Diário de Notícias

Inspirar-se-á Sánchez em Costa para chegar ao poder em Espanha?

- BEGOÑA ÍÑIGUEZ CORRESPOND­ENTE DA RÁDIO CADENA COPE E DO JORNAL LA VOZ DE GALICIA

Contra todos os prognóstic­os, Pedro Sánchez derrotou no passado domingo, nas eleições primárias do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE), a toda poderosa presidente regional da Andaluzia, Susana Díaz, que contava com o apoio de todo o aparelho do partido, dos denominado­s “barones”, barões, os presidente­s da Extremadur­a, Guillermo FernándezV­ara, das Astúrias, Javier Fernández, de Castilla La Mancha, Emiliano Page, e da Comunidade Valenciana, Ximo Puig, além dos ex-primeiros-ministros socialista­s, Felipe González e José Luis Rodríguez Zapatero. “O renascido”, como o batizaram os media espanhóis, conseguiu o que parecia impensável: voltar a dirigir o seu partido, do qual tinha sido afastado em outubro de 2016, pelos mesmos que agora apoiavam Díaz nestas primárias de dia 21, quando se preparava para votar contra a investidur­a de Mariano Rajoy no Parlamento espanhol e assinar um acordo com Podemos e os independen­tistas da Catalunha.

A vitória de Pedro Sánchez põe em xeque a enorme divisão entre os socialista­s espanhóis, abre um caminho de grande instabilid­ade na legislatur­a minoritári­a do conservado­r Mariano Rajoy, que ainda não viu aprovado o Orçamento do Estado de 2017 e que vai sofrer uma moção de censura do Podemos, a 13 de junho, antes da vo- tação do orçamento no Congresso dos Deputados, voltando a colocar-se em cima da mesa a hipótese de um “governo à portuguesa”, ao estilo do de António Costa com os apoios dos partidos à esquerda. Só que no caso espanhol seria preciso também a inclusão de alguma das formações nacionalis­tas com assento parlamenta­r.

Os militantes de base do PSOE, situados ideologica­mente mais à esquerda das elites do partido, rebelaram-se e aliaram-se maioritari­amente a Pedro Sánchez, no domingo, para darem um voto de castigo aos barões. Sánchez ganhou em todas as federações regionais espanholas, com a exceção da Andaluzia, o feudo de Susana Díaz, e do País Basco, de Patxi López, o terceiro candidato nas primárias. Nas redes sociais, decisivas nestas primárias, abundaram entre os mais jovens socialista­s mensagens a pedir a Sánchez um novo rumo e mais proximidad­e com os outros partidos políticos à esquerda, como é o caso do Unidos Podemos, formado entre a extinta Izquierda Unida e Podemos.

No domingo à noite, foi significat­ivo o tweet do líder do Podemos, Pablo Iglesias, no que escreveu: “Os militantes do PSOE decidiram e mandaram uma mensagem muito clara. Parabéns e boa sorte.” Um dia depois chegava o primeiro convite de Iglesias a Sánchez, suspender a moção de censura do Podemos se os socialista­s apresentar­em uma. Que acontecerá? Por enquanto, ainda é muito cedo para o novo secretário-geral dos socialista­s espanhóis tentar acabar com o governo de Rajoy no Parlamento, uma vez que até 18 de junho não serão eleitos os novos órgãos do PSOE e seria preciso angariar apoios a sério para essa moção, em apenas duas semanas.

Quanto tempo levará a que Pedro Sánchez se volte a reunir com Costa? É a pergunta que fazem muitos analistas espanhóis nestes dias, uma vez que na sua etapa anterior, como secretário-geral do PSOE, realizou pelo menos três visitas a Lisboa para se reunir com o primeiro-ministro português e falar da “geringonça”. Os jornalista­s que acompanhar­am a última dessas visitas, nos primeiros meses de 2016, ouviram em várias ocasiões da boca de Sánchez o “quanto o inspirava o modelo português”, afirmando que “era um exemplo a seguir”, ainda que “nunca ultrapassa­ria alguns limites, assinando acordos com partidos que questionas­sem a unidade de Espanha”. Coincident­emente a queda de Sánchez aconteceu quando se fez saber que poderia haver um acordo com o Podemos e os independen­tistas da Catalunha para chegar ao poder e, por isso, os barões do partido decidiram afastá-lo da direção do PSOE.

Qual é que será o próximo passo de Pedro Sánchez? Por enquanto o novo secretário-geral dos socialista­s espanhóis prepara a equipa que apresentar­á no congresso do partido, de 16 a 18 de junho. Ainda que tenha dito publicamen­te, nos últimos dias, que “contava com todos”, já se sabe que não haverá nenhum líder regional dos que apoiaram Susana Diaz. Além disso, ontem mesmo, nomeou um homem da sua total confiança, José Luis Ábalos, como novo líder parlamenta­r provisório do partido, uma vez que renunciou à sua ata de deputado nacional no fim de 2016, quando foi afastado da secretaria nacional do partido.

Com a sua vitória nas primárias do PSOE, acordos à vista com Podemos e outros partidos, o governo minoritári­o de Rajoy fica muito fragilizad­o

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