Seduzir Ronaldo numa cidade com vigilância máxima
Seleção. Presidente da Câmara de Kazan mandou fazer graffito para receber CR7. Cidade está debaixo de fortes medidas de segurança
Cristiano Ronaldo é a maior estrela do futebol até na província russa do Tartaristão, cuja capital Kazan é, desde ontem e até segunda-feira, a casa da seleção campeã da Europa, que vai defender o seu estatuto na Taça das Confederações, no domingo (16.00), frente ao México.
E qual a melhor forma de dar as boas-vindas à seleção portuguesa e sobretudo ao seu elemento mais ilustre? Ilsur Metshin, que acumula os cargos de presidente do município e do clube da cidade, o Rubin Kazan, não fez por menos: pediu a graffiters locais que utilizassem um prédio nas traseiras do Hotel Ramada, onde está instalada a equipa portuguesa, e o pintassem com uma imagem de CR7. Num ápice, a obra nasceu. “Está pronto há dois dias”, revelou ao DN uma funcionária do hotel, onde a seleção tem um piso exclusivo, com áreas de alimentação e lazer.
O colorido graffito mostra Ronaldo a piscar o olho esquerdo e poderá ser apreciado pelo próprio nesta manhã, ao acordar, através da janela do seu quarto. Assim que a imagem começou a correr ontem nas redes sociais, o local tornou-se um dos maiores pontos de interesse de Kazan, sobretudo de jornalistas. As primeiras equipas de reportagem tiveram sorte e puderam ver a obra com os próprios olhos, mas a grande afluência levou o proprietário do local, visivelmente irritado, a fechar o portão com um cadeado.
A verdade é que os habitantes de Kazan estão pouco habituados a tanta azáfama na cidade, apesar de parecerem entusiasmados com a presença de algumas estrelas do futebol mundial, especialmente uma, cujo nome pronunciam de forma curiosa: “Ranalda.” Tudo passado a pente fino... A Taça das Confederações é uma espécie de ensaio geral para o Campeonato do Mundo que a Rússia vai acolher no próximo ano. Dois eventos que estão a merecer o empenho de todos para que nada falhe, sobretudo no que diz respeito à segurança. Nada nem ninguém entra no país sem que as autoridades passem tudo a pente fino, com especial incidência nos componentes eletrónicos, como computadores, telemóveis ou tablets. Logo no aeroporto, os passageiros só passam o controlo alfandegário depois de ligarem os respetivos aparelhos eletrónicos e nem os futebolistas das várias comitivas nacionais que vão chegando escapam ao rastreio de bagagens.
Este procedimento foi alargado às entradas dos estádios e de todas as instalações de apoio à Taça das Confederações, bem como aos hotéis recomendados pela FIFA, cujas portas de acesso têm instaladas máquinas de raio X. Tudo é controlado. A prevenção de ataques terroristas é uma prioridade, afinal a Rússia é um país que tem sofrido vários atentados e está por isso de prevenção devido sobretudo ao terrorismo islamita com origem ou não na Chechénia e no Norte do Cáucaso. O seu envolvimento na Síria também obriga a precauções em relação ao Estado Islâmico. E, nesse sentido, a Taça das Confederações e o Mundial 2018 são um ponto de honra para a administração de Vladimir Putin, que pretende demonstrar ao mundo que a Rússia está preparada para receber os grandes eventos mundiais, ainda mais depois de o processo de atribuição da organização do Campeonato do Mundo ter estado envolto em escândalos de corrupção que levaram à queda de Joseph Blatter da presidência da FIFA.
Nas ruas de Kazan a presença de forças de segurança é intensa, sobretudo nas principais vias e na zona histórica. Isto para além da moderna e vistosa Arena Kazan, palco do Portugal-México de domingo, onde ontem ainda se colocavam os últimos placards de informações, mas onde centenas de polícias patrulhavam no exterior do recinto. Aliás, nenhum veículo entra no estádio sem ser pormenorizadamente revistado. Em russo nos entendemos A oito quilómetros do hotel onde está instalada a seleção portuguesa fica o centro de treinos do Rubin Kazan, o que obrigará a equipa das quinas a uma viagem de 20 minutos para ir treinar. Ontem era
dia de cortar a relva... dos jardins do complexo, onde funciona a academia de futebol do clube. Duas barreiras de segurança foram entretanto montadas, pelo que será impossível entrar sem autorização.
Aliás, o forte contingente policial foi uma barreira dissuasora para a reportagem do DN logo à entrada do centro de treinos. E tudo fica mais complicado por ser uma raridade encontrar alguém que fale outro idioma que não... o russo. Um dos cinco polícias que ontem se encontravam na entrada principal do complexo ainda tentou estabelecer comunicação de forma inovadora: falava em russo para o seu smartphone, que traduzia para inglês, por escrito, aquilo que pretendia dizer. “É melhor voltarem amanhã”, dizia. Pouco depois chegou um responsável que, em inglês, lá nos explicou que só é permitida a entrada quando a seleção ali estiver a treinar. Depois foi questionado sobre se já estava tudo pronto para receber os campeões da Europa. “Of course!” (“claro que sim!”), atirou, parecendo até ter ficado ofendido com a pergunta.
A língua é, em Kazan, uma grande barreira com que se terão de debater os adeptos das seleções que vão estar presentes nesta Taça das Confederações e, dentro de um ano, no Mundial. No entanto, apesar de alguma timidez, a teoria do desenrascanço, bem típica dos portugueses, parece estar a fazer escola na capital do Tartaristão.