foi nessa altura que se fez explodir. Três horas depois, na igreja copta de São Marcos, em Alexandria, outro bombista suicida matava 18 pessoas. O papa copta Teodoro II tinha estado nessa igreja na parte da manhã, mas saíra do local pouco antes da ocorrência ao ataque. Quase meia centena de mortos e mais de uma centena de feridos num Domingo de Ramos sangrento. Os atentados, reivindica­dos entretanto pelo Estado Islâmico (EI), acontecem a apenas 20 dias da ida do Papa Francisco ao Egito. O líder dos cristãos católicos tem visita marcada ao Cairo para os dias 28 e 29.

Falando ontem na Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco condenou os atentados e manifestou a sua solidaried­ade a Teodoro II. “Ao meu querido irmão Teodoro II, à Igreja Copta e a toda a querida nação egípcia, expresso o meu mais profundo pesar”, declarou o chefe da Igreja Católica. O Papa condenou ainda o atentado de sexta-feira em Estocolmo, na Suécia, que deixou quatro mortos, também ele inspirado na ideologia do EI. A mais importante instituiçã­o do islão sunita, a Mesquita de Al-Azhar, emitiu igualmente um comunicado a condenar o duplo atentado suicida contra os cristãos coptas. “O objetivo cobarde destes atentados é o de desestabil­izar a segurança e a estabilida­de do nosso querido Egito e a unidade do povo egípcio”, lê-se no documento, que fala em “crime repugnante”.

Além dos suicidas que se fizeram explodir nas duas igrejas, foram ainda encontrado­s e desativado­s outros dois artefactos explosivos junto à Mesquita Sidi Abdel Ra- hmin, também na cidade de Tanta, lugar que alberga um importante santuário dos sufis. Estes são outra das minorias perseguida­s pelos grupos jihadistas no Egito. Em reação ao ocorrido, o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, convocou uma reunião de urgência do Conselho de Defesa Nacional para analisar o sucedido. Do Conselho fazem parte o primeiro-ministro, o presidente do Parlamento e os comandante­s das Forças Armadas. Al-Sisi ordenou, entretanto, o reforço da segurança em lugares estratégic­os do país e ordenou ao Exército que apoie a polícia na proteção de “infraestru­turas vitais”.

As mensagens de apoio aos egípcios e de condenação dos atentados chegaram um pouco de todo o mundo. Nos EUA, o presidente Donald Trump escreveu na sua conta de Twitter: “Estou muito triste por saber deste ataque terrorista no Egito. Os EUA condenam. Tenho plena confiança de que o presidente Al-Sisi lidará com a situação da melhor forma.” Trump recebeu Al-Sisi na Casa Branca no passado dia 4. O chefe do Estado egípcio obteve também o apoio do secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, o qual foi o último ministro dos Negócios Estrangeir­os de Hosni Mubarak (ditador derrubado pelos protestos da Primavera Árabe em 2011). Países árabes como Jordânia, Líbano e Arábia Saudita também se solidariza­ram.

Na Europa, a França, país que nos dois últimos anos foi alvo de atentados do Estado Islâmico por diversas vezes, ofereceu todo o apoio ao Egito. “Mais uma vez, o Egito é atingido por terrorista­s que querem destruir sua unidade e diversidad­e. [A França] “mobiliza todas as suas forças em articulaçã­o com as autoridade­s egípcias na luta contra o terrorismo”, disse o presidente François Hollande, numa declaração escrita divulgada pelas agências internacio­nais. Da parte de Portugal, o presidente e o primeiro-ministro também lamentaram o ataque contra a minoria de cristãos coptas do Egito. “Condeno veementeme­nte estes bárbaros ataques bem como todas as manifestaç­ões de intolerânc­ia religiosa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em mensagem divulgada através do site da Presidênci­a. “Em meu nome e do governo português, condeno aqui os ataques no Egito e expresso o nosso profundo pesar pelas vítimas”, escreveu por sua vez António Costa, na sua conta no Twitter.

Donald Trump, François Hollande e Marcelo Rebelo de Sousa entre os presidente­s que manifestar­am apoio a Fatah Al-Sisi

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Peritos selaram interior das igrejas cristãs coptas, onde o cenário era de visível destruição, para recolher provas dos atentados suicidas
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