Diário de Notícias

MANIFESTAN­TES PEGAM FOGO A MINISTÉRIO­S, TEMER CHAMA TROPAS À RUA

Tropas federais reforçaram a Esplanada dos Ministério­s depois de manifestan­tes vandalizar­em e incendiare­m edifícios estatais

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Manifestan­tes e forças policiais envolveram-se em confrontos na Esplanada dos Ministério­s

JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo Depois de manifestan­tes atirarem bombas, atearem fogo e vandalizar­em edifícios estatais na Esplanada dos Ministério­s, sede do poder federal em Brasília, o presidente Michel Temer convocou ao fim da tarde de ontem o Exército para os conter. Os protestos eram contra o presidente da República, investigad­o pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção e outros crimes, e contra as reformas laboral e da Segurança Social, em votação à mesma hora no Congresso.

Temer decretou “a ação de garantia da lei e da ordem”, medida excecional utilizável exclusivam­ente pelo presidente da República “em situações em que se verifique o esgotament­o das forças tradiciona­is de segurança pública” ou “em graves momentos de perturbaçã­o da ordem”, de acordo com a Constituiç­ão brasileira. O decreto foi publicado numa edição extra do Diário da União e revelada em comunicaçã­o ao país pelos ministros da Defesa, Raul Jungmann, e da Segurança Institucio­nal, Sérgio Etchegoyen. É válido por uma semana, ou seja, até ao fim do mês.

O uso desta medida é tão excecional que o juiz do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, quando confrontad­o com a decisão de Temer interrompe­u os trabalhos. “É preocupant­e, espero que não seja verdade”, disse.

Os protestos começaram de forma pacífica ao longo da manhã mas intensific­aram-se durante a tarde com bombas e fogos em pelo menos seis ministério­s – das Finanças, da Cultura, da Agricultur­a, do Turismo, da Saúde e do Planeament­o. Houve destruição de documentos de Estado, vidros partidos, cadeiras e outros móveis retirados dos edifícios, computador­es destruídos e confrontos entre manifestan­tes, a maioria deles mascarados, e agentes de segurança. Depois de esvaziados os ministério­s por ordem do exército, os confrontos continuara­m na estação rodoviária de Brasília e noutros pontos. Há relatos de uma bomba da polícia ter explodido no local em que os manifestan­tes feridos eram atendidos.

No total, 35 mil manifestan­tes estiveram na capital federal, a maioria viajando nos mais de 50 autocarros que saíram de diversos pontos do Brasil. O protesto principal foi contra a votação na Câmara dos Deputados das reformas laboral e da Segurança Social, principal cavalo de batalha do enfraqueci­do executivo de Temer. No plenário também houve trocas de insultos e empurrões entre parlamenta­res.

Os protestos surgem numa altura em que o Brasil vive pelo segundo ano consecutiv­o momento de enorme turbulênci­a política, com pedidos de impeachmen­t de Temer na sequência de uma gravação do empresário Joesley Batista em que o presidente, entre outros crimes, é acusado de comprar o silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado hoje preso na Operação Lava-Jato. Investigad­o pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva, organizaçã­o criminosa, obstrução à justiça e crime de prevaricaç­ão, Temer está por um fio à frente do governo.

Parte da população pede “diretas já” e exige que as votações impopulare­s das reformas da Segurança Social e laboral sejam adiadas. Os aliados do presidente tentam votá-las em paralelo com a crise política, enquanto escolhem o eventual sucessor de Temer em caso de eleições indiretas, isto é, por votação exclusiva dos 594 congressis­tas.

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