Diário de Notícias

Produtores e industriai­s apostam na diversific­ação de culturas e na melhoria da produtivid­ade para combater baixa de preços

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“Nos últimos quinze anos viveu-se uma revolução industrial no setor do tomate”, considera o CEO do Sugal Group, referindo-se a um processo de concentraç­ão e melhoria de eficiência, que colocou o setor no topo dos exportador­es. “Investimos em equipament­o, tornámo-nos mais eficientes, reduzimos mão-de-obra e conseguimo­s economias de escala”, explicou.

O setor deixou de ser representa­do por 30 fábricas para se concentrar em apenas cinco, com uma capacidade inequivoca­mente maior, lembrou aquele gestor. Ainda há poucos anos, os produtores portuguese­s conseguira­m ser recordista­s na produtivid­ade por hectare, alcançando as 85/90 toneladas em relação aos Estados Unidos, quando estes tinham 70. Mas, nos últimos anos, a Califórnia deu um salto espantoso e melhorou a sua produtivid­ade das 70 para as 120 toneladas por hectare.

Miguel Gonçalves, presidente da Alentejani­ces com Tomate, destaca também o “grande trabalho” realizado pelos produtores, que foram capazes de passar de uma produtivid­ade de 45 toneladas em 1994 para cem toneladas por hectare em 2015.

Na confrontaç­ão com desempenho­s de outras regiões do globo, Miguel Gonçalves observa que “embora seja possível ainda obter alguns ganhos de produtivid­ade, nomeadamen­te pelo estudo das variedades e adaptação aos solos, há limites que nos são impostos pelas caracterís­ticas dos nossos terrenos e suas extensões”.

Neste campo, a agricultur­a da Andaluzia, por exemplo, ganha na comparação, com uma produtivi- dade superior em dez ou 15 toneladas.

“Mas não são os agricultor­es espanhóis que são melhores que os portuguese­s, temos é uma conjugação de clima e de terrenos mais extensos entre Sevilha e Cádis que permitem fazer uma maior rotativida­de dos solos, a cada 3/4 anos, e alcançar uma produtivid­ade maior”, sublinhou o diretor-geral da Algosur Pinzón, SA, Juan García González. Por outro lado, lembrou, é terra própria, que não é arrendada, o que também interfere para a redução dos custos de produção.

Referindo-se à questão da rentabilid­ade, aquele empresário distinguiu duas situações. “Na Andaluzia, o agricultor de tomate não tem problemas de rentabilid­ade, pelo contrário, é uma cultura muito rentável; já na Extremadur­a, onde se concentra 60% a 70% desta cultura, onde há mais gastos com a terra arrendada e menos rotação de solos, a rentabilid­ade é baixa, podendo mesmo o agricultor perder dinheiro”, disse.

Os industriai­s consideram que o preço que está a ser pago atualmente à produção, em torno dos 70 euros por tonelada, ou um pouco menos, é neste momento alto para compensar a quebra de preços no mercado mundial.

Juan García González considera mesmo que “aos agricultor­es nãoo tem necessaria­mente de se lhe pagar mais, eles têm é de ganhar mais,o que se faz por via da redução de custos”.

Com o diagnóstic­o feito – sem perspetiva­s de inversão no curto prazo – o setor apoia-se na diversific­ação de culturas. É o caso das três organizaçõ­es representa­das na iniciativa do Banco Popular e do Global Media Group. Mas, como lembram os empresário­s, nem tudo são rosas na estratégia de diversific­ação, havendo culturas que carecem de outras exigências.

O Sugal Group é um exemplo. Depois de internacio­nalizar, com exploraçõe­s em Espanha, rumou ao Chile para aí instalar duas fábricas de fruta, destinadas a fazer polpa de fruta, que vende um pouco para todo o mundo. “A fruta tem a necessidad­e de mão-de-obra, para a sua apanha, o que não existe no tomate”, lembrou Miguel Cruz.

Também a Alentejani­ces com Tomate acaba de obter o reconhecim­ento para a produção de frutos secos como amêndoa, noz e pistácio, e está em vias de obter para bróculos, no âmbito de uma estratégia destinada a proporcion­ar aos seus sócios melhores rentabilid­ades.

Do outro lado da fronteira não é diferente. A Algosur Pinzón está justamente a dedicar-se ao cultivo de algodão, segundo indicou o seu diretor-geral. Juan García González considera que esta cultura está a ser interessan­te e tem perspetiva­s, se bem que ainda represente pouco na estrutura total.

Também o diretor do negócio agroalimen­tar do Banco Popular, Miguel Guerra Veléz, coincide em destacar a tendência de diversific­ação entre os produtores da Andaluzia. “Segundo a nossa experiênci­a, a agricultur­a não tem porblemas de rentabilid­ade, é até muito rentável. Entre os nossos clientes há uma tendência de evitar a monocultur­a, vai rodando”, disse aquele responsáve­l do Banco Popular.

O centro de competênci­as de apoio à indústria, criado há cerca de dois anos, é uma esperança para o setor, no sentido de melhorar a produtivid­ade. Como explicou Miguel Cruz, “os projetos ligados à investigaç­ão & desenvolvi­mento são de longo, médio prazo”. Miguel Cruz disse acreditar ser possível chegar a um dos objetivos propostos, que é o de atingir 98% da produtivid­ade norte-americana.

Para isso defendeu também uma maior concertaçã­o entre associaçõe­s de produtores e de industriai­s em torno de uma estratégia conjunta para o tomate. Até aqui isso só tem acontecido de forma pontual para resolver questões no curto prazo. “Falta a estratégia de longo prazo. Para podermos ser competitiv­os é preciso fazer um trabalho sério e profundo.”

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