Trump ameaça destruir totalmente Coreia do Norte
Declaração do presidente dos EUA causou onda de murmúrios na Assembleia Geral e foi alvo de críticas. Uma delas veio de Emmanuel Macron, que continua a apostar na via do diálogo
ANA MEIRELES Donald Trump usou ontem o palco da Assembleia Geral das Nações Unidas para fazer o seu ataque mais direto ao regime norte-coreano ao ameaçar “destruir totalmente” a Coreia do Norte a menos que Pyongyang suspenda os seus testes nucleares, dizendo que Kim Jong-un é um “rocket man” (homem-foguetão, em português) numa missão suicida.
“Os Estados Unidos têm grande força e paciência, mas, se forem forçados a defenderem-se ou aos seus aliados, não teremos outra escolha senão destruir totalmente a Coreia do Norte”, declarou o presidente norte-americano. Uma declaração que desencadeou uma onda de murmúrios na sala da Assembleia Geral das Nações Unidas. Uma das expressões mais reprovadoras teve como protagonista a ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Margot Wallstrom, que mais tarde disse à BBC: “Foi o discurso errado, na altura errada, para a audiência errada.”
Segundo a Newsweek, a delegação da Coreia do Norte – que estava a assistir ao discurso mesmo na primeira fila (conforme ditou o sorteio de lugares feito pelas Nações Unidas) – tinha abandonado a sala pouco antes de Trump falar na destruição total do país.
Para Donald Trump, a Coreia do Norte e o seu programa nuclear “ameaçam o mundo com uma perda de vidas impensável”, chamando ao regime de Kim Jong-un um “bando de criminosos”. “O rocket man está numa missão suicida”, prosseguiu, referindo-se ao líder norte-coreano.
Cabe às Nações Unidas, sublinhou Trump, evitar que tal cenário de destruição e conflito aconteça. “Os Estados Unidos estão prontos, dispostos e capazes, mas espero que tal não seja necessário”, referiu. “É para isso que as Nações Unidas servem. Vamos ver o que fazem.”
O presidente dos Estados Unidos agradeceu a China e Rússia pelo recente apoio à aplicação de novas sanções à Coreia do Norte pelas Nações Unidas, mas não deixou passar em branco o facto de ambos manterem relações comerciais com Pyongyang. “É ultrajante que alguns países não façam apenas trocas comerciais com tal regime, mas também armem, abasteçam e apoiem financeiramente um país que põe o mundo em risco.”
Nos 41 minutos de duração do seu discurso de estreia nas Nações Unidas, Donald Trump também falou nas ambições nucleares do Irão, ao qual chamou “Estado pária economicamente esgotado”. Sobre o acordo nuclear com Teerão assinado em 2015 por Barack Obama, ao qual chamou ontem de “embaraço” e que terá de ser certificado de novo pela Casa Branca até meados de outubro, deixou antever que poderá não fazê-lo. “É tempo de o mundo se juntar a nós para exigir que o governo do Irão termine a sua senda de morte e destruição”, apelou.
“Se os Estados Unidos não respeitarem os seus compromissos e deixarem este acordo terão de arcar com a subsequente falta de confiança dos países”, respondeu, em declarações à NBC, o presidente iraniano, Hassan Rouhani.
Uma palavra ainda para Nicolás Maduro, tendo Trump avisado que os Estados Unidos estão “preparados para tomar novas medidas se o governo da Venezuela persistir no seu caminho de impor o autoritarismo ao povo venezuelano”. Caracas não tardou a responder, criticando a “obsessão fatal” de Trump com a Venezuela, “resultado das suas ideias supremacistas brancas”. Estreia anti-Trump O outro estreante do dia foi Emmanuel Macron e o seu discurso foi apelidado pelo jornal Le Monde de “anti-Trump”. Um desses pontos de antagonismo foi o Acordo de Paris para as alterações climáticas, assinado por 195 países em dezembro de 2015 e abandonado pelos Estados Unidos em junho, com o presidente francês a garantir que o texto “não será renegociado”. “Não cederei nada face aos equilíbrios conseguidos no Acordo de Paris”, garantiu.
Macron sublinhou “respeitar a decisão dos Estados Unidos”, dizendo que “a porta estará sempre aberta, mas nós continuaremos com todos os governos a implementar o Acordo de Paris”.
No que diz respeito ao acordo nuclear com o Irão – que Trump horas antes tinha criticado e dado a entender que iria abandonar –, Macron defendeu que tal abandono, “sem propor uma alternativa, seria um grave erro”. “Pela minha parte, espero que possamos concluir este acordo com um trabalho que nos permitirá enquadrar a situação após 2025, que não está coberto pelo acordo”, referiu.
Negociações sobre a Coreia do Norte é algo que Macron não rejeita. “Não fecharemos a porta a qualquer espécie de diálogo.”
Delegação da Coreia do Norte estava na primeira fila, mas abandonou a sala antes de ouvir a ameaça feita pelo presidente dos Estados Unidos