Tirar os plásticos do mar, começando logo no piquenique
Comissão Europeia, Ciência Viva e Departamento de Estado dos EUA juntaram-se para chamar a atenção para o impacto dos microplásticos nos oceanos e na sociedade
Voluntários recolheram plásticos do areal da praia da Mata, na Costa de Caparica, evitando que estes acabem no mar
ANA BELA FERREIRA Por entre os banhistas que aproveitam um dia de verão em maio surge um grupo equipado com Tshirts azuis, camaroeiro e um saco na mão. Vão passando a areia pelos camaroeiros e retirando as minúsculas partículas de plásticos que vão ficando na rede. Perante o espanto e o elogio dos banhistas, o grupo vai limpando a praia da Mata, na Costa de Caparica. Uma iniciativa da Comissão Europeia, da Ciência Viva e do Departamento de Estado dos EUA que visa alertar para o aumento dos plásticos nos oceanos.
“Mais de 80% do lixo marinho é plástico”, aponta a investigadora Filipa Bessa, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Universidade de Coimbra. Estes plásticos acabam por se degradar e ficar com menos de cinco milímetros – são os microplásticos –, que depois são ingeridos pelos peixes, absorvidos pelo sal marinho e acabam por entrar na própria cadeia alimentar dos seres humanos.
Apesar de os impactos na saúde humana ainda não serem conhecidos, os especialistas concordam que estes não podem ser positivos. Pelo menos já não estão a ser para a saúde dos oceanos, como ontem foi sublinhado em diversas ocasiões durante um evento que começou com a inauguração da exposição Um Oceano sem Plástico, no Pavilhão do Conhecimento, passou pela recolha de microplásticos e acabou num piquenique sustentável, na praia da Mata, na Caparica.
Ainda há poucas semanas foi notícia que estávamos a temperar a comida com microplásticos do sal. E se olharmos para os areais nacionais percebemos que muito do plástico aqui abandonado acaba por chegar ao mar. “As praias têm muito lixo mesmo e no mar nota-se ainda mais. Faço surf e vejo que o mar está cada vez mais poluído”, reconhece Teresa Castro, que ontem aproveitou o bom tempo para ir até à praia. Ficou surpreendida com a ação de limpeza, embora admita que “não resolve o problema, mas pelo menos chama a atenção”.
Na opinião da instrutora de fitness, “as pessoas não têm a noção do impacto de deixar lixo na areia ou então estão apenas despreocupadas”. Já antes, durante o debate que se seguiu à exposição, Tiago Pitta e Cunha, presidente da Comissão Executiva da Fundação Oceano Azul, tinha sublinhado a demora da sociedade em perceber a poluição dos oceanos. “Falta a humanização do problema, as pessoas não percebem que o oceano tem impacto no nosso habitat e pensam que se trata apenas do habitat dos peixes.”
Para o diretor-geral de Política