Polícia à caça de rede que ajudou a fazer bomba “sofisticada”
Autoridades investigam “rede” que terá ajudado o suicida a perpetrar o ataque que causou 22 mortos, receando que haja cúmplices a fazer outros engenhos. Sete pessoas detidas, incluindo o irmão e o pai de Abedi em Tripoli
As autoridades britânicas acreditam que o autor do atentado suicida de Manchester, no qual 22 pessoas morreram e 64 ficaram feridas, está ligado a uma “rede” e não agiu sozinho. O aumento do nível de alerta – de severo para crítico, o que indica que um novo ataque pode estar iminente – estará relacionado com o facto de a polícia suspeitar que Salman Abedi, de 22 anos, não foi o responsável pelo fabrico da bomba que explodiu à saída do concerto de Ariana Grande e, ainda, do receio de que o seu autor possa estar a preparar mais engenhos explosivos. Cinco pessoas já foram detidas em Manchester e outras duas (o pai e o irmão de Abedi) em Tripoli.
“É uma rede que estamos a investigar”, disse ontem o chefe da polícia da região de Grande Manchester, Ian Hopkins, numa conferência de imprensa. Mais cedo, a ministra do Interior britânica, Amber Rudd, tinha dito que o suicida “provavelmente não agiu sozinho”, lembrando que o ataque “foi mais sofisticado do que outros”. Uma fonte próxima da investigação explicou à Reuters: “A preocupação é que pode haver outras pessoas que o ajudaram a fazer a bomba. Fazer uma bomba requer um certo nível de perícia e competência.” O problema é se esse cúmplice estiver a preparar outros engenhos.
Para fazer face à mais recente ameaça, o Reino Unido elevou o nível de alerta para crítico na terça-feira à noite. Militares foram chamados a reforçar a segurança de vários locais públicos na capital e noutras zonas do país, substituindo os agentes da polícia à porta do Parlamento, do número 10 de Downing Street ou do Palácio de Buckingham. Eventos como o render da guarda, que atrai muitos turistas, foram cancelados, assim como a parada na qual o Chelsea deveria festejar a conquista do título da Premier League.
O ataque de segunda-feira à noite foi o mais mortífero no Reino Unido desde o atentado contra o sistema de transportes londrino, a 7 de julho de 2005, que matou 52 pessoas. Perpetrado por quatro bombistas suicidas, foi também o último ataque em solo britânico com recurso a bombas – desde então, facas ou veículos têm sido a arma de escolha dos terroristas que atacaram o Reino Unido. Isto porque são mais fáceis de encontrar, sendo mais complicado o acesso ao material para o fabrico de bombas.
O The New York Times divulgou ontem fotos do alegado detonador que, segundo as informações do jornal, o suicida levava na mão esquerda, assim como dos restos de uma bateria que foi usada na bomba e da mochila onde o engenho poderá ter sido escondido. Segundo a mesma fonte, o torso superior do bombista foi projetado para fora do círculo de vítimas mortais, o que parece indicar que a bomba estaria precisamente numa mochila e não num colete de explosivos.
Não é claro de onde veio a fuga de informação, tendo mais cedo a ministra do Interior criticado as autoridades norte-americanas por di- vulgarem pormenores da investigação antes de os britânicos estarem preparados para o fazer, especificamente a identidade do suspeito. Investigação Abedi, identificado como o bombista suicida, nasceu em Manchester em 1994 e era filho de líbios que fugiram ao regime de Muammar Kadhafi. Os pais regressaram entretanto à Líbia, onde Abedi, que em 2014 desistiu dos estudos na Universidade de Salford, esteve tam- bém até há pouco tempo. O suspei- to já era conhecido das forças de se- gurança, segundo Rudd.
Um homem de 23 anos, alegadamente Ismail Abedi, irmão mais velho do suicida, continuava ontem a ser interrogado pela polícia, depois de ter sido preso ainda na terça-feira. Hashem Abedi, o irmão mais novo, foi detido ontem em Tripoli por alegadamente estar a preparar um atentado na capital líbia e por suspeitas de ligações ao Estado Islâmico. O grupo terrorista reivindicou o atentado de Manchester. As autoridades dizem que sabia dos planos do irmão. O pai dos três, Ramadan, também foi preso, já depois de ter falado aos media. “Nós não acreditamos em matar inocentes. Nós não somos assim”, disse, citado pela agência Associated Press.
Em Manchester, as autoridades detiveram ontem mais três pessoas, tendo usado uma explosão controlada para entrar numa casa que foi alvo de buscas. Uma quarta pessoa foi presa em Wigan, na região da Grande Manchester. Campanha e concertos Os partidos políticos, que tinham suspenso a campanha eleitoral para as legislativas de 8 de junho, vão retomar hoje as atividades a nível local, voltando à estrada a nível nacional amanhã. “O reinício do debate democrático e da campanha é uma marca essencial da determinação do país em defender a nossa democracia e a unidade que os terroristas querem atacar”, disse o líder do Labour, Jeremy Corbyn, que estava a subir nas sondagens. Ainda não foi feita qualquer pesquisa de opinião após o atentado.
A cantora Ariana Grande confirmou entretanto o cancelamento de todos os concertos pelo menos até 5 de junho – em Lisboa a atuação está prevista para dia 11.