Conflito entre o Qatar e os países vizinhos no golfo Pérsico pode dificultar ainda mais a vida dos habitantes de Gaza
JOSÉ FIALHO GOUVEIA “A vida só é agradável para os líderes do Hamas.” O autor da frase, publicada no Facebook, foi preso. “Pobreza, desemprego e desespero abundam na Faixa de Gaza.” Este é o balanço que a agência AP faz de uma década de domínio do Hamas naquela parte dos territórios palestinianos. E, incapaz de encontrar uma solução para os problemas, o grupo islâmico opta por oprimir ainda mais a população.
Cumpre-se hoje uma década desde que, em junho de 2007, a batalha entre o Hamas e a Fatah do presidente palestiniano Mahmoud Abbas terminou com a subjugação de Gaza aos islamitas. Dez anos volvidos, o pequeno território entalado entre Israel, Egito e Mediterrâneo continua a ser uma ferida a céu aberto no Médio Oriente.
Desde 2007, o Hamas e Israel já passaram por três situações de guerra aberta, primeiro no inverno de 2008-2009, depois em 2012 e mais recentemente em 2014. Todas essas situações de conflito armado contribuíram para agravar ainda mais as condições de vida no território, destruir ainda mais infraestruturas e dificultar qualquer possibilidade de reaproximação no sentido da paz.
Segundo a AP, as sondagens mostram que metade da população, que ronda os dois milhões, abandonaria o território caso tivesse essa possibilidade. Ainda assim, o movimento islamita e fundamentalista conta com o apoio de cerca de um terço dos habitantes. As perspetivas para o futuro próximo não são boas. Por um lado, o Hamas, que se recusa a reconhecer Israel, continua a ser visto no Ocidente como um grupo terrorista radical. Por outro, a Fatah de Mahmoud Abbas – “farta de esforços de reconciliação falhados”, como escreve a AP – vai colocando cada vez mais pressão sobre os líderes rivais e ameaça apertar ainda mais o bloqueio financeiro e comercial. Por fim, o Qatar, um dos poucos amigos do Hamas na região, encontra-se cada vez mais isolado e de costas voltadas para os vizinhos.
O embargo e a pressão que a Arábia Saudita, o Egito e os Emirados Árabes Unidos – entre outros estados do Golfo Pérsico – impuseram ao Qatar nas últimas semanas arrisca tornar-se uma bomba-relógio para Gaza. Pressionado pelos vizinhos, o Qatar – para mostrar que não dá assistência a organizações consideradas terroristas – pode ver-se tentado a cortar o apoio financeiro e político ao Hamas. Apenas desde 2012, o Qatar diz ter auxiliado o Hamas com 1,5 mil milhões de dólares destinados à construção de estradas, prédios, escolas e clínicas médicas. Sem essa torneira e com a Autoridade Palestiniana a cortar também nos subsídios e nos pagamentos, os habitantes de Gaza podem
FAIXA DE GAZA