Diário de Notícias

REORGANIZA­ÇÃO GOVERNO PROMETEU MAIS 600 POLÍCIAS NA RUA E NÃO CHEGOU A METADE

Ideia era fechar bares e messes ou dar a sua exploração a empresas para transferir os agentes ali destacados para outras funções operaciona­is. Dos 600 previstos, só 147 GNR e 137 PSP foram considerad­os aptos para recolocaçã­o.

- VALENTINA MARCELINO

Apenas 284 polícias – 137 da PSP e 147 da GNR –, dos 600 prometidos pela ministra da Administra­ção Interna, vão ser transferid­os das messes e dos bares destas forças de segurança para funções operaciona­is. Os sindicatos ainda duvidam que o número seja tão elevado, apostando que serão casos “pontuais” em condições de fazer patrulhas. O prazo para este processo devia ter terminado no início deste mês.

Constança Urbano de Sousa tinha avançado, no final de 2016, que até ao final do primeiro trimestre de 2017 cerca de 600 elementos das duas maiores forças de segurança iriam deixar de trabalhar nos refeitório­s e integrar os serviços policiais operaciona­is. “Estamos a ultimar um plano de externaliz­ação de todas as messes e refeitório­s precisamen­te para colocar mais polícias na rua e não os ocupar com missões para as quais não foram treinados e que não têm que ver com a sua missão principal, que é serem polícias”, explicou. Este medida implicaria, adiantou, que estas instalaçõe­s fossem concession­adas a empresas privadas.

Segundo dados avançados, nessa altura, ao DN, existem 71 messes na GNR e 57 na PSP, num total de 128 cantinas policiais. A mesma fonte explicou que o plano já traçado implicava transferir os elementos policiais com 50 anos ou mais das cantinas para as esquadras para fazerem trabalho de secretaria. Estes substituir­ão alguns mais novos que fazem esses serviços e que passarão a ir para a parte operaciona­l.

Quanto à “minoria” de agentes e militares mais novos que estão nas messes, o ministério pretendia que recebessem formação para irem para o serviço operaciona­l. Estava prevista uma formação de reciclagem de conhecimen­tos, entre outros, sobre inserção de dados estatístic­os nas bases de dados (denúncias de crimes, acidentes, etc.), informação atualizada sobre a lei das armas e como utilizar uma arma em perseguiçã­o.

Mas logo em março, no final do primeiro trimestre, o prazo que tinha apontado, a ministra reconheceu que até essa data apenas tinham sido libertados 59 elementos da PSP e da GNR. Em resposta ao deputado Telmo Correia, do CDS, Constança Urbano de Sousa garantiu que “até ao final de abril” o processo estaria “concluído”, lembrando que esta matéria era uma “ambição antiga” e “nunca foi conseguida”. Mas em abril voltou a “derrapar” o prazo, desta vez questionad­a por Marques Guedes, do PSD, que apresentou esta medida como um dos fracassos do seu ministério e admitiu: “Não consegui. Respondo com a verdade.”

No entanto, apesar dos esforços da GNR e da PSP, não foi possível atingir ainda a ambiciosa meta de ganhar mais 600 operaciona­is para reforçar os patrulhame­ntos de rua.

O porta-voz oficial da PSP adianta que a 1 de setembro foram libertados “para funções operaciona­is e de apoio operaciona­l 137 polícias, mantendo-se apenas 84 polícias afetos a estas atividades na Unidade Especial de Polícia, Escola Prática da Polícia e Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, dos quais sete passam à situação de pré-aposentaçã­o até ao final de 2017”.

Novo objetivo: 532 elementos Na GNR, foram colocados até agora 74 militares em funções operaciona­is, de um total de 147 considerad­os aptos. Ao todo, a Guarda tinha 332 militares colocados em messes e bares. De acordo ainda com dados enviados ao DN, a GNR assinala que “já concluiu o processo de externaliz­ação de 11 messes e 24 bares, encontrand­o-se a decorrer mais 12 procedimen­tos para messes”.

Com conhecimen­to destes números, César Nogueira, presidente da Associação de Profission­ais da Guarda, desconfia: “A grande maioria destes profission­ais está há muitos anos nas cozinhas, a servir refeições, muitos há mais de 20 anos, e não têm conhecimen­tos nem experiênci­a para irem fazer patrulhas.” Quanto à prometida “formação”, alega que não tem conhecimen­to de que esteja a ser feita. “Ainda recentemen­te fui informado de que um homem, que era cozinheiro há mais de 20 anos, foi colocado num posto e foi-lhe dada uma arma, sem que ele tivesse tido qualquer nova formação”, assinala.

Paulo Rodrigues, da Associação Sindical, está igualmente pessimista. “Fechar bares e messes para ir buscar mais operaciona­is não só não resolve um problema de fundo, que é a falta gritante de efetivo, como ainda traz outros problemas, pois não acreditamo­s que as empresas possam garantir a flexibilid­ade de horários que se exigem nestes serviços ou mesmo a qualidade de comida pelo preço que pagamos agora [quatro euros], que equivale ao nosso subsídio de refeição.” Este dirigente sindical diz que serão “casos muito pontuais” as pessoas que vão poder ir para serviços operaciona­is. Por outro lado, a ideia da ministra de que alguns podem ir substituir outros mais novos em serviços administra­tivos e estes, por sua vez, irem para as patrulhas também não convence Paulo Rodrigues. “São raros também esses casos”, afirma, assinaland­o que “a única forma mesmo de reforçar o efetivo é um recrutamen­to de, pelo menos, mais 800 novos agentes, não apenas os 400 que a senhora ministra tem avançado”.

Em resposta ao pedido do DN para fazer um balanço desta medida e comentar a diferença de números, o gabinete da titular da pasta de segurança interna diz que “o processo de externaliz­ação das messes e bares das forças de segurança está a ser implementa­do de forma progressiv­a, estando em curso vários concursos para o efeito. Em algumas situações a externaliz­ação já foi concluída e os respetivos efetivos policiais libertados para outras atividades. Noutras, o processo ainda não está concluído”. Em vez dos 600, indica agora 532 elementos a reafetar.

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